quinta-feira, 29 de abril de 2021

NOMADLAND

Antonio Carlos Egypto

 

 


NOMADLAND, Estados Unidos, 2020.  Direção: Chloé Zhao.  Com Frances McDormand, David Strathaien, Linda May, Cherlene Swankie.  106 min.

 

 As crises do capitalismo e suas consequências para as pessoas mais velhas – maiores de 60 anos – com poucos recursos, sem emprego regular ou aposentadoria, chegaram ao Oscar 2021. 

 

O mais premiado como melhor filme, melhor direção e melhor atriz, foi “Nomadland” (terra nômade, terra dos nômades ou o mundo dos nômades, como poderia ser chamado por aqui).  É uma bela obra, de caráter quase documental, da diretora chinesa Chloé Zhao, que vive e trabalha nos Estados Unidos, tem críticas ao seu país de origem e teve sua retumbante vitória ignorada e censurada nos meios eletrônicos chineses. Ela foi também a segunda mulher a vencer o prêmio de melhor direção.  Pois é, um feito e tanto. 

 

O filme também é uma surpresa como vencedor de Oscar.  Trata de questões sociais com respeito e compreensão aos retratados, com sutileza e rarefação na narrativa.  A gente acompanha a vida daquelas figuras da terceira idade que decidiram viver na estrada, em trailers, vans, caminhonetes, casas sobre rodas, enfim. A protagonista Fern é vivida pela grande atriz Frances McDormand, premiada com justiça, mais uma vez, no Oscar.  Foi escolhida como melhor atriz também em 2018, por “Três Anúncios para um Crime” e, em 1997, por “Fargo”.  Seu papel é bastante representativo do universo retratado. 

 

A cidade de Empire, em Nevada, vê o fechamento de uma grande fábrica de gesso, que empregava quase todos na cidade, falir, após a crise de 2008.  O próprio CEP da cidade deixou de ser utilizado, meses após esse fato.  A cidade fantasma expulsa seus moradores, que precisam sobreviver.  Uma alternativa é iniciar uma vida nômade.  Viver no carro, estacionar em terrenos públicos, que não cobram, desde que se saia em duas semanas, e buscar, a cada quinze dias, uma atividade temporária, empregos sazonais simples, geralmente mal remunerados.  Para a viúva Fern, era uma saída e ela aprendeu até a gostar, na medida em que encontrava pessoas e grupos pelo caminho e os reencontrava periodicamente. Para quem tem facilidade no relacionamento, fica melhor. A solidariedade vale ouro nessa vida e traz pequenas trocas vantajosas a todos.

 

Frances McDormand se sente muito à vontade no papel de Fern, contracenando com os demais atores, que são nômades mesmo, estão representando a si próprios e expressando suas ideias de fato.  Ela se relaciona com eles com tal naturalidade e afetividade, que parece mesmo um deles.

 



O filme acompanha Fern em seus deslocamentos, trabalhos, dificuldades, e até em contatos familiares, e numa oferta de moradia e vínculo permanente em uma casa.  Mostra também os seus companheiros de jornada, com quem ela vai se encontrando e se despedindo amiúde.  Em função disso, “Nomadland” é também um filme de estrada, de deslocamentos, uma oportunidade para explorar belas paisagens, lugares menos conhecidos, como o deserto e partes da costa estadunidense.

 

É uma bela viagem que também nos convida à introspecção e à contemplação.  Quem poderia imaginar que um filme assim venceria os principais prêmios do Oscar?  Todos sabemos que o Oscar é um prêmio da indústria, não da arte.  Bilheterias contam muito.  Um cinema voltado para o mercado geralmente tem mais chance.  Mais uma coisa que a pandemia transformou.  Com os cinemas fechados a maior parte do ano de 2020, muitos filmes não foram terminados, não foram lançados, estão sendo guardados para o pós-pandemia e, sobretudo, não foram vistos.  Assim, o inesperado acontece, sob muitos aspectos.

 

“Nomadland” tem todos os méritos para ser descoberto e apreciado pelas pessoas.  Os que acreditam que os melhores filmes são os do Oscar vão ter de parar para pensar, porque o cinema que foi premiado em 2021 é bem diferente do que estão acostumados a aplaudir.  Pelo toque artístico, pelo toque feminino, pelo toque oriental, pelo ritmo e pelos valores que veicula.  É muito bom cinema.



terça-feira, 27 de abril de 2021

O AUTO DA BOA MENTIRA

Antonio Carlos Egypto

 

 O AUTO DA BOA MENTIRA.  Brasil, 2021.  Direção: José Eduardo Belmonte, com grande elenco.  100 min.

