quarta-feira, 31 de outubro de 2018

VENCEDORES DA 42a. MOSTRA


Mostra divulga premiados da 42ª edição
Documentário ¡Las Sandinistas! recebeu o prêmio do júri internacional e do público, que também escolheu Cafarnaum como melhor ficção estrangeira; Meio Irmão e Torre das Donzelas levaram o Prêmio Petrobras de Cinema


42ª Mostra Internacional de Cinema em São Paulo realizou a entrega dos prêmios  desta edição do evento durante a cerimônia de encerramento na noite desta quarta-feira no Auditório Ibirapuera - Oscar Niemeyer, que teve apresentação de Serginho Groisman e Renata de Almeida.

Veja abaixo a lista completa dos títulos premiados na 42ªMostra:

TROFÉU BANDEIRA PAULISTA 2018
PRÊMIO DO JÚRI INTERNACIONAL

Após serem exibidos na 42ª Mostra, os filmes da seçãCompetição Novos Diretores mais votados pelo público foram submetidos ao Júri Internacional, que escolheu ¡Las Sandinistas! como vencedor do Troféu Bandeira Paulista(uma criação da artista plástica Tomie Ohtake), além de ceder menção honrosa ao nacional Sócrates, de Alex Moratto.
Conheça o filme premiado pelo júri internacional:

MELHOR FILME 

¡Las Sandinistas!
EUA, 2018, cor, 96 min. Documentário.
direção Jenny Murray
Um retrato das mulheres guerrilheiras e revolucionárias que derrubaram barreiras para liderar o combate e a reforma social durante a Revolução Sandinista na Nicarágua, em 1979. Mesmo após o término do conflito, elas foram pioneiras na criação de programas sociais e educacionais. Hoje, lutam para que o governo do país não apague sua história.


MENÇÃO HONROSA DO JÚRI INTERNACIONAL

Sócrates
Brasil, 2018, cor, 71 min. Ficção.
direção  Alex Moratto
roteiroAlex Moratto e Thayná Mantesso
elencoChristian Malheiros, Tales Ordakji e Rosane Paulo
Após a morte de sua mãe, Sócrates, um garoto de 15 anos, encontra-se sozinho no mundo. Durante sua jornada por sobrevivência, ele enfrenta pobreza, violência, racismo e homofobia situações que testam sua coragem para continuar vivendo.

Júri InternacionalAstrid Adverbe, Edgard Tenembaum, Ferzan Özpetek, Teresa Villaverde e Sergio Machado


PRÊMIO PETROBRAS DE CINEMA

42ª Mostra concede pela segunda vez o Prêmio Petrobras de Cinema a dois filmes brasileiros e pela primeira vez eles foram escolhidos pelo público. São R$ 300 mil aos títulos determinados pelos espectadores, sendo R$ 200 mil para o melhor longa de ficção, dado a Meio Irmão, e R$ 100 mil para Torre das Donzelas, que recebe o prêmio de melhor longa documentário.

Conheça os filmes contemplados com os prêmios:

MELHOR FILME BRASILEIRO DE FICÇÃO

Meio Irmão
Brasil, 2018, cor, 98 min. Ficção.
direção | roteiroEliane Coster
elencoNatália Molina, Diego Avelino e Francisco Gomes
A mãe de Sandra está sumida há dias. Desorientada e sem dinheiro, ela pede ajuda a Jorge, seu meio irmão distante. Ele, porém, enfrenta uma situação difícil: após gravar uma agressão homofóbica, passa a sofrer ameaças para não divulgar as imagens.


MELHOR DOCUMENTÁRIO BRASILEIRO

Torre das Donzelas
Brasil, 2018, cor, 97 min. Documentário.
direção Susanna Lira
roteiroSusanna Lira e Rodrigo Hinrichsen
O filme traz relatos inéditos da ex-presidente Dilma Rousseff e de suas ex-companheiras de cela do Presídio Tiradentes, em São Paulo, e remonta, como um exercício lúdico de memória, os dias no cárcere.

PRÊMIO DO PÚBLICO

O público da 42ª Mostra escolheu, entre os estrangeiros, Cafarnaum, como melhor filme de ficção, e ¡Las Sandinistas! recebe o de melhor documentário. 

