Antonio Carlos
Egypto
De 06 a 16 de outubro acontece a edição do Festival
do Rio 2016. O público poderá ver 250
filmes, distribuídos em 15 mostras distintas, com sessões em mais de 20 cinemas
da cidade. Quem está no Rio não pode
perder a oportunidade de ver o cinema que se faz hoje em todo o mundo e filmes
que se destacaram em festivais internacionais, além de uma ampla mostra da
produção nacional.
Na mostra Première
Brasil, está “Pequeno Segredo”, de David Schurmann, escolhido para
representar o Brasil na disputa por uma vaga ao Oscar de melhor filme
estrangeiro.
PEQUENO SEGREDO
PEQUENO SEGREDO.
Brasil, 2015. Direção: David
Schurmann. Com Júlia Lemmertz, Maria
Flor, Erroll Shand, Marcelo Anthony, Fionnula Flanagan, Mariana Goulart. 108 min.
Nos anos 1980 e até início dos 1990, a transfusão de
sangue foi responsável pela contaminação pelo HIV de muita gente no Brasil. O controle
mais efetivo dos bancos de sangue demorou a alcançar os níveis de confiança que
temos hoje.
A Aids, uma doença nova e mortal, assustou o mundo e,
até que muitos milhões de dólares fossem investidos em pesquisas, que evoluíram
para um quadro mais controlável e tratamentos que possibilitam mais sobrevida e
melhor qualidade de vida aos portadores do HIV, era um estigma. Até então, os contaminados estavam sujeitos a
todo tipo de discriminação e preconceitos em larga escala.
A história real que o filme “Pequeno Segredo” conta
envolve justamente essas questões. Mas
não se espere algo sombrio ou assustador daí.
Ao contrário. O filme de David
Schurmann é solar, se passa em grande parte no mar, em belos barcos que navegam
pelos oceanos e se centra nas relações familiares.
Sua narrativa trabalha em dois tempos que se alternam
para expor uma situação um tanto inusitada.
Mas o faz de forma novelesca, enfatizando o amor e a solidariedade em
laços familiares que envolvem a pequena Kat.
A menina será adotada por uma família de velejadores e levada a
percorrer o mundo. O fato de a ação se
passar na região amazônica, e na Nova Zelândia, agrega um componente
importante: a beleza das locações. O
objetivo é o entretenimento, em que pese a seriedade do tema abordado.
Um elenco muito bom foi recrutado para o filme,
embora seja forçoso reconhecer, nem sempre bem aproveitado. A menina Mariana Goulart encanta, fazendo
Kat. Sua mãe na trama, Heloísa, vivida
por Júlia Lemmertz, incomoda pela superproteção e pelas falas rasas, banais,
beirando o piegas. Júlia é uma ótima
atriz, mas os diálogos não a ajudam.
Marcelo Anthony faz Vilfredo, o pai dessa família de velejadores, mas é
um papel fraco, inexpressivo. Maria Flor
e Erroll Shand têm maior destaque nos seus desempenhos. Seus papéis carregam conflitos e incertezas
com um nível de humanidade mais convincente.
A atriz Fionnula Flanagan tem de sustentar um
personagem que é um clichê ambulante, a senhora Bárbara. Age de modo imbecil e diz tanta barbaridade
que cai no ridículo. Quando se redime,
não dá para acreditar. O problema não é
da atriz, muito boa, mas do seu papel, que não faz qualquer sentido da forma
como está desenvolvido.
Se, para indicar para concorrer ao Oscar deveríamos
escolher nosso melhor produto, não seria o caso de cravar “Pequeno
Segredo”. Ele está a quilômetros de
distância daquele que foi o seu concorrente mais direto, “Aquarius”. O que se disse é que a comissão escolheu o
que melhor poderia sensibilizar a Academia de Hollywood, que aprecia mais esse
gênero de filme. É possível. Mas que essa escolha teve um evidente caráter
político, não resta dúvida.