quinta-feira, 27 de dezembro de 2012

HAHAHA

                        
Antonio Carlos Egypto

HAHAHA (Hahaha).  Coreia do Sul, 2010.  Direção: Hong Sang-soo.  Com Sangkyung Kim, Sori Moon, Yu Junsang. 115 min.


O filme do cineasta coreano Hong Sang-soo, “Hahaha, tem o grande mérito de contar uma história de forma inovadora e surpreendente.  Dois amigos se encontram e se reúnem para beber, num bar de uma pequena cidade costeira da Coreia do Sul.  Estão lá por razões diversas e há muito não se veem. Vai daí que há bastante o que contar, um para o outro.  Muitas histórias vividas por ali mesmo.

Como ele nos mostra esse papo de bar?  Por meio de fotos em branco e preto, alternando os dois personagens, e se ouve o diálogo entre eles.  Cada um fala um pouco de seu caso e passa a bola ao outro, como se dissessem: E aí, o que aconteceu depois?  Talvez até haja frases assim, não me lembro.  Mas o sentido é esse: uma conversa que flui entre dois amigos que têm interesse um pelas histórias do outro.  E ouvem com atenção.  Falam e ouvem na mesma proporção.  Uma espécie de diálogo ideal, já que é raro que isso ocorra.  É mais comum as pessoas tentarem monopolizar a conversação, exibirem seus conhecimentos, contarem coisas sem se darem conta de que não interessam aos interlocutores.  Ou se fala por ansiedade.  Ou se cala por tédio.  Mas esse não é o caso dos jovens amigos aqui.



A cada figura ou situação que vai sendo exposta ou relatada vamos vendo as cenas coloridas, como se dão os encontros, os desencontros, os relacionamentos, o que dá e o que não dá certo.

Parecem duas narrativas paralelas, que nada tem a ver uma com a outra.  Mas, aos poucos, vamos percebendo que as pessoas com quem eles se relacionam, ou se relacionaram, são as mesmas ou se conhecem.  A expectativa fica nos rondando.  Ficamos à espera de que os relatos se encontrem.  Mas o roteiro, habilmente, encontra saídas para que isso não aconteça, de modo que ambos prosseguem seus relatos alternados, sem suspeitar de nada.  E sempre gentis e simpáticos ao que acontece com o amigo.  Sem saber que poderia ter mudado a sua vida.  A narrativa é brilhante.

O clima do filme é também muito interessante. É centrado no afeto entre dois amigos que bebem e isso se percebe  pelas fotos pois quando os vemos em ação eles estarão sempre com outras pessoas.  No entanto, é a amizade deles o que se destaca no filme.  Não só, é verdade.  As circunstâncias determinam coisas importantes, o acaso, o destino, se se pode chamar assim.  Muita coisa pode mudar o rumo da nossa vida sem que a gente sequer se dê conta ou possa ter controle sobre isso.



Há, ainda, a percepção das figuras femininas comuns às histórias dos dois.  Como elas são vistas por um e pelo outro também indicam coisas muito distintas.  Quem seria ela, ou quem seriam elas, verdadeiramente?  Há evidentes pontos em comum.  Mas cada um vê coisas bem diferentes do que o outro vê.  Ou vive com elas coisas bem diferentes, até porque as circunstâncias variam.  Haverá uma verdade do personagem ou a verdade é a mera percepção que o outro tem de cada pessoa?

Não só mulheres, objetos potenciais de desejo, ou uma mãe que é dona de restaurante, aparecem.  Uma terceira figura, um jovem que conhece ambos, em momentos e situações diferentes, vai se revelando a cada relato.  Os dois amigos parecem estar contando um para o outro sobre alguém que eles não imaginam quem seja.  Um verdadeiro painel de estudos do comportamento humano e das percepções distintas que se manifestam conforme a experiência dos sujeitos.




Pode parecer a quem está lendo este meu texto agora que se trata de um filme difícil, confuso ou pesado.  Nada disso.  O clima é não só afetivo como leve, em tom de comédia, aparentemente despretensioso.  Hong Sang-soo fala de um monte de coisas importantes para os relacionamentos humanos, como quem não está dizendo nada.  Como quem conta causos à mesa de bar.  E para isso se vale do desempenho de um elenco que atua com brilho, parecendo não estar fazendo nada demais.  A sensação é a de um bando de gente que sabe que tem talento, mas atua com humildade.  Adorável!