A escolha do públicoé feita por votação. A cada sessão assistida, o espectador recebeu uma cédula para votar com uma escala de 1 a 5, entregue sempre ao final do filme. O resultado proporcional dos filmes com maiores pontuações determinou os vencedores.

Conheça os filmes premiados pelo público:

PRÊMIO DO PÚBLICO - MELHOR FICÇÃO INTERNACIONAL    

Cafarnaum
Líbano, 2018, cor, 120 min. Ficção.
direção Nadine Labaki
roteiroNadine Labaki, Jihad Hojeilly e Michelle Keserwany
elencoZain Al Rafeea, Yordanos Shiferaw e Boluwatife Treasure Bankole
Zain é um menino de 12 anos que se comporta como adulto devido ao sofrimento que passou: fugiu dos pais abusivos, foi morar nas ruas, cuidou da refugiada Rahil e de seu bebê e foi preso por um crime violento. O garoto, então, decide entrar nos tribunais com um processo contra seus pais, acusando-os do “crime” de lhe dar a vida.


PRÊMIO DO PÚBLICO - MELHOR DOCUMENTÁRIO INTERNACIONAL

¡Las Sandinistas!
EUA, 2018, cor, 96 min. Documentário.
direção Jenny Murray
Um retrato das mulheres guerrilheiras e revolucionárias que derrubaram barreiras para liderar o combate e a reforma social durante a Revolução Sandinista na Nicarágua, em 1979. Mesmo após o término do conflito, elas foram pioneiras na criação de programas sociais e educacionais. Hoje, lutam para que o governo do país não apague sua história.

PRÊMIO DA ABRACCINE

A Abraccine – Associação Brasileira de Críticos de Cinema também realiza tradicionalmente uma premiação que, nesta edição, optou por escolher o melhor filme brasileiro entre os realizados por diretores estreantes, que, neste ano, foi o longa Meio Irmão, de Eliane Coster.

PRÊMIO DA ABRACCINE 

Meio Irmão
Brasil, 2018, cor, 98 min. Ficção.
direção | roteiroEliane Coster
elencoNatália Molina, Diego Avelino e Francisco Gomes
A mãe de Sandra está sumida há dias. Desorientada e sem dinheiro, ela pede ajuda a Jorge, seu meio irmão distante. Ele, porém, enfrenta uma situação difícil: após gravar uma agressão homofóbica, passa a sofrer ameaças para não divulgar as imagens.

Júri – Prêmio AbraccineBruno GhettiCecília Barroso, Filipe Furtado, Isabel Wittman eRoger Lerina


PRÊMIO DA CRÍTICA

A imprensa especializada que cobre o evento e tradicionalmente confere o Prêmio da Crítica, também participou da premiação elegendo Todas as Canções de Amor como o melhor filme brasileiro e Nuestro Tiempo como o melhor dos estrangeiros.

Conheça os filmes premiados pela crítica:

MELHOR FILME BRASILEIRO

Todas as Canções de Amor
Brazil, 2018, cor, 90 min. Ficção.
direçãoJoana Mariani  
roteiroNina Crintz, Vera Egito, Roberto Vitorino
elencoMarina Ruy Barbosa, Bruno GagliassoJulio Andrade
Os recém-casados Chico e Ana se mudam para um novo apartamento. No imóvel, eles encontram uma antiga fita cassete gravada décadas antes por Clarice, em uma fase em que ela vivia o término de seu casamento. Jovem escritora, Ana usa esse registro como inspiração para suas primeiras linhas. Duas histórias separadas pelo tempo, mas unidas pela música.

MELHOR FILME ESTRANGEIRO

Nuestro Tiempo
México, França, Alemanha, Dinamarca, Suécia, 2018, 178 min, cor. Ficção.
Direção | roteiroCarlos Reygadas
elencoCarlos Reygadas, Natalia LópezPhil Burgers 
Uma família mora no interior do México criando touros para competições. Esther é responsável pela administração da fazenda, enquanto seu marido, Juan, um renomado e conhecido poeta, cria e seleciona os animais. Quando Esther se apaixona por um domador de cavalos, Juan se sente incapaz de atender as expectativas que tem sobre si mesmo.



