Antonio Carlos Egypto
ENQUANTO O SOL NÃO VEM (Parlez-moi de la Pluie), França. 2008. Direção. Agnès Jauoi. Com Agnès Jaoui, Jean-Pierre Bacri e Jamel Dabbouze. 110 min.
Quando vi o primeiro filme de Agnès Jaoui, “O gosto dos outros”, senti que estava diante do cinema contemporâneo mais interessante e expressivo. Num clima onde tudo flui e nada pesa muito, as relações estão em primeiro plano: idiossincrasias, preconceitos, análises pretensiosas da vida e da arte versus simplicidade, humanidade, falibilidade. Era, sem dúvida, um filme leve, que tinha densidade. E a questão mais intrigante: que critérios podem nos nortear para compreender e analisar a arte, seu papel, finalidade e relação com o público. Nada de esnobismo, muito de humanismo e sem julgamentos morais. Me cativou.
Depois veio “Questão de imagem”, colocando em cena uma garota gordinha, infeliz por não corresponder aos estereótipos do culto à beleza física da atualidade, um escritor em conflito com sua velhice, uma mulher que se deprime por não confiar no próprio talento, alguém que tem de se confrontar com o que a fama significa, e por aí vai. Vidas que se constroem e conflitos que são vividos, onde se está permanentemente aprendendo, revendo conceitos e atitudes. Mais uma vez, questões contemporâneas trabalhadas num clima de experiências cotidianas, sem grande dramaticidade, sem preocupação em seguir modelos ou gêneros. O foco é, como sempre, os relacionamentos humanos e as verdades provisórias de cada um. Sobra sempre muito espaço à reflexão.
Com seu novo filme em cartaz nos cinemas, “Enquanto o Sol não Vem”, se dá o confronto entre a metrópole e a província. Uma jovem feminista de sucesso se dispõe a uma homenagem tosca de um documentarista mais do que doméstico e seu hostil parceiro. Nada dá certo, as trapalhadas se sucedem. O processo de construção do filme é o avesso do profissionalismo e do glamour associados ao cinema. As coisas não são como parecem, não têm a importância que pretendemos que possam ter. Além disso, o tempo não ajuda, chove muito e estamos todos à espera do sol. Mas não imaginem que a comédia vai se instalar com tudo. Não, para Agnès Jaoui, menos é sempre mais. O espectador tem tempo de pensar, observar com calma, sorrir, se identificar com as pequenas besteiras que se fazem a toda hora.
Uma vez mais, o clima de leveza é que dá o tom, identificando o cinema de Jaoui inexoravelmente com os tempos atuais. Não simplesmente pela narrativa frouxa e pouco preocupada em amarrar fios, mas principalmente pelo olhar arguto sobre as relações humanas contemporâneas e as preocupações que as envolvem, pelo menos no ambiente europeu de classe média. Agnès Jaoui é, como diretora, uma boa cronista desse momento e de seu contexto de vida. E é atriz de seus filmes, emprestando-lhes uma dimensão muito verdadeira no seu desempenho, tão leve e seguro, quanto a sua mão de diretora.
Só para registrar: “O gosto dos outros” foi indicado ao Oscar de filme estrangeiro (2001). “Questão de imagem” recebeu prêmio de roteiro em Cannes (2004), e dois de seus roteiros, “Smoking/No smoking” e “Amores Parisienses” foram filmados por ninguém menos do que Alain Resnais. Não é pouca coisa.
ENQUANTO O SOL NÃO VEM (Parlez-moi de la Pluie), França. 2008. Direção. Agnès Jauoi. Com Agnès Jaoui, Jean-Pierre Bacri e Jamel Dabbouze. 110 min.
Quando vi o primeiro filme de Agnès Jaoui, “O gosto dos outros”, senti que estava diante do cinema contemporâneo mais interessante e expressivo. Num clima onde tudo flui e nada pesa muito, as relações estão em primeiro plano: idiossincrasias, preconceitos, análises pretensiosas da vida e da arte versus simplicidade, humanidade, falibilidade. Era, sem dúvida, um filme leve, que tinha densidade. E a questão mais intrigante: que critérios podem nos nortear para compreender e analisar a arte, seu papel, finalidade e relação com o público. Nada de esnobismo, muito de humanismo e sem julgamentos morais. Me cativou.
Depois veio “Questão de imagem”, colocando em cena uma garota gordinha, infeliz por não corresponder aos estereótipos do culto à beleza física da atualidade, um escritor em conflito com sua velhice, uma mulher que se deprime por não confiar no próprio talento, alguém que tem de se confrontar com o que a fama significa, e por aí vai. Vidas que se constroem e conflitos que são vividos, onde se está permanentemente aprendendo, revendo conceitos e atitudes. Mais uma vez, questões contemporâneas trabalhadas num clima de experiências cotidianas, sem grande dramaticidade, sem preocupação em seguir modelos ou gêneros. O foco é, como sempre, os relacionamentos humanos e as verdades provisórias de cada um. Sobra sempre muito espaço à reflexão.
Com seu novo filme em cartaz nos cinemas, “Enquanto o Sol não Vem”, se dá o confronto entre a metrópole e a província. Uma jovem feminista de sucesso se dispõe a uma homenagem tosca de um documentarista mais do que doméstico e seu hostil parceiro. Nada dá certo, as trapalhadas se sucedem. O processo de construção do filme é o avesso do profissionalismo e do glamour associados ao cinema. As coisas não são como parecem, não têm a importância que pretendemos que possam ter. Além disso, o tempo não ajuda, chove muito e estamos todos à espera do sol. Mas não imaginem que a comédia vai se instalar com tudo. Não, para Agnès Jaoui, menos é sempre mais. O espectador tem tempo de pensar, observar com calma, sorrir, se identificar com as pequenas besteiras que se fazem a toda hora.
Uma vez mais, o clima de leveza é que dá o tom, identificando o cinema de Jaoui inexoravelmente com os tempos atuais. Não simplesmente pela narrativa frouxa e pouco preocupada em amarrar fios, mas principalmente pelo olhar arguto sobre as relações humanas contemporâneas e as preocupações que as envolvem, pelo menos no ambiente europeu de classe média. Agnès Jaoui é, como diretora, uma boa cronista desse momento e de seu contexto de vida. E é atriz de seus filmes, emprestando-lhes uma dimensão muito verdadeira no seu desempenho, tão leve e seguro, quanto a sua mão de diretora.
Só para registrar: “O gosto dos outros” foi indicado ao Oscar de filme estrangeiro (2001). “Questão de imagem” recebeu prêmio de roteiro em Cannes (2004), e dois de seus roteiros, “Smoking/No smoking” e “Amores Parisienses” foram filmados por ninguém menos do que Alain Resnais. Não é pouca coisa.