“Hahaha” venceu o prêmio principal da Mostra Um Certain Regard no Festival de Cannes 2010.  É o primeiro filme do diretor lançado comercialmente no Brasil, apesar de tratar-se de um cineasta conceituado e com larga trajetória na cena cinematográfica de Seul e nos festivais de cinema pelo mundo.




sexta-feira, 21 de dezembro de 2012


Tatiana Babadobulos

No (No). Chile, França, Estados Unidos, 2012. Direção: Pablo Larrain. Roteiro: Pedro Peirano. Com: Gael García Bernal, Alfredo Castro, Antonia Zegers, Néstor Cantillana, Luis Gnecco. 118 minutos










Países da América Latina viveram histórias políticas semelhantes, quando as referências são ditaduras e repressões. Argentina, Brasil, Chile são alguns exemplos rápidos. A cinematografia desses países também segue o mesmo ritmo, pois esses três, pelo menos, resolveram cutucar a ferida que estava há muito adormecida.

Por estarmos no Brasil, acompanhamos com frequência essas histórias, seja no cinema ou na televisão, em forma de minissérie e até mesmo em novelas. Os países vizinhos produzem filmes baseados em fatos reais, mas nem sempre eles chegam aqui – o que é sempre lamentável.

Recentemente, foi a vez de a Argentina falar, sob o olhar de uma criança, sobre a ditadura naquele país, em “Infância Clandestina”, que está atualmente em cartaz nos cinemas em São Paulo. E justamente por ser sob o olhar infantil é que emociona. Mas o filme não toca o espectador só porque trata-se de um menor de idade e sem culpa alguma, já que os militantes eram os seus pais. O filme toca a plateia porque é bem contado, bem escrito e diz algo sobre a nossa história, de alguma maneira.



Agora é a vez de o Chile contar um pouco sobre a sua ditadura nos anos 1980. Com o filme “No”, de Pablo Larrain, o espectador vai descobrir o que estava por trás da propaganda política que resultou na queda de Augusto Pinochet e como o referendo realizado a seu pedido acabou com o seu mandato em 1988.

Na trama, o jovem publicitário René Saavedra (o ator mexicano Gael Garcia Bernal, de “Ensaio Sobre a Cegueira”, “Amores Brutos”) é convidado a liderar a campanha dos líderes da oposição no referendo. Ele terá de preparar um plano audacioso, sob os olhos dos guardas do ditador, para vencer a eleição e mostrar ao povo por que eles devem votar “não” no referendo (daí o nome do filme, “No”).

De um lado, a situação, com a campanha pelo “sim”; do outro, o “não”. Cada um tinha 15 minutos diários na televisão para expor seus argumentos. Para o “sim”, o que se viu foi o destaque das “vantagens” do comunismo. Já para o “não”, os festejados atores norte-americanos se mobilizaram para também darem suas opiniões, afirmaram que para se ter eleições livres é preciso votar não, além de muitas referências à liberdade, parecendo propaganda de refrigerante.

Para o filme, o diretor Pablo Larrain utilizou uma câmera U-matic 3/4, que era muito utilizada no final da década de 1980. A intenção, é claro, é ainda dar mais realismo às imagens. E isso ele conseguiu. Há ainda a inserção de documentários de televisão chilenos da época que se confundem com as cenas de ficção do filme. “Fotografar em película ou com câmeras digitais da geração HD iria acabar com o imaginário da época. Não era o resultado que esperava”, justifica o diretor no material de divulgação para a imprensa.

Por seu belíssimo resultado, o longa-metragem, que abriu a 36ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo, em outubro, recebeu o prêmio de melhor filme do público, na Mostra. A fita também foi exibida na Quinzena dos Realizadores de Cannes e foi vencedor do Prêmio da Confederação Internacional dos Cinemas de Arte (Cicae).

Embora a fita estivesse apontada para estrear no dia 21 de dezembro, o distribuidor confirmou que a estreia nos cinemas está marcada para o próximo dia 28.

quinta-feira, 20 de dezembro de 2012

A FILHA DO PAI

                           
Antonio Carlos Egypto




A FILHA DO PAI (La Fille du Puisatier).  França, 2011.  Direção: Daniel Auteuil.  Com Daniel Auteuil, Kad Merad, Sabine Azéma, Jean-Pierre Darroussin, Nicolas Duvauchelle, Astrid Bergés-Frisbey, Emilie Cazenave.  107 min.


“A Filha do Pai” que, na verdade, seria a filha do poceiro, em tradução literal, é um filme baseado na obra de Marcel Pagnol (1895-1974).  O autor, que foi romancista, dramaturgo e também cineasta, escreveu uma série de clássicos populares franceses admiráveis.  Quem conhece as adaptações de seus livros “Jean de Florette” e “A vingança de Manon”, ambos de 1986,  com direção de Claude Berri, e os filmes “A glória de meu pai” e “O castelo de minha mãe”, de 1990, dirigidos por Yves Robert, sabe que estamos diante de histórias encantadoras e muito bem construídas, que resultaram em películas muito cativantes.  Todas de narrativa clássica, com direito a grandes interpretações e magníficas locações.  A obra de Pagnol remete a belas regiões da França em um contexto rural, de pequenas cidades.