DESTAQUES DA 42ª. MOSTRA

Antonio Carlos Egypto


Com a 42ª. Mostra Internacional de Cinema de São Paulo chegando ao fim, é hora de destacar mais alguns grandes filmes que ela apresentou.  O que inclui ROMA, o filme de encerramento hoje.  O Cinesesc faz a repescagem da Mostra, em mais uma semana, a partir de amanhã. 


ROMA


ROMA, filme mexicano de Alfonso Cuarón, com uma bela fotografia em preto e branco, é focado nas mulheres.  Coloca-nos dentro do espaço doméstico de uma família de classe média-alta do México, anos 1970.  A empregada doméstica Cleo (Yalitza Aparicio) e sua colega Adela (Nancy García), de ascendência indígena, trabalham, sem conflitos aparentes, para Sofia (Marina de Tavira), a dona da casa, com quatro filhos, cujo marido está sempre ausente.

Cleo cuida dos filhos de Sofia como se fossem seus.  E o filme mostra uma rotina em que fica claro o trabalho extenuante, semiescravo, das serviçais, mas também um convívio pacífico e mesmo acolhedor da patroa.  Sem tempo de ter vida própria, Cleo parece realizar-se por meio da vida da família que a emprega.

O incômodo inicial fica por conta de um carro grande, o velho Galaxy, que vive arranhado, porque não cabe direito na garagem da casa.  Algo ali não se sustenta.  Os dramas que se desenvolverão a partir daí na vida das duas mulheres protagonistas, Cleo e Sofia, provocarão um turbilhão de eventos, que se entrelaçam com as lutas políticas do período, entre milícias e manifestantes estudantis, que acabarão por exercer papel decisivo no desenrolar da trama.  Mas os homens que se relacionam com as protagonistas são os grandes responsáveis pela dor e sofrimento que elas têm de viver.  A condição de mulher aproxima ambas.  Aquilo que as diferenças de classe separam a condição feminina agrega.

Sequências muito bem construídas, ao longo de todo o filme, encantam.  Tanto quando nada parece estar acontecendo, como quando tudo se desencadeia com grande intensidade. ROMA, vencedor do Leão de Ouro em Veneza, pela qualidade merece ser visto na tela do cinema, mas é uma produção da Netflix, que deverá estar nas telas de TV em dezembro.  É possível que haja um lançamento cinematográfico antes disso.  Se houver, recomendo uma ida ao cinema.  135 min.

UMA MULHER EM GUERRA, o indicado da Islândia para concorrer ao Oscar de filme estrangeiro, de Benedikt Erlingsson, é outro trabalho que projeta e destaca a mulher, sua coragem e sua força transformadora.  Aqui, a protagonista é Halla (Halidóra Geirharösdóttir), uma ativista do meio ambiente, que encara de modo pessoal uma guerra contra a indústria local de alumínio, por meio de sabotagens cada vez mais ousadas e perigosas.  Ao mesmo tempo, ela e sua irmã gêmea, professora de yoga, aguardam por pedidos de adoção de crianças.  Ou seja, tanto no terreno da atuação política, quanto no da afetividade materna, Halla encara os desafios da existência de frente e com coragem. 

O registro do filme, porém, não apresenta essa personagem dentro de um contexto de realismo e verossimilhança.  Faz uma fábula cheia de coincidências, surpresas, impossibilidades.  Isso faz com que a aventura de Halla fique mais atraente e divertida.

Inova, também, na música, toda feita ao vivo, com instrumentistas, cantores e figuras femininas em trajes típicos, que estão ao lado da ação e até interagem em cena.  A música não é colocada no filme, entra diretamente nele.  É uma bela inovação, num filme criativo, inteligente e muito bem resolvido, que apoia decididamente as mulheres e a luta pelo meio ambiente, sem precisar fazer proselitismo nenhum, explorando uma dimensão fantástica para o tema.  100 min.


A ÁRVORE DOS FRUTOS SELVAGENS


A ÁRVORE DOS FRUTOS SELVAGENS é o novo trabalho do diretor turco Nuri Bilge Ceylan, que prima por imagens de grande elaboração e beleza nos seus filmes.  Enriquece o seu apuro visual com locações na Anatólia, a região turca de sua origem, que tem paisagens exuberantes.  É, portanto, com grande prazer que vemos a natureza magnificamente enquadrada, as expressões humanas se revelando, em meio a um ambiente amplo, mostrado por planos gerais e panorâmicas, mas também por detalhes significativos do contexto cultural abordado.

