Antonio Carlos
Egypto
Punta del Leste, no Uruguai, foi a cidade onde se
realizou a cerimônia de entrega dos Prêmios Platino do Cinema Ibero-Americano
2016, sua 3ª. edição. Para o próximo
ano, está escalada a cidade de Madri, na Espanha.
O Canal Brasil transmitiu a festa na íntegra, num
belíssimo e amplo palco de espetáculos.
Boa produção, tecnologia, roupas, chistes,
muita música. E a inevitável mimetização
do Oscar. Mas com uma grande diferença:
foi muito fácil concordar com as premiações.
Houve, na minha opinião, uma justiça evidente na escolha dos
premiados. O que nunca acontece no
Oscar.
Ficou muito claro o padrão de qualidade que, neste
momento, confere ao cinema ibero-americano uma posição respeitável e de
destaque, no contexto cinematográfico mundial.
A leva de filmes concorrentes era excelente.
O Abraço da Serpente |
O grande vencedor da noite foi o colombiano O ABRAÇO
DA SERPENTE, de Ciro Guerra, escolhido como melhor filme, melhor diretor,
montagem, fotografia, direção de arte, som e trilha sonora. Um grande e merecido reconhecimento para um
filme muito bem concebido e realizado, que buscou nos meandros amazônicos as
realidades culturais indígenas, em dois tempos distintos e em sua relação com
os cientistas e com os exploradores da região.
Os mergulhos vão de botânicos a místicos, revelando todo um universo
intrigante e desconhecido aos espectadores.
A crítica do filme está disponível no cinema com recheio, postada em fevereiro de 2016.
O prêmio de melhor documentário foi para o
excepcional O BOTÃO DE PÉROLA, de Patrício Guzmán, do Chile. Maravilha!
(Crítica postada em maio de 2016).
O de melhor roteiro ao filme chileno O CLUBE, de Pablo Larraín (crítica
postada no cinema com recheio em
outubro de 2015), que aborda a polêmica questão da pedofilia na igreja católica
com muita competência. No seu intimismo
está toda uma estrutura em questão.
O melhor filme de diretor estreante foi para o
guatemalteco IXCANUL, que significa vulcão,
em língua indígena, dirigido por Jayro Bustamante com talento de veterano. Uma história muito bem construída, de
concepção moderna, relata um universo complexo, em que tradições se chocam com
demandas da atualidade. Um grande filme,
sem dúvida.
O prêmio especial de Direitos Humanos, para filmes
que abordam educação e valores, foi para o brasileiro QUE HORAS ELA VOLTA?, de
Anna Muylaert, nosso melhor produto cinematográfico de 2015 (crítica no cinema com recheio em agosto de 2015).
Guillermo Francella |
Também parece ter havido justiça na premiação de ator
e atriz. Guillermo Francella, um
conhecido ator de comédia na Argentina, brilhou num papel dramático terrível,
de um homem que comanda com seus familiares um negócio de sequestros. O filme é O CLÃ, de Pablo Trapero,
reconhecido diretor argentino de trabalhos que fazem denúncias e convidam à
reflexão.
PAULINA, outro filme argentino, de Santiago Mitre,
boa realização, mas muito polêmico, rendeu o prêmio de atriz a Dolores
Fonzi. Uma boa interpretação para um
papel complicado, o de uma mulher vítima de violência, que toma um rumo
inesperado e discutível, com o qual as outras mulheres não se identificam.
Dolores Fonzi |
O prêmio de melhor filme de animação coube a ATRAPA
LA BANDERA, de Enrique Gato, da Espanha.
Esse não posso comentar porque não vi .
A grande homenagem da noite, o prêmio de Honor pelo conjunto de trabalhos
dedicados ao cinema, foi especialmente justo ao escolher o argentino Ricardo
Darín, um dos melhores atores em atividade no mundo do cinema, hoje em
dia. E que tem o mérito de se envolver
em uma filmografia muito bem escolhida, para a qual ele contribui decisivamente
com seu talento. Pena que o filme
espanhol TRUMAN, de Cesc Gay, em que Darín atuou ao lado de Javier Cámara,
tenha sido indicado, mas não tenha levado nenhum prêmio. É que havia muita
coisa boa em disputa (a crítica de TRUMAN foi postada no cinema com recheio em abril de 2016).
Ricardo Darín |
É muito gratificante constatar o bom momento da
cinematografia latina, americana e europeia, da Península Ibérica, e a
diversidade dos trabalhos premiados, ainda que o Brasil tenha tido participação
pequena, embora relevante, no evento.