sábado, 27 de fevereiro de 2016

O QUARTO DE JACK


Antonio Carlos Egypto




O QUARTO DE JACK (Room).  Canadá, 2015.  Direção: Lenny Abrahamson.  Com Brie Larson, Jacob Tremblay, Joan Allen, William Macy.  118 min.



“O Quarto de Jack” começa como um filme claustrofóbico e assustador.  Mostra uma mãe e uma criança vivendo num espaço minúsculo de cerca de 10 metros quadrados, sem nunca sair de lá.  Só um homem aparece regularmente, traz víveres e outras coisas, paga as despesas, vai para a cama com a mulher e some.  A filmagem acentua a exiguidade do espaço e a estranheza de uma vida num lugar sem janelas, de onde não se pode sair, em que a luz entra por uma claraboia no teto.
O que está acontecendo?  Como essas pessoas vieram parar aí?

 A mulher, Joy (Brie Larson), cuida de seu filho, que acaba de completar 5 anos, Jack (Jacob Tremblay).  Conversa, interage com ele carinhosamente, faz comida, faz e orienta-o a fazer exercícios, ele vê TV, dorme e brinca como pode. Ao observar o que se passa por lá, vamos percebendo pouco a pouco do que se trata, enquanto sofremos a situação e vislumbramos, depois de uns quarenta minutos de filme, que algo mais poderá suceder.




“O Quarto de Jack” explora bem a situação de uma criança que nasceu e sempre viveu naquele ambiente fechado, sem contato com ninguém ou com o mundo.  De que forma pode entender as coisas a partir das informações que recebe, basicamente, da mãe e da TV?  Realidade e imaginação se embaralham o tempo todo.

O que seria esse mundo em que um dia sua mãe diz que viveu e que imagens televisivas mostram?  O que acontece de fato e o que não?  Crianças tendem a ter um pensamento mágico, próprio da imaturidade, mas, quando tudo se confunde, que repertório pode ser desenvolvido para se conseguir viver no mundo e tentar compreendê-lo?




O filme vai nos levando, de suspense em suspense, e nos fazendo viver uma situação de terror psicológico constante, quando nos detemos na vida e no comportamento adulto.  O centro da narrativa, no entanto, é o mundo infantil de Jack, a maneira como ele apreende as coisas e como atua quando exigido.  O que percebe e capta do mundo dos adultos e o que faz com isso.  Nesse registro, tudo se dá de forma diferente, até os medos são outros.

O filme, uma adaptação do romance “Room”, de Emma Donoghue, descreve uma situação realista, mas é do mundo interno dos personagens que se trata.  Algumas das soluções encontradas não são muito convincentes.  Algumas das reações de Jack, também não.  Mas isso não importa muito.  A trama é boa, consistente e sintonizada com o nosso tempo.  Hoje o que é real e o que é virtual estão cada vez mais mesclados, de modo que todos vivemos, de algum modo, o drama de Jack.




Os protagonistas de “O Quarto de Jack”, a atriz Brie Larson e o menino Jacob Tremblay, têm ótimo desempenho.  Impossível não sofrer com eles, não torcer por eles.  Em especial, pelo garoto, um belo achado do diretor Lenny Abrahamson.

O filme, produção do Canadá de língua inglesa e da Irlanda, concorre ao Oscar 2016.  Tem méritos para ser lembrado.  Dificilmente terá chance como melhor filme, mas concorre também como melhor roteiro adaptado e melhor atriz, para Brie Larson.  Quem sabe?



domingo, 21 de fevereiro de 2016

O CAVALO DE TURIM

                    
Antonio Carlos Egypto



  

 O CAVALO DE TURIM (WA Torinói Ló).  Hungria, 2011.  Direção e roteiro: Béla Tarr.  Com János Derzsi, Erika Bók, Mihály Kormos.  146 min.



Béla Tarr é um cineasta húngaro, nascido em 1955, que tem um trabalho autoral rigoroso e radical. Seu cinema é feito de longos planos sequência, com muitas repetições de atos silenciosos e brigas ou desentendimentos verbais, onde as palavras e expressões de ofensa ou mágoa também podem se repetir muito.  É um trabalho artístico, que põe sua beleza a serviço de uma visão desesperançada do mundo.