Não fica por aí.  Ceylan discute o mundo contemporâneo e a conquista da identidade, a partir do personagem Sinan, um jovem que deixou sua aldeia para estudar em Istambul e encontrar sua paixão por literatura e o desejo de se realizar como escritor.  Mas o que significa literatura, a quem ela interessa, que papel exerce hoje num mercado tão distante de suas pretensões?  E como ele se vê, no contexto rural de sua origem?  Sua ex-namorada, seu pai endividado, os limites da vida na aldeia, que papel tem tudo isso nessa jornada em busca de autoconhecimento e de realização pessoal?

Como o islamismo é visto e compreendido pelos jovens?  Que polêmicas envolvem a aceitação e a interpretação do Corão no contexto atual?  Muitas reflexões filosóficas e debates sobre a contemporaneidade, a vida e os projetos dos jovens, e também dos adultos, fazem parte dos diálogos do filme.  Como se vê, é um produto artístico muito encorpado e consistente, em todos os seus aspectos.  Nuri Bilge Ceylan é, mesmo, um dos maiores cineastas do cinema atual.  Faz filmes de longa duração, como este, que tem 188 minutos, mas que envolve e encanta durante todo esse tempo, mesmo visto na maratona que é a Mostra.





segunda-feira, 29 de outubro de 2018

LATINO-AMERICANOS NA 42ª. MOSTRA


Antonio Carlos Egypto

Alguns filmes latino-americanos se destacaram na 42ª. Mostra Internacional de Cinema de São Paulo, como costuma acontecer em todas as edições.  Nessa, o que mais chamou a atenção foram os muitos filmes argentinos exibidos.  Vi vários deles, mas também filmes do Uruguai, México e Guatemala.

TRAGAM A MACONHA, do Uruguai, é dirigido por um trio: Denny Brechner, Alfonso Guerrero e Marcos Hecht.  É uma comédia de ficção, baseada no fato de que a venda da maconha foi legalizada no país.  Sendo legalizada, é preciso suprir a demanda, mas como conseguir 50 toneladas em pouco tempo, se o país não tem produção da erva?  A solução é sair pelo mundo divulgando o assunto e tratando de obter vendedor, além de conseguir transportar o produto ao Uruguai.  Para isso, cria-se, só na Internet, a Câmara Uruguaia da Maconha Legalizada.  E todo mundo acredita que exista essa instituição.  O ex-presidente Pepe Mujica participa do filme e apoia o seu humor, com simplicidade, como é o seu estilo de ser.  Bem divertido.

TRAGAM A MACONHA


Outro uruguaio, EL CREADOR DE UNIVERSOS, é um documentário de Mercedes Dominioni sobre seu filho, o jovem Juan, de 15 anos, com características autistas, que faz filmes domésticos com Rosa, sua avó de 96 anos.  É a sua forma de criar, viver e compartilhar suas dificuldades e sua solidão com ela, já bem idosa e com doenças e limitações.  Uma produção modesta, mas interessante.

JOSÉ, da Guatemala, segundo longa do chinês Li Cheng, entra em cheio na questão social: a pobreza, a exclusão, o papel da religião e do trabalho precário, numa vida de muita carência e falta de segurança.  O caminho da prostituição masculina, aliado ao subemprego do jovem José, de 19 anos, se mistura ao desejo homossexual, em meio à relação com a mãe e os valores religiosos que ela e toda a sociedade local valorizam.  Uma realidade que para nós é, também, bem conhecida.  O diretor nasceu na China, estudou nos Estados Unidos e morou dois anos na Guatemala. Mostrou sensibilidade para retratar a dura situação que viu por lá, por meio de uma ficção bem construída.

Entre os filmes argentinos, LA QUIETUD, do experiente cineasta Pablo Trapero, mostra muita força.  Conflitos familiares, sexualidade intensamente experimentada, traumas emocionais, negócios escusos, decisões pesadas, fazem lembrar o universo de Nelson Rodrigues.  Mas sem histrionismo. O estilo de Trapero é elegante, até discreto.  E coloca a sanguinária ditadura militar que a Argentina viveu de 1976 a 1983 como elemento fundamental da trama, que tem roteiro do próprio diretor.


