sexta-feira, 7 de novembro de 2008

FAVORITOS DA MOSTRA

Antonio Carlos Egypto

Neste ano, pude assistir a mais de 70 filmes da 32a. edição da Mostra Internacional de Cinema de São Paulo, incluindo algumas pré-estréias de filmes que já estão entrando em cartaz nos cinemas e que devem sair também em DVD.

Fiz uma lista do que eu gostei mais. O que fica patente é o valor da diversidade no cinema mundial contemporâneo. O olhar para o outro, para as diversas expressões culturais, os conflitos que se produzem e as respostas que se podem encontrar e também as grandes questões que desafiam a humanidade hoje e cujas respostas ninguém parece ter. Além disso, há o resgate de aspectos históricos e sociais esquecidos, desconhecidos ou que exigem novas reflexões. Tudo isso faz parte dessa cena cinematográfica que chega até nós por meio de festivais, como a Mostra Internacional de Cinema de São Paulo.

HANAMI - CEREJEIRAS EM FLOR, de Doris Dörrier, Alemanha.
LIÇÕES PARTICULARES, de Joachim Lafosse, Bélgica-França.TULPAN, de Sergey Dvortsevoy, Cazaquistão.LEONERA, de Pablo Trapero, Argentina.O ESTRANHO EM MIM, de Emily Atef, Alemanha.AQUELE QUERIDO MÊS DE AGOSTO, de Miguel Gomes, Portugal.ALEXANDRA, de Alexander Sokurov, Rússia.
KATYN, de Andrzej Wajda, Polônia.PALERMO SHOOTING, de Wim Wenders, Alemanha.O'HORTEIN, de Bent Hamer, Noruega.CIDADE MARAVILHOSA, de Aditya Assarat, Tailândia.
A FLORESTA DOS LAMENTOS, de Naomi Kawase, Japão.
O SILÊNCIO DE LORNA, de Jean-Pierre e Luc Dardenne, Bélgica.
SONATA DE TÓQUIO, de Kiyoshe Kurosawa, Japão.
NUVEM 9, de Andreas Dresen, Alemanha.
LA BOHEME, de Robert Dornheim, Áustria.
THREE MONKEYS, de Nuri Bilge Ceylan, Turquia.
O MENINO DO PIJAMA LISTRADO, de Mark Herman, Reino Unido.
MACHAN, de Uberto Pasolini, Sri Lanka.
EU QUERO VER, de Khalil Joreige e Joana Hadjithoams, Líbano.

As sessões de cinema mudo, com acompanhamento de pequena orquestra, ao vivo, e composições originais para os filmes O HOMEM QUE RI, de Paul Leni, de 1925, Estados Unidos, e POIL DE CAROTTE, de Julien Duvivier, de 1928, França, foram espetaculares. Mas quem perdeu só pode lamentar, já que foram eventos únicos. Já boa parte dos filmes que citei acima poderão ser vistos oportunamente, ainda que leve um tempo para que isso aconteça.

O CINEMA ALEMÃO SE DESTACA NA 32a. MOSTRA

Antonio Carlos Egypto


Na edição de 2008 da Mostra Internacional de Cinema de São Paulo, destacaram-se alguns representantes do cinema alemão, como o belíssimo HANAMI - CEREJEIRAS EM FLOR, da diretora Doris Dörrier, uma sensível história sobre sonho, envelhecimento e morte, tratada com humanismo, com direito a um mergulho em paisagens e expressões artísticas japonesas. Perfeito para um centenário de imigração japonesa no Brasil, esse talentoso filme alemão.

O vencedor do troféu Bandeira Paulista, destinado aos filmes de novos diretores, coube merecidamente a O ESTRANHO EM MIM, de outra diretora alemã, Emily Atef. O tema, tratado com muita competência, é o da depressão pós-parto. É preciso coragem para lidar com o avesso do estereótipo da maternidade, e talento para nos envolver nesse drama. O filme já foi comprado para exibição no Brasil, aliás, o primeiro país a adquiri-lo, segundo a diretora.

Outra grande surpresa foi NUVEM 9, também alemão, de Andreas Dresen. Trata-se de um triângulo amoroso - e sexual - na velhice. Protagonistas da faixa dos 70 a 80 anos são mostrados vivenciando desejos intensamente, o que inclui cenas de nudez e sexo, que contrariam os padrões estabelecidos de mostrar corpos jovens e sarados nos filmes. A densidade dos sentimentos é também mostrada, com sutileza.

Além disso, ainda alemão, o novo filme de Wim Wenders, PALERMO SHOOTING, é bonito, original, com uma forma cativante e surpreendente, além de revelar as belezas da cidade de Palermo a quem não a conhece, como é o meu caso.

O representante do Cazaquistão, TULPAN, de Sergey Dvortsevoy, nos remete a um universo rural onde as mulheres são mais raras do que as ovelhas. O que fazer quando a única pretendente possível não quer saber do nosso personagem, porque ele tem orelhas grandes demais? Já o representante do Sri Lanka, MACHAN, nos põe em contato com a inexistente seleção de handebol do país, que terá que se apresentar num torneio na Bavária. São filmes que encantam, pela simplicidade e pela diversidade que nos trazem. E também são co-produções alemãs.

É justo, portanto, chamar a atenção para o cinema que está sendo produzido pela Alemanha na atualidade. A amostra que chegou em São Paulo em outubro foi saborosa.