Para quem nunca viu um filme de Béla Tarr, o que escrevi aqui pode assustar ou desestimular o interesse por seu cinema.  Sim, é um cinema sofrido, porém, desafiador, capaz de nos transportar a universos e situações em que mergulhamos tão intensamente que saímos da experiência tocados por sensações e sentimentos fortes, mas que nos levam a refletir sobre o que vivenciamos ali.




O mais recente filme do diretor, concluído em 2011 e agraciado com o Urso de Prata do Festival de Berlim, é “O Cavalo de Turim”, que o cineasta afirma que deve ser sua última produção cinematográfica.  Uma pena, se essa intenção se confirmar.

No texto de abertura do filme lê-se o seguinte: “Em Turim, em 03 de janeiro de 1889, Friedrich Nietzsche sai do imóvel da Via Carlo Albert, número 6.  Não muito longe dali, o condutor de uma carruagem de aluguel está tendo problemas com um cavalo teimoso.  O cavalo se recusa a sair do lugar, o que faz com que o condutor, apressado, perca a paciência e comece a chicoteá-lo.  Nietzsche aparece no meio da multidão e põe fim à cena brutal, abraçando o pescoço do animal, em prantos.  De volta à sua casa, Nietzsche então permanece imóvel e em silêncio, durante dois dias, estendido em um sofá, até que pronuncia as definitivas palavras finais (“mãe, eu sou um idiota”) e vive por mais dez anos, mudo e demente, sendo cuidado por sua mãe e suas irmãs.  Não se sabe que fim levou o cavalo.”




O filme passa, então, a mostrar a vida de um condutor de uma carroça, de sua filha e do cavalo.  Não há qualquer referência a Nietzsche, além do texto inicial.  “O Cavalo de Turim”, na realidade, nos mostra a vida miserável desses personagens, numa habitação do século XIX.  Os únicos pertences são uns poucos móveis rústicos, alguma roupa, lenha, fogão, água e batatas.

Fora da casa, um poço que provê a água e o estábulo, com o cavalo e a carroça.  Passamos a viver intensamente o cotidiano dessa casa, onde os movimentos e os gestos se repetem, quase nada se fala e um vento forte e permanente aparece quando se sai da casa, se abre a porta ou se olha pela janela. A paisagem externa é desoladora, assim como o interior da casa.  Se não existisse uma reserva de batatas, a fome se imporia de forma absoluta.  Ou se o poço um dia secar...




As imagens em preto e branco, os enquadramentos perfeitos, mas quase imutáveis e a rotina minimalista dos personagens, captadas por meio de planos sequência longuíssimos, conseguem nos transportar para a vida no limite da fome e da morte, em pleno final do século XIX.

Os poucos elementos em cena são também essenciais para a obtenção desse efeito.  Estamos em outra época, em outro mundo.  No entanto, nos deparamos com uma questão que permanentemente tem desafiado a existência humana em todas as épocas: a erradicação da miséria.  Impossível não se sensibilizar para essa questão, após assistir a “O Cavalo de Turim”.





O símbolo do cavalo é também muito bem explorado, desde a sua movimentação intensa, no início do filme, até sua paralisia completa, em que ele prenuncia e como que escolhe seu fim.


Uma obra de arte soberba, extremamente sofrida, difícil mesmo de assistir.  Mas uma obra maiúscula.  Radical em todos os sentidos. É até uma surpresa que esteja sendo lançada comercialmente nos cinemas, embora com muito atraso.    De qualquer modo, atingirá um público reduzido, que terá condições de apreciar tal experiência cinematográfica.  Os que entrarem no cinema desavisados ou serão tocados fortemente pelo filme, ou se ausentarão antes do seu final.  Experimentos radicais geralmente produzem respostas de amor intenso ou ódio profundo.  Não é assim? 



sábado, 20 de fevereiro de 2016

O ABRAÇO DA SERPENTE


Antonio Carlos Egypto





O ABRAÇO DA SERPENTE (El Abrazo de la Serpiente).  Colômbia, 2015.  Direção: Ciro Guerra.  Com Nilbio Torres, Antonio Bolívar, Yauenkü Miguee, Jan Bijvoet, Brionne Davis.  125 min.



