Antonio Carlos
Egypto
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Suzana Tierie |
O JUÍZO.
Brasil, 2019. Direção: Andrucha
Waddington. Com Felipe Camargo, Carol
Castro, Criolo, Joaquim Torres Waddington, Fernanda Montenegro, Lima
Duarte. 90 min.
“O Juízo” é uma incursão do cinema brasileiro
no gênero suspense, terror. Assim como
outras tentativas bem sucedidas realizadas anteriormente, ele contribui para
ampliar o alcance do nosso cinema para além dos documentários, comédias e
dramas que têm marcado nossa produção crescente.
Considerado um suspense sobrenatural, é, na
verdade, um filme que crava na trama as marcas da nossa história, do
extrativismo à escravidão, que deixaram uma dívida que remonta a séculos e está
na construção da vergonhosa desigualdade, preconceito e racismo, que vivemos
até hoje. Mérito, claro, do talento de
escritora da roteirista Fernanda Torres que, infelizmente, não participa do
filme de seu marido, Andrucha Waddington, como atriz. Em compensação, Fernanda Montenegro, sua mãe,
está lá, brilhante, como sempre. O filme
tem mesmo uma característica familiar.
Joaquim Torres Waddington, filho do diretor e da roteirista, estreia no
cinema como ator neste filme. Para além
das relações familiares, o elenco tem Felipe Camargo, Carol Castro e Criolo, em
papeis centrais e o grande Lima Duarte em participação especial.
O que mais me entusiasmou em “O Juízo” nem foi
a sua história, muito boa, ou seu superelenco, mas seu apuro visual. Enquadramentos belíssimos, do alto, na água,
nos caminhos molhados (o filme é quase todo passado na chuva), nos ambientes de
uma fazenda, supostamente mineira, na verdade filmada no Estado do Rio. Uma fotografia esmaecida, esfumaçada,
escurecida, concretiza uma narrativa que remete a trevas, com grande beleza e explora
também com eficiência a luminosidade do fogo.
Ótimo trabalho do diretor de fotografia Azul Serra. Destaque também para a direção de arte de
Rafael Targat. Um trabalho de equipe
muito bem coordenado por Andrucha Waddington.
O enredo remete a uma família, Augusto (Felipe
Camargo), Tereza (Carol Castro) e o filho Marinho (Joaquim Torres Waddington),
que vão em busca de colocar a vida em ordem, resolvendo problemas econômicos e
do alcoolismo de Augusto, assumindo morar numa fazenda isolada e abandonada,
herdada do avô. A propriedade, porém,
traz o carma de uma traição, envolvendo um homem escravizado, Couraça (Criolo)
e sua filha, uma dívida ancestral.
Diamantes estão envolvidos na história, colocando a cobiça como parte
integrante e trágica da narrativa. Mais
suspense que terror, fantasmagórico, mas realista e indutor de reflexão, um
filme que se vê com prazer, com destaque para o esmero visual, que merece ser
apreciado com atenção.
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Dan Behr |
FESTIVAL
DE CINEMA RUSSO
De 04 a 11 de dezembro, chega a São Paulo a
6ª. edição da Mostra Mosfilm, de filmes clássicos, russos e soviéticos,
realização do CPC – UMES, Spcine e Itaú Cinemas. 12 longas serão exibidos nos cines Itaú
Augusta e Olido, a preços bem populares.
Destaque para as cópias restauradas de “A Balada do Soldado”, de Grigori
Chukhay, “Stalker”, de Tarkovsky, e “A Prisioneira do Cáucaso”, de Leonid
Gayday. Outra novidade é a exibição de
"Spartacus", com o Balé Bolshoi, em filme de Yury Grigorovich, de
1975. O filme mais recente a ser exibido
é “Aluga-se uma casa com todos os inconvenientes”, de Vera Storozheva, de
2016. No Olido, exposição de matryoskhas
e comidas, bebidas e artesanato típico do Leste Europeu.
FESTIVAL
DO RIO
Para quem está no Rio de Janeiro, a grande
pedida é a nova edição do tradicional Festival do Rio, repleto de atrações, que
neste ano ocorre em data não habitual, de 09 a 19 de dezembro, em 15 cinemas da
cidade. Foi uma batalha, mas o Festival
saiu e com cerca de 100 filmes estrangeiros e uma enorme janela de produções
brasileiras na seção Premiére Brasil.