Os curtas-metragens podem trazer novas ideias
e experimentações técnicas, além de revelar novos talentos de cineastas. A produção brasileira é importante e
significativa no formato. O acesso a
eles é que é um pouco complicado.
É possível ver curtas em festivais, que
dedicam espaços específicos para eles.
Há o Festival de Curtas, o Anima Mundi e outros. Além disso, é possível vê-los em programações
de alguns canais de TV pagos. Ou
encontrá-los disponíveis pela Internet.
É pouco. Exige uma garimpagem,
uma busca deliberada. Por isso é importante a iniciativa da distribuidora
Arteplex Filmes e da programação dos cinemas Itaú de abrir espaço permanente
aos curtas em sessões de cinema, a preços acessíveis (R$14,00 a inteira e
R$7,00, a meia).
O programa que inaugura essa tendência não
podia ser melhor. É o curta-metragem
GUAXUMA, agraciado com o prêmio Abraccine (Associação Brasileira de Críticos de
Cinema) para o melhor curta brasileiro de 2018.
A sessão chamada de “GUAXUMA e Outras Histórias” mostra o trabalho da
diretora alagoana Nara Normande. Inclui
o curta de ficção “Sem Coração”, de 2014, e o curta de animação, “Dia
Estrelado”, de 2011.
GUAXUMA é um trabalho criativo, que envolve
uma combinação de recursos e técnicas a serviço de uma narrativa em primeira
pessoa, supostamente autobiográfica, da diretora. Ela trata de memória, real ou imaginária, que
remonta à sua infância, vivida na praia de Guaxuma, Alagoas, e de sua melhor
amiga, Tayra, da mesma idade, com dez dias de diferença no nascimento. Nara e Tayra formam uma dupla inseparável,
que afinal se separa, mas mantém uma relação duradoura de amizade. Com a separação, a praia idílica é
substituída pela cidade, mas o mar vai dentro de Nara. E ela sempre volta, até no inverno, quando
uma praga nos cajus se espalha ao vento, produzindo uma espécie de neve. A narração dá conta dos sentimentos,
lembranças, perdas e mudanças.
A combinação de filmagens, do mar e da praia,
com suas ondas e árvores, se associa aos bonecos, desenhos, origamis, fotos
antigas e areia em relevo construindo esculturas, mais a aceleração de imagens
gravadas, compõem um painel fascinante.
Associado a um uso muito criativo do som, produz uma pequena joia
fílmica, de apenas 17 minutos, que justifica a ida ao cinema.
GUAXUMA estreou em Annecy, na França, foi
premiado nos festivais Anima Mundi, de Gramado, de Brasília, e no de curtas em
São Paulo, com o prêmio do público. Foi
escolhido como o melhor filme narrativo, no Festival de Animação de Ottawa, no
Canadá, melhor curta-documentário em Hamptons, USA, em Amsterdã, Holanda, e em
Toronto, Canadá. Tão inovador, que
classificá-lo em um único gênero fica difícil.
Quem for ver “GUAXUMA e Outras Histórias”
poderá conferir o talento da diretora também em ficção com atores, ao tratar de
meninos em iniciação sexual, fazendo de uma menina, a “sem coração” do título,
um objeto e público, para seus desejos egoístas. Mas o significado de dar e receber pode ir
além do mero impulso. “Sem Coração”,
codirigido por Tião, tem 25 minutos de duração.
Também recebeu muitos prêmios.
“Dia Estrelado”, com 17 minutos, complementa o
programa, mostrando a diretora já com domínio das técnicas de animação. Com certeza, Nara Normande tem muito mais a
oferecer ao cinema brasileiro, daqui para a frente. Vale acompanhar.