Quem gostou dos filmes que citei acima não deixe de ver “A filha do pai”.  É tiro certo.  Porque, mais uma vez, a história é ótima.  Envolve dilemas morais muito bem expostos.  Põe em questão a força dos valores de uma época em que os princípios pesavam muito mais do que hoje.  No entanto, na hora de uma decisão importante da vida, o dilema se impunha da mesma forma.  Na hora do concreto, a teoria dança e se não dançar só produz besteira e sofrimento inútil.

A saída para Pagnol estará sempre na retidão do caráter e na força dos afetos.  É por aí que passam questões muito sérias, como os conflitos entre as classes sociais, em que os interesses antagônicos inevitavelmente se expressam.  Mas em que há, também, a chance de algum entendimento, se o humanismo se impuser aos interesses monetários.  E, claro, há lugar para o romance, o triângulo amoroso, o papel devastador da guerra nas relações familiares e amorosas.  Tudo se passando em lugares de beleza natural que proporcionam imagens cativantes, como de costume.



Se a obra de Pagnol dá margem a um cinema tão interessante, é também porque quem se dedica a essas adaptações o faz com empenho e respeito pelo autor clássico, e o faz com competência.  Daniel Auteuil, grande ator do cinema francês, que inclusive participou de “Jean de Florette” e “A vingança de Manon”, demonstra grande domínio também como cineasta já neste seu primeiro filme.  Seguindo os mesmos cânones tradicionais, clássicos, que marcaram as outras adaptações da obra de Pagnol, ele se sai muito bem, conduzindo um filme tão bom quanto aqueles e ainda exibindo seu talento de ator como protagonista da fita.  Ele está no papel do pai, Amoretti, da filha Patrícia (Astrid Bergés-Frisbey), o poceiro às voltas com o patrão Mazel (Jean-Pierre Darroussin) e seu filho Jacques (Nicolas Duvauchelle), piloto de caça que vai para a guerra.  O triângulo se faz com Felipe (Kad Merad), interessado em casar com Patrícia.


O elenco é todo muito bom e dá conta magnificamente dos seus personagens e do clima da história.  A única coisa que não convence é a idade de Kad Merad para o papel de Felipe.  Daniel Auteuil deveria ter escalado um ator mais jovem para a função.  O ator é ótimo, mas a figura não casa com o personagem.  No mais, tudo funciona muito bem, inclusive a música, de Alexandre Desplat, que é muito bonita.


quarta-feira, 19 de dezembro de 2012

AS QUATRO VOLTAS

                             
Antonio Carlos Egypto

AS QUATRO VOLTAS (Le Quattro Volte).   Itália, 2010.  Direção e roteiro: Michelangelo Frammartino.  Com Giuseppe Fuda, Bruno Timpano, Nazareno Timpano.  88 min.
Tudo se passa numa pequena e calma vila incrustada nas montanhas na região da Calábria, sul da Itália. Poucas casas, pouquíssima gente, muitas cabras, marcas de religiosidade presentes na igreja e numa procissão de personagens caracterizados para uma encenação de rua.  Uma caminhonete que transporta coisas da aldeia e para ela, um cachorro, um velho pastor de ovelhas doente.  A poeira que se assenta no chão da igreja será por ele misturada em água e bebida como remédio.  Um novo cabrito nascerá e tentará se manter sobre as próprias pernas.

Esses são alguns dos elementos do filme “As Quatro Voltas”, onde não há nenhum diálogo, apenas um vozerio eventual ou murmúrios, mas não se distingue o que é comunicado.  Até porque as cenas mostram que se trata de uma banalidade qualquer, um ato rotineiro sem nenhuma importância especial.  Também não há música, só os sons da aldeia.  São frequentes os latidos do cachorro, que se movimenta bastante.  Ouve-se o vento, o motor da caminhonete, os sinos e o berro das cabras, o movimento dos seres humanos e dos animais e tudo o mais que compõe a vida da pequena vila.  O registro é ficcional, tudo cuidadosamente encenado, mas parece documental.

É um trabalho cinematográfico que nos convida à observação, sem pressa, pois tudo acontece devagar, naturalmente.  Se alguma coisa inesperada surge, a gente vai ficar sabendo, mais pelo que conclui e ouve do que por aquilo que é mostrado.  Na verdade, o que o filme nos convida é a uma atenção difusa, se deixar penetrar pelo clima do vilarejo rural, sua vida pacata e simples.  Bem diversa do burburinho urbano das grandes cidades a que está acostumada a maioria das pessoas que vai ao cinema.
Além da encenação cuidadosa, os enquadramentos de câmera são belíssimos, dando condições àquele pequeno mundo de adentrar ao do espectador.  Ou, então, ele irá rejeitá-lo rapidamente e deixará o cinema antes do final.  Haverá espaço para um filme como esse na tela da TV, do computador ou do celular? Difícil imaginá-lo sendo absorvido por um espectador que permaneça ligado ao seu ambiente tecnológico urbano.