LA QUIETUD


O ANJO, direção e roteiro de Luís Ortega, indicado pela Argentina para concorrer ao Oscar de filme estrangeiro, é uma ficção baseada em fatos reais.  Mostra que crimes bárbaros podem ser praticados não só por psicopatas estranhos, mas por gente jovem, bonita e capaz de expressões emocionais.  É o caso do adolescente Carlitos, o anjo loiro da morte, que revelou grande talento para cometer crimes.  O filme não vai muito além disso, não me parece à altura dos fortes concorrentes usuais do país ao Oscar.

VIAJE A LOS PUEBLOS FUMIGADOS, documentário do grande diretor argentino Fernando Solanas, denuncia com muita competência as consequências sociais e ambientais do chamado agronegócio, com sua produção de transgênicos à base de agrotóxicos.  As comunidades atingidas pela prática das fumigações sofrem com contaminações e doenças muito graves.  Porém, o que resulta disso atinge a todos nós, que nos alimentamos de venenos, quando cremos estar consumindo uma comida saudável.  Alternativas existem e precisam ser melhor conhecidas, mais difundidas, mais praticadas.

JULIA E A RAPOSA, segundo longa de Inés María Barrionuevo, focaliza uma ex-atriz que retorna à sua pequena cidade, na província de Córdoba, na Argentina.  A partir da retomada de uma casa grande, ela se reencontra com seu passado e com o que marca a vida da comunidade, seus problemas e idiossincrasias.  Bom trabalho.

MOCHILA DE CHUMBO, segundo longa do argentino Darío Mascambroni, põe em evidência um garoto de 12 anos, Tomás, que, sem a presença efetiva dos adultos da família, vive na rua com sua mochila, que contém uma arma carregada.  E se propõe a desvendar o que aconteceu com seu pai.  As ações e os riscos de se crescer ao desamparo e sem apoio educacional são o aspecto principal do filme a ser considerado.

Ainda vou ver VERMELHO SOL, um outro filme argentino, que vem muito bem recomendado. O mexicano ROMA, um dos melhores da Mostra, comentarei na próxima postagem.

sábado, 27 de outubro de 2018

NOVOS DIRETORES NA 42a. MOSTRA


Antonio Carlos Egypto


42ª Mostra anuncia finalistas ao Troféu Bandeira Paulista

Astrid Adverbe, Edgard Tenembaum, Ferzan Ozpetek, Sérgio Machado e Teresa
Villaverde integram o júri oficial desta edição

Os filmes da 42ª Mostra que estão na Competição Novos Diretores recebem votos do público, após serem exibidos na primeira semana da Mostra. As obras mais bem votadas serão submetidas ao Júri, que avaliará e escolherá os longas vencedores do Troféu Bandeira Paulista — uma criação da artista plástica Tomie Ohtake— na categoria melhor filme. Os jurados também podem premiar obras em outras categorias.
Neste ano, os filmes mais votados pelo público foram A Costureira dos Sonhos, de Rohena Gera, Ága, de Milko Lazarov, Chuva é Cantoria na Aldeia dos Mortos, João Salaviza e Renée Nader Messora, Culpa, de Gustav Möller, Deslembro, de Flavia Castro, ¡Las Sandinistas!, de Jenny Murray, Meio Irmão, de Eliane Coster, O Mau Exemplo de Cameron Post, de Desiree Akhavan, Os Relatórios de Sarah e Saleem, Muayad Alayan, Rir ou Morrer, de Heikki Kujanpää, Sócrates, de Alex Moratto, e Yomeddine, de A. B. Shawky.

Desses filmes de novos diretores melhor votados pelo público da Mostra, vi A COSTUREIRA DE SONHOS, um indiano com características mais comerciais, mas bem feito.  Conta a história do envolvimento afetivo entre um patrão jovem que ia se casar, mas não se casou, e sua bela empregada.  Um envolvimento que poderia evoluir para amoroso, não fosse o fato de que as castas indianas são absolutamente impermeáveis a mudança.  O que vale no filme é como ele mostra essa realidade rígida que permeia todas as relações humanas e o quanto isso limita a vida.