 

Ariano Suassuna


Ariano Suassuna (1927-2014) é uma das maiores referências culturais do nordeste e do Brasil. Poeta, dramaturgo, ensaísta, autor de clássicos como “O Auto da Compadecida”, “O Santo e a Porca” e “O Romance da Pedra do Reino e o Príncipe do Sangue do Vai-e-Volta”, está eternizado também na Internet, com suas famosas aulas-espetáculo.  Para quem não viu, faça uma navegação pelas palestras bem humoradas, com sacadas inteligentes, originais e muito divertidas, que felizmente estão lá guardadas.  Sempre que posso, me alimento daquela perspicácia toda e aprecio o timing perfeito das suas histórias, dos causos que ele conta, com riqueza de detalhes e nuances. E cheias de mentiras.  Segundo Suassuna, se ele não gostasse de mentir, não seria capaz de contar as histórias que conta e que o divertem tanto quanto a plateia.

 

Pois foi com base nesse material de Ariano Suassuna, suas frases de efeito e a exploração do uso da mentira, que se inspirou o filme de José Eduardo Belmonte “O Auto da Boa Mentira”.  Por meio de quatro histórias distintas e independentes, que têm a mentira como elemento comum, faz-se uma comédia que respeita e reverencia o autor, mas procura ampliar, ou melhor, diversificar o seu contexto.

 

Se há uma história bem característica da narrativa de Ariano Suassuna é a segunda, passada numa pequena cidade e no circo, com o palhaço Romeu (Jackson Antunes), que está na base de uma mentira a respeito da paternidade de Fabiano (Renato Góes).  Mentira perpetrada pela mãe , Cássia Kis, com a intenção de preservar o filho de sofrimento.  Mas outras mentiras vão se apresentar pelo caminho e complicar as escolhas, um tanto inocentes, de Fabiano.

 

A primeira e a quarta histórias surpreendentemente foram levadas para o ambiente empresarial.  Uma convenção de RHs num hotel, com um stand-up como atração, e uma festa de final de ano, numa empresa de publicidade, respectivamente.

Na primeira, um subgerente de relações humanas, Hélder (Leandro Hassum), acaba gostando de ser confundido com um humorista famoso e assume a mentira, até perceber que isso o põe em risco de vida ao conhecer Caetana (Nanda Costa). Há piadas que remetem ao próprio Hassum,  mais engraçado mais gordo ou mais magro, e inclui pequenos trechos de espetáculos dele.

 



Na quarta história, a referência é a um famoso causo que Suassuna conta sobre uma mulher esnobe que parecia dividir todas as pessoas entre as que já foram à Disney e as que não foram.  E os pseudointelectuais que citam escritores lidos no original ou grupos artísticos que ninguém conhece, exceto uma pequena elite.  A escolha de uma festa de publicitários como contexto enfraquece um pouco a força do comentário original, ao mesmo tempo em que demole as relações empoladas, falsas e exibicionistas, dos convivas da festa, implodindo tudo.  O chefe-mór, Norberto (Luís Miranda), que tem uma imensa foto na parede da firma, o pseudointelectual Felipe (Johnny Massaro) convivem com uma jovem estagiária invisível (Cacá Ottoni), que acaba sendo o foco de toda a situação.  A mentira, nesse caso, é a tônica de tudo e de todos, inclusive da estagiária esnobada.  A inspiração mudou de rumo.  A meu ver, ficou mais para Buñuel implodindo a burguesia do que para Suassuna.

 

A terceira história traz o autor para o Rio de Janeiro, os bares do Vidigal, e um gringo, Pierce (Chris Mason), que assimilou o jeito carioca de ser e de mentir, para justificar uma ausência.  Foi convincente para o amigo e dono do bar, Zeca (Serjão Loroza). O que não esperava é que acabaria de frente com o chefe do tráfico, Jesuíta Barbosa, num papel pouco apropriado ao seu tipo físico.  Pelo menos, ao estereótipo do personagem.

 

Em tempos de fake news, a mentira institucionalizada e mal intencionada, é apropriado  pensar na chamada boa mentira.  Aquela social, geralmente bem intencionada, que deseja preservar alguém, ser um jeito de se defender ou que promete algum ganho, mas que não prejudica os outros, (ou se supõe tal coisa), ou, ainda, que tem a intenção de divertir, sacanear o outro, tirar sarro, sem maiores pretensões.  Claro que todo mundo mente e, muitas vezes, isso é desejável ou até indispensável.  Mas é preciso tomar cuidado: a mentira tem perna curta, mas anda rápido.

 

O filme entra em cartaz dia 29 de abril, onde houver cinemas abertos.

domingo, 18 de abril de 2021

A ÚLTIMA FLORESTA

Antonio Carlos Egypto

 

 


O filme de encerramento do festival É TUDO VERDADE 2021 neste domingo (18/04), à noite, em www.etudoverdade.com.br é A ÚLTIMA FLORESTA, dirigido por Luiz Bolognesi, com roteiro do diretor e de David Kopenawa Yanomami, 74 min.