Os relatos de dois cientistas e exploradores da região amazônica são a base do roteiro do filme colombiano “O Abraço da Serpente”, dirigido por Ciro Guerra.  O etnólogo alemão Theodor Koch-Grünberg (1862-1924) explorou a região amazônica da América do Sul e estudou os povos da floresta.  Morreu no Brasil, na cidade de Boa Vista.  O botânico norte-americano Richard Evans Schultes (1915-2001) explorou a mesma região, interessado especialmente em uma planta, descoberta e citada nos relatos de Koch-Grünberg: a yakruna.

O filme constrói uma narrativa que dá vez e voz aos conhecimentos, crenças, lendas e tradições dos povos indígenas da região da Amazônia colombiana, a partir do personagem Karemakate, em dois tempos.  Primeiro, como último sobrevivente de seu povo, vivendo isolado  selva adentro.  Desconfiado e crítico, por razões óbvias, do homem branco e da exploração da borracha, que trouxe a desgraça e dizimou seu povo.  Depois, em outro tempo, como um xamã esquecido, perdido na sua mata, vivendo problemas de identidade em decorrência das faltas de referência e de memória.




Nos dois tempos, há o convívio complexo e conflitivo com os cientistas exploradores.  E também a possibilidade de aprender com brancos que não desejam destruir os aborígenes ou explorá-los, mas conhecê-los, valorizá-los, divulgar seus conhecimentos.

A narrativa se desenvolve na forma de uma aventura, que traz perigos, desencontros e vai revelando o que se encontra nessa floresta: o que resta de seus povos de origem, a exploração a que estão expostos, o uso religioso equivocado e autoritário, encontrado em alguns locais.  Com direito a manifestações tresloucadas e messiânicas, que não libertam, oprimem.




A natureza é exuberante, evidentemente. E bem explorada nessa aventura.  Uma bela fotografia em preto e branco se encarrega de ressaltá-la.  O nosso anseio estético pediria que o filme fosse a cores.  Seria ainda mais atraente.  Poderia se tornar mais exótico, turístico e não tão propenso ao uso reflexivo?  Não creio.  Em dois momentos, no início e no fim do filme, imagens de formas geométricas a cores são inseridas.  Remetem ao futuro?  À passagem do tempo?

Sem dúvida, o tempo joga um papel relevante em “O Abraço da Serpente”. Coisas, lembranças, memórias, são levadas pelo tempo.  Povos inteiros se desfazem e desaparecem, ao longo do tempo.  Pela ação predatória dos seres humanos, toda uma tradição e uma identidade tendem a desaparecer.  Se considerarmos que metade da superfície da Colômbia está na região amazônica, há aí uma forte perda do próprio significado de nacionalidade.




Que sentido tem hoje para todos nós a busca por uma planta divina que cura e ensina a sonhar?  Essa foi a razão de ser de uma expedição científica em busca dessa planta, a yakruna, que, na realidade, simboliza a própria existência de, pelo menos, um povo indígena que está desaparecendo.

O resgate do conhecimento dos povos na floresta, intimamente relacionado à vivência com a selva, sua água, seus animais, sua multiplicidade de plantas, envolve uma questão cultural, antropológica, da maior relevância. O filme contribui para valorizar tudo isso, apontar para o que está sendo perdido e o que ainda pode ser recuperado, por meio de um personagem indígena que é o centro da narrativa.  Através dele nos integramos à realidade da floresta amazônica, que também nos diz respeito e muitas vezes nem nos damos conta disso.




O elenco de “O Abraço da Serpente” nos leva para dentro da dimensão amazônica, como se estivéssemos fazendo parte daqueles povos e dos exploradores que vêm do mundo desenvolvido, em busca de sua cultura. É muito convincente o desempenho dos atores.  Trata-se de uma experiência que vale a pena e mostra a força do cinema colombiano atual.  O filme está entre os cinco finalistas do Oscar 2016 de filme estrangeiro, o que é um reconhecimento importante, em termos de mercado.



quinta-feira, 18 de fevereiro de 2016

O LOBO DO DESERTO


Antonio Carlos Egypto




O LOBO DO DESERTO (Theeb).  Jordânia, 2014. Direção: Naji Abu Nowar.  Com Jacir Eid, Hassan Mutlag, Hussein Salameh, Marji Audeh, Jack Fox.  100 min.