É de contemplação que se trata, de um desligar-se da correria das coisas do dia-a-dia, entrando em contato com uma outra realidade.  Sentir o passar do tempo, a mudança das estações, as transformações da natureza, os ciclos da vida.
É interessante que quem nos propõe uma viagem cinematográfica assim um tanto radical a um presente que remete ao mundo de um passado distante é um jovem diretor italiano, nascido em 1968, em seu segundo longa-metragem.  Sensível aos contrastes, não só de seu país ou de uma região, mas também do confronto temporal de diferentes mundos.  Em busca dessa diferença de forma determinada, eu diria.

Belíssimo trabalho.  Exemplo cabal de puro cinema, em que tudo é imagem e o próprio som é apenas uma decorrência natural dela.  Não se trata de um filme mudo que tenta falar, como nos velhos tempos do cinema silencioso.  Esse não tinha escolha.  Aqui, a simplicidade, a calma e o silêncio são uma escolha.  Um registro, um modo de tentar entender, um modo de se contrapor, quem sabe, aos ditames da pós-modernidade.  Um jeito alternativo de fazer cinema nos dias de hoje, que ainda pode ser encontrado em festivais pelo mundo.  E que, às vezes, felizmente, chega a um pequeno circuito exibidor, como é o caso agora.  Geralmente por pouco tempo. Melhor do que nada.
“As Quatro Voltas” foi exibido e recebeu prêmios no Festival de Cannes e na 34ª. Mostra Internacional de Cinema de São Paulo, em 2010.

quinta-feira, 13 de dezembro de 2012

O Hobbit



Tatiana Babadobulos

O Hobbit: Uma Jornada Inesperada (The Hobbit: An Unexpected Journey). Estados Unidos/Nova Zelândia, 2012. Direção: Peter Jackson. Roteiro: Fran Walsh, Philippa Boyens e Guillermo del Toro. Com Martin Freeman, Richard Armitage, Ian McKekken, Cate Blanchett, Ian Holm. 169 minutos.


Antes de falar um pouco sobre “O Hobbit: Uma Jornada Inesperada” (“The Hobbit: An Unexpected Journey”), longa-metragem que tem estreia mundial apontada para o dia 14, é preciso que o leitor saiba um pouco sobre do que se trata.

Primeiro, a fita é dirigida por Peter Jackson, o mesmo que filmou, de uma só vez, a trilogia “O Senhor dos Anéis”, adaptação de J.R R. Tolkien. O cineasta topou empreitada semelhante e decidiu filmar o clássico “O Hobbit”, escrito pelo mesmo autor, e o dividiu em três filmes.

O final da história só será conhecido em julho de 2014, previsão de estreia do terceiro filme, “O Hobbit: Lá e de Volta Outra Vez”.



Outra coisa é que, além de fazer parte de uma trilogia, o primeiro filme tem quase três horas de duração. Portanto, caro leitor, acomode-se na poltrona com um copo de suco ou refrigerante não muito grande e aproveite. Não exatamente porque os minutos a seguir serão compensatórios pela história contada, mas porque trata-se de uma grande produção que merece todo o respeito da plateia.

O cinema, é bom dizer, está com mania de contar histórias que antecedem ao sucesso de um determinado herói. É o caso de “Batman Begins”, “Star Trek”, “Star Wars”, e por aí vai.

Aqui, a história gira em torno do que aconteceu na Terra-Média 60 anos antes de “O Senhor dos Anéis”, e o foco principal é no hobbit Bilbo Bolseiro.

A trama começa com narração em off, com o próprio Bil­bo escrevendo as suas memórias. Ele faz isso enquanto esconde o tal livro de seu sobrinho, Frodo Bolseiro (herói de “O Senhor dos Anéis”). Então, a narrativa volta no tempo e apresenta o tal hobbit sendo convocado pelo mago Gandalf, o Cinzento, para uma jornada a fim de recuperar o Reino dos Anões de Erebor do temido dragão Smaug.

Nas horas que se seguem, o espectador vai acompanhar a tal aventura com mais 13 anões liderados pelo lendário guerreiro Thorin Escudo de Carvalho.



A viagem irá levá-los às Terras Ermas através de terras traiçoeiras cheias de criaturas Orcs, Wargs e Feiticeiros.

Talvez pela quantidade de personagens e o tanto de lutas que os heróis precisam enfrentar tornam o longa cansativo. O excesso de efeitos especiais tem um fundamento, claro, já que trata-se de uma história épica e repleta de fantasia.

Um dos adversários que aparece é Gollum, que está às margens de um lago subterrâneo. A sequência que inclui Bilbo Bolseiro e o Gollum faz com que o primeiro descubra um elemento que será essencial para a trilogia “O Senhor dos Anéis”.