 

O documentário A ÚLTIMA FLORESTA trata da tribo Yanomami, isolada, na região amazônica em que se encontram Brasil e Venezuela.  Mas, como diz o filme, os Yanomami já estavam lá quinhentos anos antes de existirem os dois países.

 

O xamã David Kopenawa Yanomami, uma importante liderança indígena, tem lutado pelo seu povo, para preservar seu território, suas tradições, os relatos de sua origem e a relação com os espíritos da floresta.  Para isso, precisa se dedicar a combater os garimpeiros que invadem as terras, trazendo morte e doenças. 

 

Uma invasão devastadora ocorreu nos anos 1980.  Com a demarcação das terras nos anos 1990, a situação melhorou, mas nunca foi absolutamente tranquila.  Só que nos dois últimos anos o governo federal tem facilitado e até estimulado a ação dos garimpeiros.  Pelo menos, não tem fiscalizado ou punido as ações.  Está mais difícil para eles agora.

 

David deu as coordenadas desse trabalho documental sobre sua tribo, buscando revelar o mundo Yanomami ao observador de fora, no caso, nós, os espectadores no cinema.  Mesmo que em casa, como acabou sendo o caso.

 

A gente se delicia com as histórias de criação da tribo, que nos soam ingênuas, claro, mas bonitas, poéticas, cheias de fantasia.  O relacionamento das pessoas da tribo, com seus rituais, com as plantas, os rios e cachoeiras, os animais.  Essa simbiose com a natureza, que acolhe, celebra, dá saúde, força e cura, tem alegria.  O perigo é o homem branco, que vem para invadir, sugar da terra o lucro, desagregar.  E, especialmente, contaminar as águas com mercúrio, além de romper o equilíbrio da vida daquele povo.

 

Já é uma longa história de luta pela preservação da comunidade, que parece nunca ter fim, com seus altos e baixos.  É preciso estar sempre alerta e cada vez com mais intensidade.  Infelizmente, para o povo Yanomami.

 

O filme nos faz conhecê-los melhor e nos alerta, mais uma vez, para o que está acontecendo na Amazônia, essa devastação florestal intolerável, que compromete o planeta e sufoca as populações indígenas.

                             ______________________________

 

Neste domingo, às 17::00 h, serão conhecidos os vencedores do festival e depois serão disponibilizados os filmes premiados.  O evento da premiação, comandado por Amir Labaki, pode ser visto no canal do You Tube do festival.  Às 19:00 h, o filme de encerramento, comentado acima.  A reapresentação dos vencedores será na 3ª. feira, dia 20 de abril, às 19:00 e às 21:00 h.




quinta-feira, 15 de abril de 2021

FESTIVAIS

Antonio Carlos Egypto

 

 


Já começou o 47º. Festival SESC de Melhores Filmes do ano de 2020, promovido pelo Cinesesc, que acontece on line e gratuitamente.  É um dos festivais mais antigos da cidade de São Paulo, em que o público e a crítica elegem os melhores filmes do ano que passou, longas-metragens nacionais e internacionais.  Os premiados estarão disponibilizados a partir de hoje até o dia 05 de maio no sescsp.org.br/cinemaemcasa

É só entrar, clicar no filme e assistir.  Vários longas já estão lá, outros, entrarão na semana que vem.

 

Filmes excelentes que já podem ser assistidos são, por exemplo, HONEYLAND, MARTIN EDEN, O OFICIAL E O ESPIÃO e SERTÂNIA, que eu recomendo vivamente e já comentei no cinema com recheio.  Há mais, muito mais, de bom cinema por lá, além do festival: a trilogia AS MIL E UMA NOITES, do cineasta português Miguel Gomes. O primeiro longa é O INQUIETO, o segundo, O DESOLADO e o terceiro, O ENCANTADO.  Cinema finíssimo, de alta qualidade. Tem também o ótimo documentário chileno O PACTO DE ADRIANA, VIOLÊNCIA E PAIXÃO, de Luchino Visconti, OS PALHAÇOS, de Fellini, MAMMA ROMA, de Pasolini, A HORA DO LOBO, de Ingmar Bergman.  Descubra o Sesc Digital, vale a pena.  Repetindo o link de entrada: sescsp.org.br/cinemaemcasa

 




O Festival É TUDO VERDADE 2021 continua em cartaz on line e gratuito no www.etudoverdade.com.br  Entre as atrações, um documentário brasileiro importante de ser visto é OS ARREPENDIDOS, dirigido por Ricardo Calil e Armando Antenore, 74 min.  O filme joga luz num episódio no mínimo insólito.  No período da ditadura militar, a violenta repressão do regime, sobretudo a partir do AI-5, de 1968, engendrou uma resistência armada, por parte de setores da esquerda que, talvez numa perspectiva de desespero, não viam outro caminho para enfrentar e tentar pôr fim ao período autoritário, que se prolongava.  Não deu certo e, vendo com os olhos de hoje, parece mesmo uma aventura delirante, sem chance de sucesso.  Mas era uma luta que a juventude daquele período abraçou, correndo todos os riscos, na base da vida e da morte.

