CAFÉ (Caffè). Itália, 2016.
Direção: Cristiano Bortone. Com
Hichem Yacoubi, Dario Aita, Fangsheng Lu, Ennio Fantastichini.
“Café”, o filme, não deixa de ser uma homenagem
ao nosso sofisticado hábito de tomar café com algum requinte. Seja sendo uma produção super especial,
única, seja sendo servido num bule valiosíssimo, seja lendo a sua borra na
xícara. Ou, ainda, discorrendo sobre os
seus três sabores básicos: amargo, azedo e perfumado.
Outra constatação muito importante, o café é
um hábito planetário, alcança todo o mundo.
A prova disso é que o filme, do diretor italiano Cristiano Bortone,
conta três histórias passadas em países distintos: Itália, Bélgica e China ( é uma
coprodução dos três países) e envolve personagens árabes. Uma trama permeada
pelo café, como elemento simbólico e econômico, que pode vir a frequentar o
noticiário policial e mexer de forma intensa com a vida das pessoas.
As histórias têm um fio tênue que as liga,
como, de algum modo, todos nos ligamos enquanto seres humanos, ainda que longe
uns dos outros, mundo afora.
Um precioso bule de café roubado leva um árabe
pacífico a se envolver com violência na Bélgica, para recuperá-lo. Questões políticas, manifestações de rua em
Bruxelas, insatisfações com a situação econômica, falta de empregos e de opções
para os jovens e conflitos familiares imbricam-se num relato policial, a partir
de um ladrão imaturo e inepto. A mesma
questão do colapso das políticas de austeridade europeias encontra em Trieste,
na Itália, uma fábrica e um museu de café que serão objeto de um assalto que
põe em evidência a combinação entre a questão ética e o desespero numa
sociedade de consumo que não se sustenta.
Na China, não é diferente. Uma fábrica de café põe em risco o meio
ambiente e a comunidade, pela ganância e rigidez de seus donos, insensíveis ao
sofrimento humano que podem causar. E
faz-se um chamamento para a revalorização do cultivo romântico e tradicional do
café. Isso entremeado por uma história
de amor e, claro, pela redescoberta de um sabor artesanal da bebida.
Cada uma das histórias de per si teria condição de
alimentar um longa, porque havia muito ainda a explorar. O resultado encontrado, no entanto, é bom
pela dimensão globalizada em que situa o café e os dramas que podem
cercá-lo. Considerando que os maiores
produtores, como o Brasil e a Colômbia, estão fora da trama, tem-se a dimensão
da representatividade do café no contexto mundial.
“Café” é um bom produto cinematográfico
global, que se vale da força simbólica da bebida que o mundo aprecia para
contar histórias envolventes que dialogam com a realidade econômica atual. A narrativa salta de uma história a outra, ao
longo de todo o filme, sem chegar a cansar ou a confundir o espectador, pela
mão segura de um bom cineasta e de um bom e diversificado elenco.
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8
½. FESTA DO CINEMA ITALIANO
De 02 a 08 de agosto de 2018 São Paulo, Rio de
Janeiro, Brasília, Belém, Belo Horizonte, Curitiba, Florianópolis, Goiânia,
Porto Alegre, Recife, Salvador e Vitória apresentam nos cinemas a tradicional 8 ½. Festa do Cinema Italiano. São 11
longas-metragens da produção italiana recente, que merecem ser conferidos. Já vi e recomendo “Uma Questão Pessoal”, dos
irmãos Taviani (o último filme de Vittorio Taviani, falecido em abril último) e
“Fortunata”, de Sergio Castellitto.
Voltarei ao assunto depois de ver outros filmes dessa mostra.