A criação do Gollum, aliás, foi uma grande inovação à época do seu lançamento, já que ele foi feito digitalmente com a técnica de captura de movimento. A modalidade, que ficou conhecida em “O Senhor dos Anéis – As Duas Torres”, em 2002, foi muito utilizada pelo cinema nos anos seguintes, como em “O Expresso Polar”, “King Kong”, dirigido pelo próprio Jackson, e outros.

“O Hobbit: Uma Jornada Inesperada” traz praticamente os mesmos atores que fizeram seus respectivos papéis na trilogia “O Senhor dos Anéis”, como Ian McKellen, como Gandalf, Martin Freeman, como Bilbo, Cate Blanchett, como Geladriel, Elijah Wood, como Frodo.

Além de dirigir e produzir a fita, Peter Jackson é autor do roteiro, ao lado de Fran Walsh, Philippa Boyens e Guillermo del Toro. E é no bom humor que o roteiro aposta, fazendo com que as tiradas garantam boas gargalhadas.



A trilogia foi filmada em 3D e 48 fps. A tecnologia lê o filme em 48 quadros por segundo, e não em 24, como o usual. Segundo o estúdio, a técnica oferece maior qualidade para o espectador e tem a intenção de resolver o problema da fadiga ocular. Aos jornalistas, porém, foi apresentada a versão em 2D e 24 fps.

A segunda parte, “O Hobbit: A Desolação de Smaug”, será lançada em 13 de dezembro de 2013.

O HOBBIT: UMA JORNADA INESPERADA

      
 Antonio Carlos Egypto




O HOBBIT: UMA JORNADA INESPERADA (The Hobbit: An Unexpected Journey).  Estados Unidos/Nova Zelândia, 2012.  Direção: Peter Jackson.  Com Martin Freeman, Richard Armitage, Ian McKellen, Cate Blanchett, Ian Holm.  169 min.


É inegável que a trilogia de “O Senhor dos Anéis” (2001 a 2003), dirigida por Peter Jackson, representa um produto cinematográfico sedutor.  As narrativas são marcadas por lendas e fantasias exuberantes, com personagens heróicos, excêntricos e bizarros.  A tecnologia avançada impera, os efeitos especiais são belos, de tirar o fôlego, e as paisagens da Nova Zelândia, terra natal do diretor, são deslumbrantes.

Apesar de tudo isso, os três filmes: “A Sociedade do Anel”, “As Duas Torres” e “O Retorno do Rei”, são cansativos, longos demais.  Todos têm 3 horas de duração, o último até um pouco mais do que isso.  Lembro-me de quando eu o vi no cinema.  Pareceu-me interminável, eu não aguentava mais. Pois bem, agora, com o lançamento de “O Hobbit”, que se refere a um período de 60 anos anterior à saga de “O Senhor dos Anéis”, esses três filmes foram reapresentados nos cinemas, com duração estendida.  Cada um deles, com 50 minutos a mais.  Inacreditável.  Será que teve público para essa iniciativa?  Para mim, soa como masoquismo.






“O Hobbit: Uma Jornada Inesperada” é também anunciado como parte de uma trilogia.  Tudo baseado em um único livro de J.R.R.Tolkien, de cerca de 300 páginas.  Esse filme é apenas o começo da nova saga, que remete a um tempo passado, mas traz o hobbit Bilbo Bolseiro, o mago Gandalfi e os anões numa jornada pela Terra Média, com direito à aparição de elfos, trolls e a criatura Golum, com seu precioso anel.  E ainda o dragão Smaug e o reino de Eredor.  E, é claro, muita aventura e muita batalha, com a mesma beleza e sedução da saga de “O Senhor dos Anéis”.  Dessa vez, o filme dura quase 3 horas: 169 minutos.  Só que agora há muito menos história, é preciso povoar a trama com muitas caminhadas, conversas e lutas sem muita razão de ser.  Tome magia a todo instante.  O impossível é um elemento recorrente da filmagem, com seus efeitos mirabolantes.





Novidade, nenhuma.  É mais do mesmo conhecido e sedutor produto. Ainda virão dois filmes que vão esticar mais a história.  Para quem gosta de ver sempre a mesma coisa, com pequenas variantes, é um prato cheio.  Mas não há nada de importante a acrescentar.  Para mim, já deu.  Fui.
  

segunda-feira, 10 de dezembro de 2012

BULLYING


                   
Antonio Carlos Egypto


BULLYING (Bully).  Estados Unidos, 2011.  Direção: Lee Hirsch.  Documentário.  99 min.


A constatação de que crianças se suicidam em consequência do sofrimento causado por serem vítimas constantes de bullying em ambiente escolar, nos Estados Unidos, produziu um movimento da sociedade civil para lutar contra isso.  O movimento partiu de pais dessas crianças que, em diversos pontos do país, encontraram seus companheiros de indignação e luto.  A eles se juntaram pessoas que, por já terem vivido esse martírio, querem contribuir para a solução do problema.  A julgar pelo que mostra o documentário, as cidades pequenas são mais atingidas pela situação.