 

Pois bem, alguns terroristas, como assim eram chamados, aparentemente se arrependeram do que fizeram e se apresentaram perante a mídia, então totalmente sujeita à censura, levados pela polícia ou pelas autoridades militares que os prenderam para dar depoimentos.  Ali falam de seus erros, da manipulação, inclusive internacional, a que estiveram sujeitos, incluindo até elogios ao regime militar.  Difícil de crer.  O fato é que deu certo junto à opinião pública e, após a primeira leva de quatro militantes arrependidos, surgiram muitas mais. A farsa ficou evidente, principalmente quando se negava o que todos tinham passado, os maus tratos e a tortura.

 

No filme OS ARREPENDIDOS, ouve-se o depoimento de sobreviventes dessa experiência, inclusive daqueles que ainda hoje afirmam ter se arrependido mesmo, outros, que não, e pessoas que conviveram com os que já não estão mais aqui.  Todos, porém, reconhecem, e até detalham, as torturas sofridas.

 O que na época funcionou como instrumento, um tanto macabro, de propaganda da ditadura militar e deixou marcas permanentes nessas pessoas tornou-se um episódio obscuro e esquecido.  Em boa hora, lembrado nesse documentário.


terça-feira, 13 de abril de 2021

ZIMBA + ALVORADA

   Antonio Carlos Egypto

 



ZIMBA, dirigido por Joel Pizzini, é um documentário nacional que resgata o trabalho importantíssimo para o teatro brasileiro do polonês Zbigniew Ziembinski (1908-1978).  Ele aportou por aqui nos anos 1940, adotou o país e foi adotado pelo Brasil.  Ficou aqui até morrer e transformou o nosso teatro.  Na verdade, criou o teatro moderno brasileiro contando com sua bagagem europeia, já então muito rica e variada, como ator e encenador.


Dirigiu peças que marcaram a história teatral do país, montagens de tal modo inovadoras, em todos os aspectos, que nunca deixarão de ser citadas e lembradas.  É o caso de “O Vestido de Noiva”, de Nelson Rodrigues, em 1943, remontada por ele nos anos 1970.  Foi Ziembinski quem transformou Nelson Rodrigues em escritor teatral, a partir do reconhecimento da importância do texto, da sintaxe e da representatividade cultural do autor de “A Vida Como Ela É”, coluna jornalístico/literária famosa.

 

Zimba teve atuação fundamental em grupos como “Os Comediantes”, no Teatro Brasileiro de Comédia, o TBC, na companhia cinematográfica Vera Cruz, no teatro exibido pela TV, na formação de atores e atrizes que se destacaram e se tornaram nomes de primeira grandeza do teatro brasileiro. 

 

O filme ZIMBA faz uma seleção e uma colagem a partir de um vasto material sobre Ziembinski em uma montagem sofisticada.  Revela a figura e sua obra, ao longo do tempo, indo e vindo, sem nunca perder o fio da meada nem o foco na arte, que é o que importa.  Não se preocupa com didatismo, mas consegue explicar tudo muito bem para quem não saiba de quem se trata.  A personalidade de Zimba e seus métodos de trabalho estão lá por inteiro.  Os sentimentos que ele sempre despertou nos outros, sua capacidade criativa e revolucionária, a importância cultural que ele legou ao seu país de adoção.  Tudo isso num ritmo ágil e envolvente, contando com a narração de Nathalia Timberg, Camilla Amado e Nicette Bruno.  Um registro indispensável para o teatro e a cultura brasileiros que o documentário realiza com grande competência em apenas 78 minutos.

 




ALVORADA, dirigido por Anna Muylaert e Lô Politi, 90 min, nos remete a um período traumático da história política brasileira recente, o impeachment de Dilma Rousseff.

 

A equipe de filmagem acompanhou o que acontecia no Palácio da Alvorada, residência oficial da presidência, após a admissibilidade do impedimento ter sido aprovada na Câmara dos Deputados.  Acho que todos se lembram daquela sessão em que os parlamentares votavam citando seus familiares, suas cidades de origem ou destilando ódio, como aquele voto em homenagem ao torturador Brilhante Ustra.  Foi vergonhoso, repercutiu mal no exterior, mas estava feito.  Agora era esperar a sessão do Senado, presidida pelo STF, em que Dilma voltaria a se defender.  A rigor, não existiam mais esperanças. O governo tinha acabado.  A presidente estava afastada.  Michel Temer, o vice, assumira interinamente a presidência.

 

O que se vê no filme é o que se passa nesse período de espera e preparo da defesa final.  Dilma conversa calmamente com a equipe, fala de suas ideias, leituras, comenta coisas cotidianas, com evidente equilíbrio, num momento penoso para ela.  Ao contrário do que se chegou a aventar na imprensa, nenhum descontrole ou desespero.  Uma mulher no seu eixo.  E botando limites à filmagem, preservando sua intimidade e algumas discussões políticas que deveriam ser reservadas.  E ainda recebendo apoios de organizações populares.

