Antonio Carlos Egypto
72 HORAS (The Next Three Days). Estados Unidos, 2010. Direção e roteiro: Paul Haggis. Com Russel Crowe, Elizabeth Banks, Liam Neeson, Olivia Wilde. 113 min.
John (Russel Crowe) é o que se pode chamar de um homem pacato e feliz. Tem uma esposa jovem, bonita, a quem ele ama e deseja intensamente: Laura (Elizabeth Banks). E um filho pequeno, de 6 anos de idade, vivo e inteligente. Tem, ainda, um bom padrão de vida, o que inclui uma boa casa e um carro novo e ecologicamente correto.
O melhor dos mundos, porém, pode desabar a qualquer momento. Laura é presa, acusada de assassinar sua chefe, com quem tinha visíveis problemas de relacionamento. Como John poderia assimilar uma coisa dessas no seu mundo tão bem ajeitado? Mais do que saber se ela é culpada ou inocente, se sua apelação vai ser aceita ou não, a questão é como viver sem ela e com o filho abalado por sua ausência. Mesmo contando com avós colaboradores, a barra pesa. Demais, para ele.
Partindo de questionamentos como esses, “72 Horas” constrói um espetáculo do gênero policial suspense, bastante envolvente, e que deixa o público tenso e em expectativa pelo que pode vir por aí. Com direito a algumas cenas de perder o fôlego, para não decepcionar os aficionados por filmes de ação.
A transformação de John é o centro da narrativa. Como é possível que esse homem seja capaz de tudo, para reencontrar o equilíbrio perdido? Mesmo com tão pouco domínio daquilo que está fazendo agora?
A chamada publicitária do filme tem uma frase marcante: “não há nada mais perigoso do que um homem com tudo a perder”. É verdade. Não se pode explicar assim o surgimento de feras humanas? Afinal, não são tipos extraordinários, mas, geralmente, gente comum, que não soube elaborar suas perdas, seus fracassos ou reveses. e acabou atravessando a linha que separa a sanidade da loucura.
O personagem vivido por Russel Crowe é bem interessante. Rico, matizado, racional e louco, calculista e destemperado. Um papel em que o ator convence pela sutileza da interpretação e veracidade que empresta ao personagem.
Por outro lado, o plano de fuga é elaborado demais, supõe controles impossíveis, é coisa que só pode acontecer desse jeito no cinema. A atuação policial, então, supõe uma dedicação sem limites, concentrada e absoluta, a um único caso, como se nada mais acontecesse, na cidade, no país ou no mundo. É coisa só de cinema, também.
Não importa. Esqueça todo o resto e deixe-se levar pela trama, por fantasiosa que seja. Fazendo assim, o entretenimento estará garantido. Um belo passatempo, apropriado para a época de festas, férias, em que está sendo lançado o filme. Só não espere nada mais do que isso.