“O Lobo do Deserto”, produção capitaneada pela Jordânia (com Emirados Árabes, Qatar e Reino Unido), concorre ao Oscar 2016 de filme estrangeiro.  Está entre os cinco selecionados para a disputa.  É produto de um diretor estreante, Naji Abu Nowar, que mostra inegável talento na filmagem de uma história centrada na figura de uma criança, o Theeb, do título original, que vive uma jornada de imenso perigo e sobrevive.

O contexto histórico não fica muito claro para nós, mas estamos no deserto da Arábia, em 1916, em meio à Primeira Guerra Mundial. 




Theeb (Jacir Eid), que significa lobo, vive numa tribo beduína em algum ponto distante do Império Otomano. O menino convive com seu irmão maior, que procura lhe ensinar o estilo de vida beduíno.  O sheik, seu pai, morreu recentemente.  E é da perspectiva iminente da morte, todo o tempo, que vive a narrativa centrada no menino.

Vemos a chegada de um oficial britânico àquelas paragens, pedindo ajuda para localizar um poço romano, no caminho para Meca, antiga rota de peregrinos, agora tomada por bandidos, mercenários, revolucionários e corsários. E Theeb, mesmo a contragosto dos viajantes, acompanha o irmão, o oficial e seu companheiro, numa jornada repleta de perigos, tiroteios e mortes, que remete ao gênero western.  As linhas de trem anunciam que os camelos vão cedendo a vez ao progresso.




O filme, ao se focar na figura do menino, se exime de explicar melhor o contexto.  Tanto quanto nós, espectadores, o menino não sabe o que está acontecendo.  Porque as pessoas se matam nesse local do deserto, o que está em jogo, que papel tem o oficial inglês nessa história e o que ele carrega consigo que parece valioso. A Theeb cabe, prematuramente, se defender, se esconder, sair de um poço onde caiu, manejar armas, conviver com um homem que não conhece e não sabe direito a que veio, escalar montanhas de pedra e, enfim, tentar sobreviver.

O clima de tensão é criado ao explorar em panorâmicas ao mesmo tempo um ambiente misterioso, belo e assustador, e ao focar bem de perto a figura de Theeb, seu irmão maior e outros personagens, colocando-nos dentro da ação.  Uma ação, como disse, um tanto incompreensível.  Estamos vivendo os fatos como se fôssemos uma criança, como é Theeb, com cerca de 10 anos de idade.  É evidentemente assustadora a jornada vivida pelo menino.




A trama não desvenda propriamente o mistério, mas constrói um conjunto de situações que não só envolve o espectador como o intriga.  Tudo vai ficando um pouco mais claro à medida que os eventos se sucedem.  A sequência final fecha bem a trama.  Até surpreende, mas o mistério das relações envolvidas permanece.

É uma bela produção, muito bem realizada.  Uma boa surpresa em termos cinematográficos esse filme da Jordânia, que já conquistou alguns prêmios importantes, como um BAFTA, distribuição garantida em muitos países e disputa o Oscar dentro de alguns dias.


sábado, 13 de fevereiro de 2016

OVELHA NEGRA


Antonio Carlos Egypto




OVELHA NEGRA (Hrútar). Islândia, 2015.  Direção: Grímur Hákonarson.  Com Sigurour Sigurjónsson, Theodór Júlíusson, Charlotte Böving, Jón Benónysson.  93 min.



Na Islândia, um país nórdico de baixa densidade populacional, há mais carneiros e ovelhas do que gente.  São cerca de 800 mil desses animais, para um contingente populacional de 320 mil pessoas. Compreensível, portanto, que “Ovelha Negra” construa sua narrativa em torno desse relacionamento dos seres humanos com os animais.  Os irmãos Gummi (Sigurour Sigurjónsson) e Kiddi (Theodór Júlíusson) criam e cuidam de rebanhos de ovelhas e disputam entre si não só os prêmios anuais para os melhores espécimes, mas o próprio espaço comum que herdaram dos pais. E o mais incrível:  não se falam há quarenta anos.  O meio de contato, quando necessário, é um cachorro que serve de mensageiro.