 

Por que rever essa filmagem agora? Para nos lembrar da democracia em risco, que se rompeu a partir daí?  Talvez.  Mas o clima é nostálgico, triste, melancólico.  Algo estava se perdendo ali.  E não era pouca coisa.

 

www.etudoverdade.com.br

segunda-feira, 12 de abril de 2021

MULHERES EM AÇÂO

Antonio Carlos Egypto

 

As mulheres estão na luta por toda parte.  Estudando, trabalhando, se posicionando, partindo para a ação com coragem, sem esmorecer.  Esbanjando solidariedade e ternura.  O festival internacional de documentários É TUDO VERDADE 2021, como não podia deixar de ser, tem mostrado isso claramente.  Já citei aqui a figura da jornalista Maria Ressa, nas Filipinas, que enfrenta e sofre as consequências do regime opressor de Duterte, como o mostrado no filme “Mil Cortes”.

 

Gostaria de destacar agora o papel das mulheres e suas lutas em dois outros documentários muito interessantes.

 



9 DIAS EM RAQQA, filme francês, dirigido por Xavier de Lauzanne, 88 min,  nos leva à tragédia da região da Síria, que foi ocupada pelo ISIS, o autodenominado Estado Islâmico, e da coragem feminina a quem está destinado reconstruir a cidade de Raqqa.

 

Leila Mustapha, engenheira, de 30 anos, é a prefeita da cidade de Raqqa, no norte da Síria, que foi a base operacional do chamado Estado Islâmico, sua “capital”.  Ela e um grupo de mulheres, incluindo as de formação militar, tomaram para si a missão de reconstruir uma cidade em escombros, economicamente destruída, após a derrota do ISIS.  Essa missão envolve promover a união e a reconciliação de todos e garantir a democracia, superando essa opressão sem limites que a cidade viveu. Vocês devem se lembrar dos assassinatos, decapitações, humilhações impostas ao povo, em especial às mulheres, destituídas de qualquer direito humano, sob o domínio desse tal Estado Islâmico.

 

Uma escritora francesa ficou muito interessada em conhecer Leila e se propôs a escrever um livro sobre ela e sua inacreditável missão.  Para isso, se dispôs com coragem a atravessar o Iraque e a Síria e passar nove dias na cidade, mesmo sabendo de perigos iminentes, como as minas terrestres espalhadas que ainda estão por lá, sem falar nos militantes clandestinos do ISIS que podem voltar a agir por meio do terrorismo, a qualquer momento.  A própria prefeita tem forte segurança e se cuida em todos os seus deslocamentos, procurando ficar pouco tempo em cada lugar.

 

O que o documentário mostra é essa viagem e os contatos mantidos entre a escritora e a prefeita, ao mesmo tempo em que mostra alguns resultados da reconstrução paulatina da cidade, exibidos e explicados por Leila Mustapha.

 

Em Raqqa, a esperança e os novos tempos, que já acontecem, têm cara e jeito de mulher.  Embora os homens também colaborem, evidentemente.  Mas elas estão à frente de tudo.

 



VICENTA, documentário argentino, dirigido por Darío Doria, 69 min, discute a questão do aborto legal no país, com uma abordagem, no mínimo, curiosa.

 

O caso real relatado é apresentado por meio de figuras fixas, bonecos moldados por massinha, sem movimentação, ou seja, não é uma animação.  A voz de uma narradora descreve o caso, passo a passo, dirigindo-se a Vicenta, a mãe de uma jovem de 19 anos com deficiência mental, de quem veremos a imagem real ao final do filme.  Essa jovem, Laura, foi abusada sexualmente por um tio, de quem engravidou, sem ter noção do que fazia e sem ter noção da sua gravidez.  O que ela nunca realizou, alienada do que estava se passando com seu corpo.

 

VICENTA narra o périplo vivido em busca da interrupção dessa gravidez, legalmente prevista na Argentina, mas inviabilizada na prática pela burocracia, pelos trâmites legais e médicos.  Considere-se que determinados valores morais e religiosos se imiscuem nas decisões judiciais, impedindo, até pelo decurso do tempo, que a solução pretendida ocorra.  É como se o Estado empurrasse as pessoas ao ato clandestino, deixando suas cidadãs pobres à mercê de suas próprias possibilidades.

 

O filme mostra também os desdobramentos desse caso, que resultou num processo judicial movido por Vicenta, uma mulher analfabeta, contra o Estado.  E o que a união de mulheres que se apoiam e se solidarizam pode acabar produzindo de conquistas, não imaginadas inicialmente. O documentário assume sua militância feminista na causa e denuncia o processo hipócrita, que estabelece direitos, mas não possibilita sua efetivação.

