Antonio Carlos Egypto
ASSASSINOS
DA LUA DAS FLORES (Killers of the Flower Moon). Estados Unidos, 2023. Direção: Martin Scorsese. Elenco: Leonardo DiCaprio, Robert De Niro,
Lily Gladstone, Brendan Fraser, Jesse Plemons.
206 min.
Martin
Scorsese tem novo filme na praça. E que filme!
Uma saga épica que pode ser considerada uma espécie de “E o Vento Levou”
do século XXI. Um filme grande na
concepção, na temática, no elenco e na duração: 3 horas e meia de
projeção. Mas não se sente passar. É uma história empolgante, cheia de camadas e
situações diversas, personagens muito bem concebidos. Torna-se um prazer acompanhar tudo o que
acontece. Surpreende, produz drama e
suspense e se desdobra em muitas possibilidades. Tudo muito bem engendrado na narrativa e,
apesar da duração longa, sem excessos. Não
vale a pena contar muita coisa da trama, é melhor sorver a história devagar,
como Scorsese nos permite, com ritmo, mas sem pirotecnias.
A base
de “Assassinos da Lua das Flores” são fatos ocorridos por volta de 1920, em
Oklahoma, nos Estados Unidos, com a nação indígena Osage, relatados em livro
homônimo de David Grann, ponto de partida do filme. Os nativos Osage compraram suas terras,
seguindo uma visão norte-americana de valorização da terra. E, em função disso,
se tornaram ricos, com a descoberta de petróleo abundante em seu espaço. O ouro negro, assim chamado, trouxe consigo a
intromissão dos brancos nesse território, manipulando, extorquindo, roubando o
dinheiro dos indígenas de todas as formas possíveis e imagináveis. É aí que entra William Hale (Robert de Niro),
um fazendeiro lá estabelecido, que conquistou grande poder na região e junto à
comunidade local. Por consequência, vem
à região em busca de êxito Ernest Burkhardt (Leonardo DiCaprio), seu ambicioso
sobrinho.
Uma
história de amor e interesse, um tanto improvável, ligará Ernest e Mollie (Lily
Gladstone), uma bela indígena. Por trás disso, uma transmissão de herança é
buscada.
A
guerra pelo dinheiro a qualquer preço leva a um conjunto de assassinatos de
indígenas, que comporão o corpo central da narrativa e deixarão a todos
perplexos, indignados, preocupados com o ser humano, ao ponto em que ousamos
chegar.
O
crime, a maldade, o poder destruidor do dinheiro são motores das ações humanas,
neste contexto e em muitos outros.
Entender o passo-a-passo desse processo e suas implicações é por onde o
filme caminha, jogando luz nos fatos e ajudando a torná-los claros e
compreensíveis.
Leonardo
DiCaprio num grande papel tem um desempenho marcante, excepcional. Digno de ser lembrado no Oscar. Um papel complexo, em que amor, traição,
maldade, ingenuidade, opressão e subserviência podem estar juntos na mesma
figura, ao longo do tempo. Robert De
Niro, em outro excelente desempenho, exala poder, domínio, ambição, maldade,
mas também dedicação, apoio, afeto e sagacidade.
A
atriz Lily Gladstone é um destaque do filme, pela atuação sutil, segura, que
nos detalha sentimentos e intenções em gestos e olhares absolutamente
discretos, mas reveladores. Compõe uma mulher indígena notável, que tem orgulho
de sua etnia e luta por ela, mas também está aberta ao novo e ao outro. Com
tudo contando contra, ela consegue acreditar no amor como possibilidade
real. Mas tem tirocínio suficiente para
enfrentar a dúvida de frente e também de buscar ajuda.
Enfim,
onde as coisas não são esquemáticas, maniqueístas, nem também muito misteriosas,
é o que chamamos de realidade o que salta aos olhos. O cinema de Scorsese nos
remete a uma dimensão altamente reflexiva, enquanto nos envolve com uma trama
bem contada, detalhe a detalhe, com drama, romance, suspense e aventura, o que
faz do seu filme um ótimo entretenimento também. Cinema de primeira qualidade.