Antonio Carlos Egypto
RIO SONATA – NANA CAYMMI. Suíça, 2010. Direção: Georges Gachot. Documentário. 84 min.
O produtor e diretor franco-suíço Georges Gachot realiza, pela segunda vez, um trabalho amoroso e de grande profissionalismo, dedicado à musica popular brasileira de alta qualidade, por meio de uma de suas intérpretes mais sofisticadas: Nana Caymmi.
Assim como já havia feito com Maria Bethânia, no brilhante “Música é Perfume”, de 2005, “Rio Sonata” flagra a elaboração do trabalho criativo de Nana, seu jeito de ver e cantar o que gosta, sem preocupação com movimentos ou modismos e sua maneira de ser e de se expressar por meio da música.
Mostra nos depoimentos da própria Nana como ela sempre se viu cantando, desde a mais tenra idade, e como ela estava predestinada a ser cantora pelo resto da vida. Uma espécie de missão, um talento natural, um prolongamento da sua própria casa.
Nana é filha de um dos maiores compositores da MPB de todas as épocas. Dorival Caymmi compunha e cantava com afetividade, usando uma voz aveludada, melodias lindíssimas, envolventes, dessas que abraçam o ouvinte e o transportam para o âmago da natureza e dos sentimentos humanos. As letras têm um poder de síntese tal, expressam tudo em pouquíssimas palavras, que aquilo parece simples de tão sofisticado que é. Um gênio.
Ser filha de um gênio não deve ser fácil, mas só de pensar que Caymmi compôs “Acalanto” especialmente para ela, quando pequena, já justifica toda uma vida, como ela mesma diz, no documentário.
Herdeira de uma família de músicos, como os irmãos Dori e Danilo, com quem compartilha criações constantes, e a obra de inspiração paterna, Nana só podia estar mesmo predestinada à música. Também foi casada com Gilberto Gil, outra influência musical extraordinária. E as câmeras de Georges Gachot registram tudo isso e muito mais: o entusiasmo de Milton Nascimento pela cantora, a amizade de infância com o pianista Nelson Freire e os diálogos musicais empolgantes com Tom Jobim, Maria Bethânia, João Donato, Erasmo Carlos. Tudo de forma coloquial, simples, como o talento do velho Dorival.
Se Dorival Caymmi é a própria expressão da Bahia, Nana é puro Rio de Janeiro. Daí a ênfase que o filme põe na relação de Nana com sua cidade do coração. “Rio Sonata” é também um Rio de Janeiro clássico, que se expressa por meio da música. E que se faz presente ao lado de tantas outras facetas que a cidade tem, algumas que incomodam Nana.
Uma beleza de documentário, que traz um olhar estrangeiro generoso para com essa música brasileira que conquista muita gente em todo o mundo. E que, obviamente, tem muitos méritos para isso. Assim como Nana Caymmi, que merece essa homenagem, como mereceu ter gravações escolhidas por trilhas de novela que acabaram ajudando a transformar o que foi concebido sofisticado e sem concessões em sucesso popular.
RIO SONATA – NANA CAYMMI. Suíça, 2010. Direção: Georges Gachot. Documentário. 84 min.
O produtor e diretor franco-suíço Georges Gachot realiza, pela segunda vez, um trabalho amoroso e de grande profissionalismo, dedicado à musica popular brasileira de alta qualidade, por meio de uma de suas intérpretes mais sofisticadas: Nana Caymmi.
Assim como já havia feito com Maria Bethânia, no brilhante “Música é Perfume”, de 2005, “Rio Sonata” flagra a elaboração do trabalho criativo de Nana, seu jeito de ver e cantar o que gosta, sem preocupação com movimentos ou modismos e sua maneira de ser e de se expressar por meio da música.
Mostra nos depoimentos da própria Nana como ela sempre se viu cantando, desde a mais tenra idade, e como ela estava predestinada a ser cantora pelo resto da vida. Uma espécie de missão, um talento natural, um prolongamento da sua própria casa.
Nana é filha de um dos maiores compositores da MPB de todas as épocas. Dorival Caymmi compunha e cantava com afetividade, usando uma voz aveludada, melodias lindíssimas, envolventes, dessas que abraçam o ouvinte e o transportam para o âmago da natureza e dos sentimentos humanos. As letras têm um poder de síntese tal, expressam tudo em pouquíssimas palavras, que aquilo parece simples de tão sofisticado que é. Um gênio.
Ser filha de um gênio não deve ser fácil, mas só de pensar que Caymmi compôs “Acalanto” especialmente para ela, quando pequena, já justifica toda uma vida, como ela mesma diz, no documentário.
Herdeira de uma família de músicos, como os irmãos Dori e Danilo, com quem compartilha criações constantes, e a obra de inspiração paterna, Nana só podia estar mesmo predestinada à música. Também foi casada com Gilberto Gil, outra influência musical extraordinária. E as câmeras de Georges Gachot registram tudo isso e muito mais: o entusiasmo de Milton Nascimento pela cantora, a amizade de infância com o pianista Nelson Freire e os diálogos musicais empolgantes com Tom Jobim, Maria Bethânia, João Donato, Erasmo Carlos. Tudo de forma coloquial, simples, como o talento do velho Dorival.
Se Dorival Caymmi é a própria expressão da Bahia, Nana é puro Rio de Janeiro. Daí a ênfase que o filme põe na relação de Nana com sua cidade do coração. “Rio Sonata” é também um Rio de Janeiro clássico, que se expressa por meio da música. E que se faz presente ao lado de tantas outras facetas que a cidade tem, algumas que incomodam Nana.
Uma beleza de documentário, que traz um olhar estrangeiro generoso para com essa música brasileira que conquista muita gente em todo o mundo. E que, obviamente, tem muitos méritos para isso. Assim como Nana Caymmi, que merece essa homenagem, como mereceu ter gravações escolhidas por trilhas de novela que acabaram ajudando a transformar o que foi concebido sofisticado e sem concessões em sucesso popular.