 

www.etudoverdade.com.br

 

sábado, 10 de abril de 2021

CULTURA EM DOCS BRASILEIROS

     Antonio Carlos Egypto


A realização de documentários no Brasil tem sido fértil em mostrar aspectos relevantes da nossa produção cultural, com ênfase na música.  A música brasileira é reconhecidamente um passaporte valorizado do país e já há muito tempo.  E a literatura, o teatro, a dança, as artes plásticas e o próprio cinema também têm sido objeto de registro e é inegável a importância histórica dessa documentação.

No festival internacional É TUDO VERDADE 2021 posso destacar aqui dois ótimos trabalhos que fazem importantes registros culturais.

 



MÁQUINA DO DESEJO – os 60 anos do teatro Oficina, de Lucas Weglinski e Joaquim Castro, 120 min, faz uma homenagem ao trabalho importantíssimo do Oficina e de seu líder, José Celso Martinez Corrêa.

 

O teatro Oficina é uma fonte permanente de criação, ousada e inovadora, em todos os aspectos do teatro.  No repertório sempre desafiador e dialogando de modo interativo e direto com a realidade.  No desempenho de atores e atrizes, constantemente transformado e de entrega visceral, chegando até a extremos, de tão radical.  Na encenação, na quebra do palco italiano, na revolução de cenários, no envolvimento com o público.  E ainda mais na própria concepção e estrutura física do teatro e sua relação com o ambiente externo.  Enfim, é a revolução completa e permanente o que esse grupo fez e faz, desde os anos 1960.

 

Teatro político e de resistência, que conviveu com 21 anos de ditadura militar, que gerou para eles perseguição, censura constante, prisões, tortura, exílio.  Se a arte é expressão de seu tempo, o Oficina levou isso ao seu sentido máximo.  Portanto, é importante celebrar todas essas coisas.  Só que essa história é longa e complexa, comportando muitos elementos.

 

Neste documentário MÁQUINA DO DESEJO, essa trajetória está bem contada, acompanha as grandes montagens que foram transformadoras do teatro brasileiro e as ações que se desenvolveram paralelamente, na medida do possível, e sem perder muito tempo em casa coisa.  O fato de o grupo Oficina ter registro audiovisual do seu trabalho, ao longo do tempo, facilitou muito isso.  A rigor, pode-se dizer que nada de importante se perdeu.  Numa visão panorâmica e sintética, é claro. 

 




PAULO CÉSAR PINHEIRO – LETRA E ALMA, de Cleisson Vidal e Andrea Prates, 85 min, teve a feliz ideia de homenagear um dos mais importantes poetas e letristas da música popular brasileira, de quem todos conhecem dezenas de músicas, mas alguns talvez não associem o nome à pessoa.

 

O documentário registra a fala de Paulo César Pinheiro, confortavelmente instalado no sofá de casa, refazendo sua longa e variadíssima trajetória como compositor, que tem início aos 13 anos de idade e alcança uma qualidade incontestável, exibindo além disso uma produção quantitativa imensa.  Praticamente, todos os grandes intérpretes da MPB tiveram a oportunidade de gravar músicas dele.  Elis Regina, Clara Nunes (que foi sua esposa), Elizete Cardoso, Marisa Gata Mansa, Simone, Maria Bethânia, Mônica Salmazo, Quarteto em Cy, MPB4 e João Nogueira, que está entre seus muitos parceiros.  Vamos lembrar de João Aquino, Baden Powell, Pixinguinha, Maurício Tapajós, Edu Lobo, Francis Hime, Dori Caymmi, Ivan Lins, Tom Jobim, Eduardo Gudin, Mauro Duarte, Guinga, Wilson das Neves, Raphael Rabello e sua mulher Luciana Rabello, entre tantos outros.

 

No filme, a fala de Paulo César Pinheiro é fluente, inteligente, coloquial e até divertida.  Prende a atenção.  É entremeada por algumas de suas canções de sucesso, entre as milhares que criou. Uma obra tão vasta que é muito importante lembrar e saudar.  Um brasileiro como poucos, que nos enche de orgulho.  E que teve na música sua única profissão e, durante toda sua vida, sempre viveu dela.

www.etudoverdade.com.br

 

sexta-feira, 9 de abril de 2021

DOCS. ESTADUNIDENSES

Antonio Carlos Egypto

 

É exasperante ver como nos dias de hoje grupos de pessoas criam as notícias que desejam, numa realidade paralela, e se utilizam dos recursos tecnológicos da Internet, das redes sociais, para desinformar e passar goela abaixo suas crenças.  E tantas pessoas as aceitam como fatos, ou verdades.  É um jogo de poder cruel, em que, via de regra, o irracionalismo vence o equilíbrio racional, o negacionismo e a ignorância se impõem à ciência, a barbárie sufoca o comportamento respeitoso e civilizado, o retrocesso barra o avanço.