A Islândia tem vulcões e água quente disponível em grandes proporções, mas tem um clima muito frio, em que a neve abunda e as paisagens dominadas por montanhas glaciais encantam.  A terceira maior geleira do mundo se encontra lá.  As geleiras ocupam 15% do seu território. Muito apropriado que no filme “Ovelha Negra” terríveis nevascas entrem na história e, de quando em quando, alguém tenha de ser socorrido em meio à forte neve, antes de que congele.

Grandes espaços se abrem para serem enquadrados pelas câmeras numa região de fazendas agrícolas, nos arredores das montanhas nevadas.  Tudo muito bonito e tão convincente que dá para sentir o frio dentro do cinema, mesmo acabando de passar por uma temperatura de mais de 30 graus lá fora.  Claro que o cinema tem ar condicionado, mas é mais do que um simples refresco o que se sente diante das imagens cobertas de gelo que ocupam a telona.




Tudo isso pode ser interessante e exótico, mas o filme de Grímur Hákonarson vai muito além.  Ele nos coloca diante do problema da difícil convivência humana, que pode comprometer relações fraternas, da competitividade, do orgulho ferido, da complexa teia de comportamentos que avançam e retrocedem no afeto que as envolve, na solidariedade, a necessária e a possível, no desmoronar de barreiras aparentemente indestrutíveis.

É um filme humanista e sensível, cercado de uma natureza exuberante e muito branca, em belos enquadramentos e ovelhas por todos os lados, brancas ou negras.  Conta com dois atores veteranos como protagonistas, que conduzem com muita força e dedicação seus personagens.




“Ovelha Negra” representou a Islândia na disputa pelo Oscar de filme estrangeiro, depois de ser escolhido como o melhor filme da mostra “Un Certain Regard”, no Festival de Cannes.




sexta-feira, 12 de fevereiro de 2016

OS 10 MAIS DE 2015


Antonio Carlos Egypto


Para não perder o hábito, e atender à demanda da Abraccine, do Cinesesc e da Confraria Lumière, fiz as minhas listas dos dez melhores filmes de 2015, nacionais e estrangeiros. Não fiz distinção entre ficção e documentário.

Nessas listas, sempre se utiliza o critério de escolher entre os filmes que estrearam no circuito regular nos cinemas.  Festivais, mostras, sessões especiais e outras formas de lançamento de filmes são excluídas.

A coisa às vezes se complica porque alguns ótimos filmes são lançados nos últimos dias do ano, quando algumas listas já estão produzidas e até publicadas.  O filme IDA, de Pavel Pawlikowski, da Polônia, teria de constar da minha lista dos 10 Mais de 2014, mas não figurou e agora não pode figurar na de 2015.  Registro, então, que ele mereceria estar em qualquer uma das duas. 

Vamos, então, às listas.


Que horas ela volta?

Os 10 Mais Nacionais
1.    QUE HORAS ELA VOLTA?  de Anna Muylaert.
2.    CHICO, ARTISTA BRASILEIRO, de Miguel Faria Jr.
3.    CHATÔ, O REI DO BRASIL, de Guilherme Fontes.
4.    A HISTÓRIA DA ETERNIDADE, de Camilo Cavalcante.
5.    AUSÊNCIA, de Chico Teixeira.
6.    CASA GRANDE, de Fellipe Barbosa.
7.    JIA ZHAN-KE, UM HOMEM DE FENYANG, de Walter Salles.
8.    A HORA E A VEZ DE AUGUSTO MATRAGA, de Vinícius Coimbra.
9.    IVAN, de Guto Pasko.
10. DEPOIS DA CHUVA, de Cláudio Marques e Marília Hughes.



Winter Sleep


Os 10 Mais Estrangeiros
1.    WINTER SLEEP, de Nuri Bilge Ceylan, Turquia.
2.    NOSTALGIA DA LUZ, de Patrício Guzmán, Chile.
3.    ADEUS À LINGUAGEM, de Jean-Luc Godard, França.
4.    UM POMBO POUSOU NUM GALHO, REFLETINDO SOBRE A EXISTÊNCIA, de Roy Andersson, Suécia.
5.    FORÇA MAIOR, de Ruben Östlund, Suécia.
6.    O CLUBE, de Pablo Larraín, Chile.
7.    A GANGUE, de Miroslav Slaboshpitsky, Ucrânia.
8.    TIMBUKTU, de Abderrahmane Sissako, Mauritânia.
9.    HOMEM IRRACIONAL, de Woody Allen, Estados Unidos,.
10. BIRDMAN, de Alejandro González Iñarritu, Estados Unidos.



terça-feira, 2 de fevereiro de 2016

O REGRESSO


Antonio Carlos Egypto




O REGRESSO (The Revenant).  Estados Unidos, 2015. Direção: Alejandro González Iñárritu.  Com Leonardo Di Caprio, Tom Hardy, Domhall Gleeson, Will Poulter, Paul Anderson, Chistoffer Jones.  156 min.



