Antonio Carlos
Egypto
BYE
BYE ALEMANHA (Es War Einmal in
Deutschland). Alemanha,
2016. Direção e roteiro: Sam Garbarski. Com Moritz Bleibtreu, Antje Traue, Mark
Ivanir, Anatole Taubman, Hans Löw. 101
min.
Os judeus alemães, que conseguiram sobreviver ao
regime nazista, logo após a Guerra têm um sonho comum: abandonar a Alemanha e
partir para os Estados Unidos. É o caso de
David Bermann (Moritz Bleibtreu) e seus amigos, em Frankfurt, em 1946. Com um negócio de família de venda de roupa
fina para os alemães, já é possível obter o dinheiro para a viagem, e o visto
para a América é quase automático na situação dele. Porém, ao examinar seus documentos e
vasculhar seu passado recente, a oficial americana Sara Simon (Antje Traue)
resolve investigar melhor e encontra coisas suspeitas.
O filme “Bye Bye Alemanha”, do diretor Sam Garbarski,
conta a história desse personagem da vida real, do que ele relata e do que ele
esconde, e vamos descobrindo uma personalidade cheia de nuances e jogo de
cintura, que explicam sua sobrevivência.
David tem também uma malandragem e uma vivacidade intelectual que,
certamente, contam muito em situações extremas.
Basta dizer que um dos elementos centrais nessa história é sua
capacidade de contar piadas, nos momentos e situações mais improváveis. E o humor salva.
A trama é muito boa e muito bem contada, pelo
cineasta que já nos deu dois bons filmes antes: “Irina Palm”, em 2007, e “O
Tango de Rashevski”, em 2003. Seu estilo
de narrar é tradicional e popular.
Comunicativo e bem humorado, geralmente abordando temas bem sérios, como
é o caso aqui.
O ator alemão Moritz Bleibtreu é talentoso e compõe muito
bem o tipo retratado no filme. Ainda
assim, não sei se seria a melhor escolha para o papel. Para um personagem que conta piadas, ele é
discreto demais. Ele optou por uma
interpretação contida, considerando o contexto, mas acredito que tenha exagerado
um pouco na dose.
A personagem de Sara também comportaria mais
expansividade. Ela enfatiza mais as
suspeitas em relação ao personagem do que o acolhimento e o direito de
considerar-se uma pessoa inocente até prova em contrário, na maior parte do
filme.
“Bye Bye Alemanha” traz uma boa caracterização de
época, incluindo uma fotografia que, em tons sépia, cinza e ambientação
escurecida, nos remete ao passado, e um passado nada glorioso. Não fosse o tom bem humorado da realização,
poderia resultar em um filme pesado. Não
é o caso. Esse é um dos méritos de “Bye
Bye Alemanha”: tratar com respeito, mas sem muita dramaticidade, de um assunto
grave. E por um ângulo inesperado, como
verá quem for assistir ao filme.
“Bye Bye Alemanha” é o filme de abertura e faz parte
do 21º. Festival de Cinema Judaico, tradicionalmente promovido pela Hebraica -
São Paulo. O festival, que vai de 30 de
julho a 09 de agosto, estará em 2017 também no Cinesesc, MIS, Cinemark Pátio
Higienópolis, Teatro Eva Hertz, da Livraria Cultura, e Casa das Rosas. São 24 produções, entre ficção e documentário, sendo 19
inéditas, de diversos países, com foco nas questões judaicas, de modo amplo.