O pior é que não é só aqui, no Brasil, que isso está acontecendo.  É em várias partes do mundo, como podemos constatar vendo dois documentários estadunidenses que estão sendo apresentados no festival É TUDO VERDADE 2021


Sob Total Controle
 

SOB TOTAL CONTROLE (Totally Under Control), dirigido por Alex Gibney, Ophelia Harutyunyan e Suzanne Hillinger, 123 minutos, trata do governo Donald Trump na pandemia.  Focaliza, principalmente, os primeiros meses do fracasso, ao que parece, calculado, intencional, mas também fruto de incompetência de gestão, na abordagem do covid-19, nos Estados Unidos de Trump.

 

O título do filme é a expressão do negacionismo do presidente: tudo sob total controle, quando a derrocada já estava visível, para quem quisesse enxergar.  E tome fake news, mentiras a rodo, não fazer nada bem feito e botar a culpa toda nos outros.  Principalmente, na imprensa e no governo chinês.  E tomar decisões que visavam, antes de mais nada, a tentar preparar o colchão para a reeleição que estava no horizonte.  Não é ridículo ver como, por aqui, se copia o que há de pior, com os mesmos métodos?

 

Conhecemos no que deu tudo isso por lá.  500 mil mortos, a invasão do Capitólio, estimulada por Trump por uma suposta fraude eleitoral, jamais comprovada, porque fantasiosa e pré-planejada.  Teve como consequência a derrota de Donald Trump e, felizmente, a retomada da política, em termos sérios e dignos por Joe Biden.  Teremos a mesma sorte?

 

Deixo essa pergunta no ar, porque outro documentário norte-americano nos mostra o que pode ser ainda pior, por incrível que pareça.


Mil Cortes
 

MIL CORTES  (A Thousand Cuts), dirigido por Ramone S. Diaz, 98 minutos, trata do governo das Filipinas de Rodrigo Duterte e da jornalista mais conhecida do país, Maria Ressa que, por combater o escandaloso uso das fake news, da manipulação de informações, acabou sentenciada e condenada, por “difamação cibernética”.  Ela, nascida em Manilla, mas de família de origem estadunidense, tinha um veículo independente e combativo, o rappler, que foi perseguido e chegava a ser citado nominalmente pelo presidente.  Antes, ela havia trabalhado na rede CNN.  Quando viajava, por sua atuação jornalística, frequentemente do aeroporto já ia para a prisão.

 

Jornalismo por lá é algo a ser eliminado, em tempos de Duterte.  A democracia já está naufragando mais do que o Titanic, mas a única política é uma delirante guerra às drogas.  Delirante, mas destruidora, e de um autoritarismo sem precedentes.

 

O filme mostra o presidente dizendo repetidamente que quem usar drogas ilícitas vai ser morto.  Não é só uma ameaça, está acontecendo e em larga escala, com cadáveres abandonados nas ruas.

 

Ao focalizar uma eleição legislativa em curso, o documentário mostra um candidato a senador que confessa que já matou alguns e mataria, sem dúvida, pelo presidente, drogados e traficantes. Foi o mais votado no pleito. Há quem aplauda a “limpeza” que essa política supostamente produziria, trazendo segurança às ruas.  Aliás, esse tal candidato pedia aplausos na campanha, apontando para os que não aplaudiram como sendo aqueles que se drogam.  Já chega, não é?

www.etudoverdade.com.br

 

quarta-feira, 7 de abril de 2021

FUGA

Antonio Carlos Egypto

  



O filme de abertura do É TUDO VERDADE 2021, FUGA (Flee), de Jonas Poher Rasmussen, da Dinamarca, 90 minutos, é um documentário de animação que revela uma história pessoal dolorosa, em meio a um mundo conturbado e preconceituoso.  Utiliza-se de diferentes tipos de desenhos, mais concretos e realistas ou sugestivos esboços.  Vale-se, também, de vídeos de registros de situações, em imagem reduzida, como as antigas TVs.

 

O fato é que os recursos estão a serviço de uma narrativa que emociona, se indigna, mostra o quão difícil é lidar com a ausência de uma identidade que corresponde ao que a pessoa é ou sente, como é viver sem um lar e uma história pessoal que possa chamar de sua.

 

Essa história verdadeira nos é contada por meio de uma análise psicológica que traz da sombra os segredos de Amin, um refugiado afegão.  Ele retira do baú de memórias enterrado, desde os elementos femininos de sua personalidade na primeira infância até as tragédias familiares decorrentes da condição de refugiados, na infância e na adolescência, fugindo da opressão da guerra no Afeganistão.  Isso possibilita que o filme exponha o inacreditável das condições de fuga dos refugiados, que gastam o pouco que têm, arriscando a vida, novamente, em condições sub-humanas, para escapar da guerra. E, para poder concluir, uma impressionante viagem, com idas e retornos, que passa pela Rússia, e deixa para trás a família, até chegar à Dinamarca, desamparado, mas conseguindo, a partir daí, construir uma nova vida.

