Antonio Carlos Egypto
OPPENHEIMER
(Oppenheimer). Estados Unidos, 2023. Direção: Christopher Nolan. Elenco: Cillian Murphy, Florence Pugh, Robert
Downey Jr., Emily Blunt, Matt Damon, Rami Malek, Tom Conti, Kenneth
Branagh. 181 min.
Se os
cinemas andavam com pouco público, mesmo os blockbusters
recentemente lançados, isso mudou com a estratégia milionária, publicitária e
de marketing, que trouxe às salas, simultaneamente, “Barbie” e “Oppenheimer”. Lançados numa grande quantidade de cinemas,
vêm lotando sistematicamente as sessões.
“Barbie” é o que se pode chamar de um produto publicitário, de incentivo
ao consumo, não surpreendem seus números de bilheteria. Mas “Oppenheimer” é um filme mais sério e até
de compreensão difícil e, no entanto, já alcançou trezentos milhões de dólares
nas bilheterias mundiais, na primeira semana de exibição.
“Oppenheimer”
é o novo trabalho do cineasta inglês Christopher Nolan, que tem alcançado
grande êxito em Hollywood. Alguns de
seus filmes são: “Amnésia” (2000), “A Origem” (2010), “Interestelar” (2014),
“Dunkirk” (2017), além de Batmans. O
filme é uma adaptação da biografia escrita por Kai Bird e Martin Sherwin, de
2006, Oppenheimer – O triunfo e a
tragédia do Prometeu americano, prêmio Pulitzer, lançado agora no Brasil
pela editora Intrínseca, aproveitando a onda do lançamento cinematográfico sobre
o importante personagem histórico, o físico conhecido como o pai da bomba atômica.
Fui
ver “Oppenheimer”, já na segunda semana nos cinemas, sabendo que Nolan é um
cineasta muito competente, consegue verbas para fazer grandes e sofisticadas
produções, mas é um tanto hermético no modo de contar histórias, complicando,
às vezes, o que não seria necessário, dificultando a captação por parte do
espectador um pouco menos atento.
Claro
que Robert Oppenheimer (1904-1967) tem uma história, em linhas gerais,
conhecida. Mas me preparei para uma
jornada incômoda. Surpreendentemente,
não foi o que aconteceu. Não digo que o
filme não exija atenção concentrada do espectador, mas eu acompanhei com muito
gosto as longas três horas de exibição.
Sem maiores dificuldades, apesar de não ter tantas informações sobre o
tema. Não consegui identificar todos os
personagens envolvidos, mas isso não importa muito. O que o filme traz é bem
claro, tanto no que se refere à conquista científica e o compromisso ético que
ela tem de engendrar, quanto na enviesada leitura ideológica anticomunista, que
transformou o herói em traidor, quando nem deveria ser essa a questão. O que é lealdade à pátria e aos compromissos
bélicos aí incluídos? Cabe a reflexão
honesta e a expressão autêntica do pensamento se tornarem públicas? Como aliados na guerra se comportam, uns em
relação aos outros, em confronto com suas diferenças, apesar de objetivos
comuns? Como escolhas políticas podem
distorcer a compreensão de fatos que poderiam ser perfeitamente entendidos, se
outros interesses, pessoais, inclusive, não entrassem na história?
São
muitas e importantes as questões abordadas.
E absolutamente atuais, se pensarmos no substrato das armas atômicas que
estão ameaçadoramente presentes na invasão da Ucrânia pela Rússia, a guerra do
momento. O filme não faz alusão à
contemporaneidade da questão, mas é inevitável que nós o façamos.
Com
todo esse conteúdo, muita fala e complexidade, “Oppenheimer” é um filme bonito
de se ver. O uso do som apresenta grande
intensidade e precisão, o que valoriza também o momento do silêncio. A música que acompanha as cenas e acentua o
suspense, depois se torna minimalista, após o silêncio, e se liga a uma
exploração de imagens que ilustram a física nuclear, com suas manifestações
representadas por ondas, nuvens e explosões.
A
sequência do teste Trinity no Novo
México, em julho de 1945, pouco antes da explosão das bombas em Hiroshima e
Nagasaki, no Japão, é muito bem realizada e empolgante, vale por todo o
filme. E diz muito a todos nós, como
dizia ao físico Oppenheimer, tanto na reação eufórica quanto na depressiva
constatação da capacidade de produzir a morte em grande escala. Em escala planetária.
Acho
bom que um filme como esse seja visto por muita gente. Para quem ainda não viu e desconhece, ou
conhece pouco, o caso Oppenheimer, não custa nada pesquisar sobre ele na
Internet, antes de ir ao cinema. Isso
vai ajudar a acompanhar e entender melhor o filme, enquanto ele decorre, antes
que todo o quebra-cabeças esteja montado.
E não fiquem faltando muitas peças ao final.
“Oppenheimer”
tem um elenco estelar que valoriza o produto.
Mas o destaque é para o protagonista Cillian Murphy, que transmite muito,
com pouco movimento e faz com sutileza a sua interpretação do grande físico
teórico, que ele encarna muito bem.