domingo, 17 de fevereiro de 2019

MINHA FAMA DE MAU

Antonio Carlos Egypto





MINHA FAMA DE MAU.  Brasil, 2017.  Direção: Lui Farias.  Com Chay Suede, Gabriel Leone, Malu Rodrigues, Bruno Luca, Bianca Comparato.  116 min.


Erasmo Carlos, roqueiro e romântico, cantor e compositor, foi um dos pilares da Jovem Guarda, um megasucesso televisivo dos anos 1960, que se tornou um movimento de música jovem brasileira, sempre relembrado desde então.  Roberto Carlos, o amigo e parceiro de Erasmo, manteve-se em alta sempre, mudando estilo, prioridades e público.  Wanderléa, o terceiro pilar da Jovem Guarda, e Erasmo Carlos não conseguiram o mesmo resultado, mas são lembrados por seu pioneirismo que conseguiu incorporar o  rock, então nascente, à música brasileira, compondo, vertendo e cantando em português (antes deles houve Celly Campello).  Eles comandaram um time de artistas jovens, que se tornaram ídolos da brotolândia, como se dizia na época.

Erasmo manteve uma carreira mais discreta como cantor, ao longo do tempo, mas dividindo com Roberto a grande maioria das composições que este lançava ao sucesso.  Como acontece até hoje.

“Minha Fama de Mau”, o filme de Lui Farias, é uma adaptação do livro escrito por Erasmo Carlos, contando parte de sua vida e carreira, da juventude pobre na Tijuca, vivendo em casa de cômodos, o popular cortiço, ao sucesso retumbante da Jovem Guarda e o posterior declínio.  Passa pelo tempo do conjunto The Snakes  e pelo conhecimento de Tião, depois Tim Maia, que lhe ensinou três acordes no violão, que lhe valeram muito, e também pelo período de afastamento de Roberto Carlos e a retomada da amizade e da parceria.

Lá estão as muitas mulheres que passaram pela vida dele, inclusive a esposa Narinha.  O filme optou por escolher uma única atriz para representar todas elas, Bianca Comparato.  Uma opção interessante que, na prática, nivela as parceiras amorosas e sexuais por baixo.  Todas valem pouco, pelo menos, até o aparecimento de Narinha.  É o que deve ter sido captado pelos roteiristas Lui Farias, L. G. Bayão e Letícia Mey, do texto original, suponho.

O filme é contado na primeira pessoa, é a visão de Erasmo Carlos sobre sua vida e carreira.  O personagem chega a falar diretamente para a câmera, ou seja, contar para o público o que se passava ou o que era sentido por ele.




O ator protagonista é Chay Suede, que não se parece fisicamente com Erasmo, mas convence pela entrega ao papel e porque canta bem as canções que marcaram o Tremendão.  Gabriel Leone, que faz Roberto, e Malu Rodrigues, que faz Wanderléa, também cantam bem e compõem um bom elenco, assim como Bruno Luca, que faz Carlos Imperial, o empresário pilantra e pretensioso que, de qualquer modo, abriu muitas portas para Erasmo.

O filme tem uma boa caracterização de época, incluindo signos muito claros da Jovem Guarda, como ambientes, vestuário, cartazes, instrumentos.  Tem também achados interessantes, como a interação entre a interpretação de hoje e as imagens da plateia da época.  Os elementos políticos da ditadura militar estão ausentes, mas estavam também ausentes na visão dos brotos e desses ídolos, no período.

Algum tempo atrás, vi uma entrevista com Erasmo Carlos, em que ele dizia que estava na hora de se mostrar novamente.  E contava que sua neta, na escola, informava as amiguinhas que Erasmo era amigo e parceiro de Roberto Carlos e muito famoso, mas elas relutavam em acreditar.  As gerações passam e a história pode se perder.  Daí a importância de filmes como “Minha Fama de Mau”.


A MORTE NÃO DÁ TRÉGUA EM 2019

Começou por tragédias evitáveis, vinculadas ao lucro desmedido, que vitimaram centenas de vidas em Brumadinho, jovens talentos futebolísticos no Flamengo e o brilhante jornalista Ricardo Boechat.  Sem falar da mortandade diária que acomete o Rio, Fortaleza e todo o país.

De modo mais natural e tranquilo, a morte nos levou a magnífica Bibi Ferreira, dama dos palcos, aos 96 anos.  No cinema, perde-se um músico espetacular, como Michel Legrand, autor de algumas das mais belas trilhas cinematográficas, e o grande ator suíço, Bruno Ganz, que participou de um grande número de produções europeias de qualidade, ao longo de uma carreira notável.  Perdas irreparáveis.


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