O trabalho de Hirsch foi o de documentar essa resistência civil, partindo de casos concretos.  Os pais de um garoto que se suicidou são líderes da organização e contam sua trágica história.  Outros estão descobrindo agora o problema com seus filhos.  É o caso de um garoto tímido, cujos pais tiveram, pela constatação da câmera do diretor, a confirmação de que seu filho apanhava todos os dias no ônibus escolar, sem que ninguém interviesse para impedir isso.  Há o caso de uma jovem lésbica fortemente discriminada e o de uma jovem negra, que tentou reagir às constantes agressões que sofria, puxando uma arma, e acabou na cadeia.




Enfim, com tais casos mostra-se a gravidade do tema e o que está acontecendo com muitas crianças, não só na América, mas em todo o mundo.  No caso dos Estados Unidos, fica também evidente, nas filmagens do diretor, o quanto as escolas ignoram, se omitem ou não sabem tratar do assunto.  E, com certeza, esse não é um fenômeno restrito àquele país.

O apoio declarado à organização da sociedade civil para enfrentar o bullying dá ao documentário um sentido militante.  Isso pode ser um problema, embora possa servir para sensibilizar os que desdenham a importância do assunto, mas não é o maior problema.  A questão é que é preciso entender melhor do que se trata e o que seria eficaz para atuar na prevenção do bullying. Se nem a escola, nem a polícia, nem os próprios pais sabem como abordar o assunto, é porque se trata de algo que está enraizado no tecido social e não será apenas com controle e punição que se alcançará êxito nessa empreitada.  Nem é sendo amigo ou ajudando pessoas individualmente que se conseguirá algo mais sólido.  Por parar por aí é que me parece que o filme fica superficial e ingênuo, em que pesem suas boas intenções.




Crianças ou adolescentes, por serem ainda imaturos, podem ser mais cruéis, proporcionalmente do que os adultos e não avaliarem os estragos que produzem na vida dos colegas e amigos.  Cabe aos educadores, tanto na escola quanto em casa e nas instituições, combater a intolerância, trabalhar a necessidade do convívio com a diversidade e, sobretudo, combater os preconceitos, em todos os âmbitos possíveis.  Isso se faz com informação, trazendo o conhecimento onde há ignorância, desrespeito ou atitudes inconsequentes.  Supõe também um trabalho continuado com base no debate e na reflexão.  Afinal, educar é isso.  E a ênfase para o enfrentamento do problema passa necessariamente pela educação.  Não só dos estudantes, mas também dos educadores, pais, profissionais de saúde, agentes comunitários e policiais. 

O direito à integridade física e mental é um direito humano de todas as pessoas e o bullying é apenas um dos aspectos dessa questão maior que se refere ao convívio pacífico entre seres humanos que se respeitam.  E que, naturalmente, tem de começar a ser trabalhado desde muito cedo, quando a criança começa a se socializar.  Do contrário, será preciso correr atrás do prejuízo, depois.





sábado, 8 de dezembro de 2012

E AGORA, AONDE VAMOS?


Antonio Carlos Egypto
E AGORA, AONDE VAMOS? (Et Maintenant On Va Où?). Líbano-França, 2011.  Direção: Nadine Labaki.  Com Nadine Labaki, Claude Baz Monssawbaa, Leyla Hakim, Yvonne Maalouf, Antoniette Noufaily, Julian Farhat.  100 min.


Em “E Agora, Aonde Vamos”?, a cineasta e atriz libanesa Nadine Labaki constrói uma fábula sobre o convívio pacífico entre religiões e celebra a diversidade não só de culto, mas também de hábitos e valores.

A ação se passa numa hipotética aldeia rural, onde cristãos e muçulmanos coabitam na base da amizade e respeito recíprocos, enquanto ao seu redor os conflitos religiosos produzem brigas, guerras e mortes.  Minas terrestres circundam o local.  Das mortes, a história da aldeia tem o registro das mulheres vestidas de negro e do cemitério, dividido em uma parte cristã e outra, muçulmana, separadas por um caminho de terra.

O convívio pacífico tem sido possível, entre outras coisas, porque a localidade não dispunha de sinal de TV, dependia da chegada eventual de jornais trazidos pelos que iam vender as mercadorias da terra na cidade.  E, assim, muitas notícias não chegavam ou chegavam incompletas, truncadas.  Mas novos tempos vão abrindo novas possibilidades à comunicação.