 



É na condição de intelectual, com pós-doc aos 36 anos de idade, que ele se submete à autodescoberta que o filme mostra.  O que inclui a questão da homossexualidade, absolutamente reprimida e negada no Afeganistão.  Lá, não consta que haja esse desejo.  Essa expressão da sexualidade é invisível, não existe nem a palavra que a designaria no idioma.  Na Escandinávia, a realidade é outra, dependerá de Amin encontrar um parceiro e uma vida em comum, desde que se disponha a isso.

 

O oprimido, mesmo quando vence na vida, incorpora ao inconsciente a vergonha, o medo e a culpa pelo que passou e precisou reprimir, para sobreviver.  Encontrar-se plenamente implica um processo penoso e altamente dolorido de resgate de imagens e sentimentos, de lembranças esquecidas, em busca de um futuro mais calmo. 

 

A FUGA, essa animação documental, dá conta de tudo isso em sua complexidade, sem simplificar, moralizar ou fazer proselitismo político de qualquer espécie.  Os fatos falam por si e pela boca do depoente e daquele que o escuta de fato e espera pelo tempo dele, com cuidado e paciência.

 

A utilização de desenhos alivia a carga pesada dessa vida, para o espectador, preserva os envolvidos e dá o necessário distanciamento, que permite reflexão de forma mais serena.  Em que pese tudo o que se conta.  Um belíssimo trabalho cinematográfico a ser conferido gratuitamente em www.etudoverdade.com.br, (pelos caminhos indicados no meu texto anterior), dia 08 de abril, dando início à maratona de documentários do É TUDO VERDADE 2021. 




segunda-feira, 5 de abril de 2021

É TUDO VERDADE 2021

Antonio Carlos Egypto

 



Um dos mais importantes festivais de cinema do país está apresentando sua 26ª. edição.  O festival de documentários É TUDO VERDADE 2021 acontece de 08 a 18 de abril inteiramente on line e gratuito.  E pode ser acessado em todo o Brasil.

 

Sua seleção, com alta qualidade artística, tanto nacional quanto internacional, evidentemente, mereceria ser vista na tela grande do cinema.  Infelizmente, esse prazer, como tantos outros, nos tem sido vedado pela pandemia.  É triste, mas é o possível, no momento.  Nada de negacionismo, nem de irresponsabilidade, numa hora dessas.  Mas garanto, nem que seja para ver na tela minúscula do celular, que vale a pena acompanhar o É TUDO VERDADE 2021, realização de Amir Labaki, com parceiros e apoiadores importantes, como o SESC, o Itaú Cultural, o Spcine, o Canal Brasil e as Secretarias de Cultura de São Paulo e do Ministério do Turismo.

 

Serão apresentados 69 filmes de 23 países, sendo 12 longas-metragens internacionais e 07, nacionais, além dos curtas-metragens em competição. Após a exibição de cada longa nacional está programado um debate virtual com os realizadores. Haverá, porém, muito mais. Uma mostra especial trata do centenário do grande documentarista francês Chris Marker (1921-2012), trazendo filmes dele, atividades paralelas e debates sobre o seu trabalho inovador.

 

Entre as programações especiais estão também as homenagens. Uma, ao trabalho do cineasta Ruy Guerra, que chega aos 90 anos, tem vários filmes na programação e participa do festival com uma master class.  Outra, ao compositor e intérprete Caetano Veloso, exibindo filmes que abordam sua trajetória musical, incluindo “Narciso em Férias”, sobre seu período no exílio com Gilberto Gil.

 

Esses filmes todos estão distribuídos em diversas plataformas.  Um modo de ter acesso a tudo isso é fazer um cadastro na plataforma Looke: www.looke.com.br para poder entrar no site www.etudoverdade.com.br e clicar em programação.  Os filmes serão assistidos no Spcine play, no Sesc Digital, na plataforma Itaú Cultural, no Youtube do É tudo verdade e no Canal Brasil, da TV paga.  Tem ainda o foco latino-americano em https://sescsp.org.br/etudoverdade.

 

Para quem ainda não conhece, recomendo mais uma vez o Spcine play e o Sesc Digital – Cinema: #emcasacomsesc, que, além deste festival, disponibilizam ótimos filmes ao longo do ano e mantêm um acervo constante de bom cinema.  E no caso do Sesc Digital, de outros produtos culturais também.  Tudo gratuito, basta se inscrever.

 

Nos próximos dias, estarei comentando por aqui alguns dos filmes em competição do É TUDO VERDADE 2021.  A oferta é apetitosa, muita coisa atraente e absolutamente atual vai ser exibida.  Tem filme que até já incorporou a covid-19 à sua realização.  Acabados de sair do forno.  Não dá para perder.