Antonio Carlos Egypto
A COLMEIA. Brasil, 2019.
Direção: Gilson Vargas. Elenco:
Andressa Matos, João Pedro Prates, Rafael Franskowiak, Janaína Pelizzon. 110 min.
“A Colmeia”, realização gaúcha, dirigida
por Gilson Vargas, tem uma atmosfera pesada, em perfeita sintonia com o drama
humano que apresenta. Utiliza-se de
cores esmaecidas, cinzentas como o clima, com um verde acinzentado, revelador
de uma natureza mais opressiva do que acolhedora. A trilha sonora de Léo Henkin acentua o peso
da situação vivida pelos colonos alemães nos interiores do sul do Brasil, em
meio à Segunda Guerra Mundial.
Naquele momento, havia a proibição de
falar alemão ou cultivar hábitos e costumes de origem alemã. Mais do que isso, havia uma franca
hostilidade no entorno desse ambiente rural já isolado e quase nada integrado
ao novo meio para esses imigrantes. O
clima é de permanente desconfiança e medo.
E, apesar do isolamento, o eventual contágio com o ambiente de fora traz
piolhos para o grupo de colonos: várias sequências de cortes de cabelo,
marcados pela dor de fisionomias dilaceradas e choro, indicam a vulnerabilidade
do grupo. Como se não bastasse, a
realidade maior deles é a da fome permanente.
Os personagens que compõem o grupo de
colonos alemães não são explicitados, nem desenvolvidos, pela narrativa. Mas são oito pessoas, os adultos Werner
(Rafael Franskowiak) e Bertha (Janaína Pelizzon) detêm maior poder. Especialmente Werner, num contexto
machista. Os demais adultos enfrentam o
trabalho igualmente, Kasper, Uli, Liila e Erika. Com outra perspectiva e desejo de mudar ou
sair dali, está um casal de adolescentes gêmeos: Mayla (Andressa Matos) e
Christoffer (João Pedro Prates), na verdade, os protagonistas da história.
É apenas um fio de história, mesmo sendo
uma situação forte e intensa. Daí a
ideia dos favos da colmeia, os elementos definidores daquele mundo, daquele
momento, que também podem dialogar com questões contemporâneas.
O bullying
que Christoffer sofre na escola e o
grupo todo sofre pela pichação na casa e pelos eventuais encontros nos campos e
floresta, o preconceito que faz com que se atribuam as culpas de tudo aos
bugres, demonizando os povos originários vistos como impuros e selvagens, o
machismo em que os homens, embora em tudo iguais no trabalho com as mulheres, continuam
dando a última palavra, são exemplos desses favos. A desconhecida Sndrome do Pânico também está
presente e o canibalismo entra na história como elemento simbólico, mas também
de sobrevivência.
O filme se desenvolve em ritmo bem
lento, com muito poucos diálogos e desempenhos contidos dos atores e atrizes em
todos os papéis. Os personagens
aguentam, engolem tudo em silêncio, até que a pressão se torne insuportável e,
então, o grito de desespero ou o descontrole inevitavelmente ocorram.
“A Colmeia” realiza um trabalho
artístico de qualidade num produto sem qualquer concessão. Dirige-se, é claro, a um público menor, já
acostumado a valorizar este tipo de approach
estóico e minimalista.