O que, na realidade, garante a paz na comunidade é a sapiência das mulheres, tanto de um lado como do outro.  Apesar de todos os percalços, elas sempre encontram uma saída para barrar a agressividade e o instinto belicoso que a qualquer momento pode brotar dos homens da aldeia.  Elas são tão sábias que são capazes de se colocar no lugar dos outros e entender as diferenças, inclusive simbólicas, que poderiam separá-los, para que isso não aconteça.

Essa fábula idealizada, recheada de bom humor, faz lembrar o trabalho anterior da cineasta: “Caramelo”, de 2007.  Mas aqui a seriedade do registro é maior.  A abrangência do tema, também. A idealização, por seu turno, é um caminho para apontar a estupidez dos conflitos em que sempre alguém está se vingando do que o outro lado faz e em que pessoas do povo se agridem, se atacam, destróem relacionamentos, em nome de diferenças genéricas de princípios e valores.  O humor da fita explora justamente esses disparates.  O ridículo revela aquilo que não pode continuar sendo como é.

A trama tem seus problemas.  O papel das mulheres estrangeiras, belas e sensuais, está mal amarrado à história e não convence.  E podemos levantar alguns outros questionamentos.  Por exemplo, quem não for cristão nem muçulmano como se inseriria nessa aldeia?  Há espaço para quem não crê?  No mundo ideal apresentado aqui, além de outras crenças, ateus e agnósticos teriam de ser lembrados e aceitos.  A divisão em apenas dois grupos facilita a transmissão da mensagem a que o filme se propõe, embora simplifique a questão.

“E agora, aonde vamos?” é um trabalho relevante e divertido, que também serve a quem busque simples entretenimento.  A vantagem é que essa é uma diversão que faz pensar.  É importante que o público torça pelos personagens femininos, por seu sucesso e pela paz.  É disso mesmo que estamos precisando nesse já tão conturbado século XXI.

sexta-feira, 7 de dezembro de 2012

ENTRE O AMOR E A PAIXÃO

Antonio Carlos Egypto


ENTRE O AMOR E A PAIXÃO (Take This Waltz).  Canadá, 2011.  Direção e roteiro: Sarah Polley.  Com Michelle Williams, Seth Rogen, Luke Kirly, Sarah Silverman.  116 min.




"Entre o Amor e a Paixão", estreia desta sexta, 07 de dezembro, em diversas cidades brasileiras, já tem crítica publicada aqui no cinema com recheio -- em outubro de 2012.

A Sombra do Inimigo



Tatiana Babadobulos

A Sombra do Inimigo (Alex Cross). Estados Unidos, 2012. Direção: Rob Cohen. Roteiro: Marc Moss, Kerry Williamson. Com: Tyler Perry, Matthew Fox, Rachel Nichols. 101 minutos



Perseguição, morte, vingança. Esses são os elementos básicos do thriller “A Sombra do Inimigo” (“Alex Cross”), longa-metragem que estreia nesta sexta-feira, 7, nos cinemas.

Alex Cross do título é um psicólogo que trabalha como detetive de homicídios na cidade onde mora, Detroit. Antes de envolver o espectador com a perseguição ao serial killer (Matthew Fox, da série “Lost”, visivelmente mais margro), porém, o longa envolve a plateia psicologicamente, fazendo com que cada um que acompanha a trama esteja do lado do bem, ou seja, do psicólogo, da polícia.

Isso porque Cross (Tyler Perry) se mostra humano quando quer dizer a uma detenta que ela não deve assumir o crime que não cometeu, além de mostrar como é um bom filho, bom marido e vai ser novamente um bom pai, já que sua esposa espera um bebê.

Cross trabalha com o melhor amigo e também parceiro, Tommy Kane (Edward Burns), e com a detetive Mônica Ashe (Rachel Nichols). Os três vão se armar para descobrir os passos do assassino e para quem trabalha.






Esses elementos juntos fazem com que o espectador se curve e se solidarize com o seu sofrimento e com as ameaças à segurança de sua família. Ou seja, se envolva com o longa-metragem dirigido por Rob Cohen para conhecer como será o final da história.

A fita segue pesada na ação e nas perseguições e leve no desenvolvimento dos personagens, principalmente do serial killer. Pouco se sabe sobre ele e o que motiva os seus atos. Outro problema da fita são os diálogos fracos e as bobagens que o detetive só repete pra provar que sabe sobre o que está falando. Cinema tem imagem e, portanto, o espectador vê o que ele está fazendo.

No início, as cenas parecem soltas, mas algumas fazem sentido, como a menina na prisão, o lutador magricelo que ouve sobre guerra e sexo antes de subir no ringue.

Outras cenas têm um pouco de humor e citações luxuosas, como a de Jean Reno que, em uma de suas participações na fita, oferece conhaque ao policial, que recusa. Mas Reno insiste: “É um Louis XIII”, referindo-se a um dos melhores exemplares da bebida preparada pela francesa Rémy Martin.