Certa vez, Alfred Hitchcock comentou que no cinema se morre facilmente, mas que matar um homem é muito mais complicado e difícil de executar.  Exemplificou isso na famosa cena do assassinato no fogão, do filme “Cortina Rasgada”, de 1966.

O filme “O Regresso”, um dos mais fortes concorrentes ao Oscar 2016, mostra o personagem Hugh Glass (Leonardo Di Caprio) com sete vidas, ou seja, sobrevivendo a tudo, ao impossível, ao inimaginável.  O regresso do título se refere ao retorno à vida após a morte iminente, decretada, com direito até à cova e à terra por cima do corpo.  Sobreviver significa uma luta sem tréguas, uma tenacidade, uma disposição de espírito invejável, nas condições mais adversas.




Trata-se, na narrativa, de um explorador/caçador nas florestas selvagens norte-americanas, convivendo com exploradores rivais e suas armas de fogo, grupos indígenas e suas flechas, com um inverno cruel, de tão rigoroso, e com os animais na selva, ursos, entre eles.  E, claro, com a cobiça e a competitividade humanas, em seus aspectos mais agressivos. 

É uma aventura épica de sobrevivência das mais incríveis e viscerais.  Mostrada com muita técnica e efeitos especiais, mas de forma realista, informando que se baseia em fatos reais.  Não se assemelha às habituais batalhas ao estilo videogame, em que a morte nunca parece uma questão real e possível de alcançar o herói. 




Aqui, não, o protagonista está em risco de vida o tempo inteiro.  Destruído, semimorto ou renascendo das cinzas. É uma trama intensa, sofrida, violenta e, também, sangrenta. Trata-se, porém, de um filme magnificamente bem realizado, espetaculares movimentos de câmera exploram uma locação de grande beleza, que nos possibilitam uma forte imersão nessa selva inóspita, que cheira a morte, com muita ação.

A caracterização dos personagens, os figurinos, a maquiagem e um esplêndido trabalho de som, além da música também espetacular, do conhecido talento de Ryuchi Sakamoto, fazem de “O Regresso” um forte espetáculo cinematográfico.  Capaz de aproveitar os recursos tecnológicos do cinema atual e de suas salas de exibição contemporâneas.




Não por acaso, esse espetáculo foi o que recebeu mais indicações para o Oscar.  São 12, vejam só: filme, direção, figurino, fotografia, ator e ator coadjuvante, efeitos especiais, mixagem de som, edição de som, direção de arte, maquiagem e edição.  Já recebeu o Globo de Ouro de melhor filme, diretor e ator.  Está com tudo, no momento.

O diretor mexicano Alejandro González Iñárritu tem uma carreira de grande prestígio no cinema norte-americano, pelos grandes filmes que realizou e pelos prêmios já conquistados, a partir de “Amores Brutos”, em 2000, premiado com o BAFTA, indicado ao Oscar de filme estrangeiro, e “21 gramas”, em 2003, “Babel”, em 2006, e com “Birdman”, que levou no ano passado os principais Oscar, de melhor filme e diretor.




Leonardo Di Caprio, que já levou o Globo de Ouro, desta vez leva o Oscar?  Bem provável, e será merecido, sem dúvida.  Aliás, até já amadureceu demais a sua vez.  Será novamente a vez de Iñárritu no Oscar?  Vai saber.  Méritos como realização “O Regresso” tem, especialmente se o olharmos pelo prisma do grande espetáculo.  Mas não é um filme vazio, é uma celebração da luta pela vida, uma obsessão permanente para os humanos.  Nossos tempos parecem ser especialmente difíceis e desafiadores para essa luta, com tantas guerras, terrorismo, intolerância religiosa e radicalizações de todos os tipos.  É, portanto, bem-vinda essa celebração.