MINHA FAMA DE MAU. Brasil, 2017.
Direção: Lui Farias. Com Chay
Suede, Gabriel Leone, Malu Rodrigues, Bruno Luca, Bianca Comparato. 116 min.
Erasmo Carlos, roqueiro e romântico, cantor e
compositor, foi um dos pilares da Jovem Guarda, um megasucesso televisivo dos
anos 1960, que se tornou um movimento de música jovem brasileira, sempre
relembrado desde então. Roberto Carlos,
o amigo e parceiro de Erasmo, manteve-se em alta sempre, mudando estilo,
prioridades e público. Wanderléa, o
terceiro pilar da Jovem Guarda, e Erasmo Carlos não conseguiram o mesmo
resultado, mas são lembrados por seu pioneirismo que conseguiu incorporar o rock,
então nascente, à música brasileira, compondo, vertendo e cantando em português
(antes deles houve Celly Campello). Eles
comandaram um time de artistas jovens, que se tornaram ídolos da brotolândia,
como se dizia na época.
Erasmo manteve uma carreira mais discreta como
cantor, ao longo do tempo, mas dividindo com Roberto a grande maioria das
composições que este lançava ao sucesso.
Como acontece até hoje.
“Minha Fama de Mau”, o filme de Lui Farias, é
uma adaptação do livro escrito por Erasmo Carlos, contando parte de sua vida e
carreira, da juventude pobre na Tijuca, vivendo em casa de cômodos, o popular
cortiço, ao sucesso retumbante da Jovem Guarda e o posterior declínio. Passa pelo tempo do conjunto The Snakes e pelo conhecimento de Tião, depois Tim Maia,
que lhe ensinou três acordes no violão, que lhe valeram muito, e também pelo
período de afastamento de Roberto Carlos e a retomada da amizade e da parceria.
Lá estão as muitas mulheres que passaram pela
vida dele, inclusive a esposa Narinha. O
filme optou por escolher uma única atriz para representar todas elas, Bianca
Comparato. Uma opção interessante que,
na prática, nivela as parceiras amorosas e sexuais por baixo. Todas valem pouco, pelo menos, até o
aparecimento de Narinha. É o que deve
ter sido captado pelos roteiristas Lui Farias, L. G. Bayão e Letícia Mey, do
texto original, suponho.
O filme é contado na primeira pessoa, é a
visão de Erasmo Carlos sobre sua vida e carreira. O personagem chega a falar diretamente para a
câmera, ou seja, contar para o público o que se passava ou o que era sentido
por ele.
O ator protagonista é Chay Suede, que não se
parece fisicamente com Erasmo, mas convence pela entrega ao papel e porque
canta bem as canções que marcaram o Tremendão. Gabriel Leone, que faz Roberto, e Malu
Rodrigues, que faz Wanderléa, também cantam bem e compõem um bom elenco, assim
como Bruno Luca, que faz Carlos Imperial, o empresário pilantra e pretensioso
que, de qualquer modo, abriu muitas portas para Erasmo.
O filme tem uma boa caracterização de época,
incluindo signos muito claros da Jovem Guarda, como ambientes, vestuário,
cartazes, instrumentos. Tem também
achados interessantes, como a interação entre a interpretação de hoje e as
imagens da plateia da época. Os
elementos políticos da ditadura militar estão ausentes, mas estavam também
ausentes na visão dos brotos e desses ídolos, no período.
Algum tempo atrás, vi uma entrevista com
Erasmo Carlos, em que ele dizia que estava na hora de se mostrar
novamente. E contava que sua neta, na
escola, informava as amiguinhas que Erasmo era amigo e parceiro de Roberto
Carlos e muito famoso, mas elas relutavam em acreditar. As gerações passam e a história pode se
perder. Daí a importância de filmes como
“Minha Fama de Mau”.
A
MORTE NÃO DÁ TRÉGUA EM 2019
Começou por tragédias evitáveis, vinculadas ao
lucro desmedido, que vitimaram centenas de vidas em Brumadinho, jovens talentos
futebolísticos no Flamengo e o brilhante jornalista Ricardo Boechat. Sem falar da mortandade diária que acomete o
Rio, Fortaleza e todo o país.
De modo mais natural e tranquilo, a morte nos
levou a magnífica Bibi Ferreira, dama dos palcos, aos 96 anos. No cinema, perde-se um músico espetacular,
como Michel Legrand, autor de algumas das mais belas trilhas cinematográficas,
e o grande ator suíço, Bruno Ganz, que participou de um grande número de
produções europeias de qualidade, ao longo de uma carreira notável. Perdas irreparáveis.
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