“A Sombra do Inimigo” discute família, vingança e amizade. A fita até prende o espectador, porque quer saber até que ponto segue a loucura do matador e para quem ele trabalha. Com roteiro baseado no romance “Cross”, de James Patterson, a fita tem direção de fotografia do brasileiro Ricardo Della Rosa, em sua estreia nos Estados Unidos.

quinta-feira, 6 de dezembro de 2012

INFÂNCIA CLANDESTINA

Antonio Carlos Egypto

INFÂNCIA CLANDESTINA (Infancia Clandestina). Argentina, 2011.  Direção: Benjamin Ávila.  Roteiro: Benjamin Ávila e Marcelo Müller.  Com Teo Gutierrez Romero, Natalia Oreiro, César Trancoso, Ernesto Alterio.  112 min.
“Infância Clandestina”, o filme argentino indicado pelo seu país para a disputa pelo Oscar de filme estrangeiro, é um filme político que remete ao ano de 1979, em que se vivia a última ditadura militar (1976-1983).
O ponto de vista é o de uma criança, um pré-adolescente de 12 anos de idade, que capta aspectos importantes da realidade, mas não tem condições de entendê-la por inteiro.  O personagem é Juan (Teo Gutierrez Romero), que tem tal nome para homenagear Juan Domingo Perón.  Seus pais (César Trancoso e Natalia Oreiro), assim como seu tio Beto (Ernesto Alterio), participam do mais importante movimento revolucionário de resistência armada ao regime militar: os Montoneros.

Após passarem por treinamento em Cuba, voltam clandestinamente à Argentina, para se integrarem às ações da luta armada que por lá se desenvolvia.  Os dois filhos do casal permanecerão vivendo com eles, sendo que um é ainda bebê.  O garoto Juan terá de assumir o nome de Ernesto, passaporte falso, e terá de disfarçar o sotaque e expressões cubanos que adquiriu, para poder frequentar uma escola. E lá fazer suas próprias descobertas, entre elas, a do enamoramento, em meio às lutas políticas de sua família e precisando preservar sua própria clandestinidade.
Isso se parece com o que muitas crianças, que tiveram pais militando na resistência armada à ditadura, viveram naquele período.  O filme tem mesmo a intenção de mostrar, por meio do relacionamento humano, esse passado recente, violento e assustador, que a Argentina viveu. Mas é também a história vivida na infância pelo diretor Benjamin Ávila, que decidiu relatá-la em seu segundo longa no cinema.  O roteiro foi feito por ele, em parceria com o brasileiro Marcelo Müller
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A opressão do período ditatorial na América Latina vista pelos olhos das crianças não é exatamente uma ideia nova.  “O Ano em que Meus Pais Saíram de Férias”, de Cao Hamburger, de 2006, mostra isso na realidade brasileira em plena Copa do Mundo de 1970.  “Machuca”, de 2004, de Andrés Wood, mostra os conflitos de classe gerados pelo convívio escolar de meninos, no Chile, que se revolucionava antes da chegada castradora de Pinochet.  Mesmo na Argentina já houve “Kamchatka”, de 2002, de Marcelo Piñeyro.  O próprio Benjamin Ávila informa que se inspirou em filmes como “Quando Papai Saiu em Viagem de Negócios”, de 1984, de Emir Kusturica, que tratava da perseguição aos dissidentes, na Iugoslávia de Tito, pela ótica de uma criança, e em “Minha Vida de Cachorro”, de 1985, do sueco Lasse Hallström.


No entanto, o diretor fez um trabalho diferente de todos eles, ao penetrar no âmago da luta armada, com as crianças vivendo os próprios tiroteios e o protagonista Juan/Ernesto percebendo em que estava envolvido e aprendendo a tática de viver clandestino.  Isso dá uma dimensão ainda mais forte e radical daquela época tão triste da história latino-americana.  Não espere, porém, por exacerbação de violência ou sangue à moda explícita do cinema comercial dos nossos dias.  O que predomina aqui é a sutileza.  Os tiroteios aparecem mostrados por desenhos fixos que se superpõem rapidamente e contam em detalhes tudo o que ocorreu.  Isso se repete em, pelo menos, três momentos cruciais do filme.  Em outros, a trama se desenvolve por meio de planos cujos cortes identificam o que aconteceu, sem necessidade de narrações, explicações ou diálogos reveladores.  A percepção se dá de forma sutil e incompleta, como seria vista pelo menino.  Mas tudo fica muito claro, já que somos adultos e razoavelmente informados politicamente.  É o que se supõe, claro.
Vale muito a pena ver “Infância Clandestina”.  E será inevitável se emocionar, se envolver com a narrativa.  O filme foi exibido no Festival de Cannes 2012, na 36ª. Mostra Internacional de Cinema de São Paulo e no Festival do Rio 2012.  Mais uma vez, a Argentina tem um bom concorrente para indicar ao Oscar.