OS RELATÓRIOS DE SARAH E SALEEM


OS RELATÓRIOS DE SARAH E SALEEM, o filme palestino, também trata de um amor inviável, mas vai mais fundo e entra no contexto político.  Um homem e uma mulher, ambos casados, acabam se envolvendo sexual e amorosamente, gerando uma dupla traição.  Se isso já é um drama, imagine se esse homem for palestino e essa mulher, israelense?  Esse romance proibido se transformará numa crise política de grandes dimensões em Jerusalém.

O dinamarquês CULPA, que já comentei aqui antes, é um filme notável.  Está entre os melhores de toda a Mostra.  Mesmo sem ter visto ainda os outros filmes indicados dos novos diretores, eu faria minha aposta nele para o troféu.  Mas, claro, é preciso ver os outros.  Pode haver novas pérolas entre eles.  Tomara que seja assim.



sexta-feira, 26 de outubro de 2018

POLÍTICA E OPRESSÃO NA 42ª. MOSTRA

Antonio Carlos Egypto


As ditaduras, a intolerância e a violência marcam presença em vários filmes da 42ª. Mostra Internacional de Cinema de São Paulo, de forma direta.  E estão presentes em muitos outros filmes que tratam do cotidiano, dos amores e rancores que marcam a existência das pessoas, especialmente as mais vulneráveis.

O documentário espanhol O SILÊNCIO DOS OUTROS traz à baila a luta eterna por justiça, decorrente dos crimes de lesa-humanidade, praticados por Francisco Franco e seus seguidores, a partir da Guerra Civil Espanhola (1936-1939) e por cerca de 40 anos de um regime opressor do tipo fascista. O filme, dirigido pela espanhola Almudena Carracedo e pelo norte-americano Robert Bahar, passa também pela situação chilena e a culpabilidade de Pinochet, que dependeu de um processo internacional.  Como o que está em curso na Argentina, sobre o regime franquista.

Se há mortos insepultos na longa jornada obscura do franquismo na Espanha, também não faltam lembranças terríveis de um regime opressor comunista, como o do Khmer Vermelho, no Cambodja, nos anos 1970.  Lá a perseguição, a fome e a morte foram a marca de um regime obscurantista e equivocado, como nos tem mostrado o cineasta cambodjano Rithy Pahn, um verdadeiro mestre do cinema atual.  Seu documentário TÚMULOS SEM NOME é doloroso, mas visualmente criativo , com uma forma muito atraente, o que dá ainda mais força ao que é narrado.  Porque é belo e competente.



TÚMULOS SEM NOME


A ficção polonesa ERA UMA VEZ EM NOVEMBRO, de Andrzej Jakimowski, foca nos personagens da mãe e de um filho jovem que, por conta de mudanças radicais nas políticas habitacionais do país, se tornam moradores de rua ou sem-teto.  E aí ficam expostos à violência da sociedade.  O filme se dedica a mostrar com clareza a intolerância e o recurso à violência pesada, por parte da extrema direita, que usa lemas como “Deus, honra e pátria” e palavras de ordem, como “matar os vermelhos com a foice e o martelo”. O neonazismo mostrando a sua cara, ao tomar as ruas e agredir, entre outros, o centro cultural alternativo, onde os sem-teto encontravam algum tipo de acolhimento.  Cenas reais das guerras e protestos nacionalistas que tomaram Varsóvia em novembro de 2013 são mescladas a ótimas sequências ficcionais.  Tudo muito preocupante e assustador.

Nem a zona rural norte-americana escapa à violência política do cotidiano.  Uma família abandonada pela mãe e em que o pai é totalmente incompetente para cuidar de si mesmo e do filho adolescente, revela aspectos do desemprego, dos baixos salários, da exploração de menores e do abandono a que estão sujeitos os indivíduos numa sociedade individualista e conservadora.  Tudo começa de modo até convencional, com o menino se apegando a um cavalo velho explorado pelo seu patrão.  Mas o que vai aparecendo em nada se assemelha àquelas sessões da tarde da TV.  É um sistema sórdido o que é mostrado aqui no contexto rural estadunidense.  A ROTA SELVAGEM é dirigido pelo cineasta inglês Andrew Haigh.