Antonio Carlos
Egypto
Cinéfilos costumam gostar de filmes que falam de
cinema. Na 40ª. Mostra Internacional de
Cinema de São Paulo, encontramos alguns exemplos.
BENCH CINEMA, de Mohammad Rahmanian, do Irã,
apresenta um personagem improvável, que decora filmes inteiros para
apresentá-los ao público, como teatro, tendo em vista restrições e censura na
circulação de produtos audiovisuais, como os VHS, no Irã dos aiatolás. E, com
isso, homenageia grandes clássicos e sucessos do cinema comercial. É divertido,
dá bem para curtir, embora o recurso canse, ao longo do tempo.
MIFUNE:O ÚLTIMO SAMURAI |
Linda homenagem faz Steven Okazaki, do Japão, àquele
que pode ser considerado um dos maiores e mais talentosos atores do cinema
japonês e mundial: Toshiro Mifune (1920-1997).
Quem aprecia a obra de Akira Kurosawa (1910-1998), o diretor com quem o
ator mais trabalhou, vai relembrar cenas antológicas de filmes, como
“Rashomon”, “Yojimbo”, “Os Sete Samurais”, “Trono Manchado de Sangue”, entre
muitos outros. MIFUNE: O ÚLTIMO SAMURAI também aborda outros aspectos da vida do ator,
como a sua paixão por carros e bebida, às vezes simultânea, o que é
problemático.
PITANGA |
Outra bela homenagem prestam Beto Brant e Camila
Pitanga ao nosso grande ator Antonio Pitanga, de uma vasta contribuição ao
cinema brasileiro, em obras de grande porte e importância, duas delas exibidas
nessa Mostra, “A Grande Cidade”, de Cacá Diegues, e “Barravento”, de Glauber Rocha. O documentário PITANGA revela as características
de uma personalidade forte, mas sedutora, firme, mas negociadora, e, sobretudo,
de um bom humor contagiante. Aliás, eu
nunca ri tanto assistindo a um documentário como aconteceu com PITANGA. Parecia uma comédia.
Relembrar o grande Abbas Kiarostami (1940-2016) foi o
mérito do documentário 76 MINUTOS E 15 SEGUNDOS COM KIAROSTAMI, resgatando
gravações feitas com o cineasta iraniano fotogrando, filmando, escrevendo e
convivendo com pessoas no trabalho. Quem
gosta de cinema e sente a perda de sua arte inovadora vai apreciar o esforço de
compilação de imagens de Seifollah Samadian, amigo e colaborador do cineasta,
para nos trazer Kiarostami de volta à telona.
Oportuno e emocionante.
76 MIN.E 15 SEG. COM KIAROSTAMI |
O CINEMA, MANOEL DE OLIVEIRA E EU, do português João
Botelho, conterrâneo e contemporâneo do mestre Oliveira, com quem conviveu, é
um prato cheio, em especial para os cinéfilos da Mostra, que já conhecem o
diretor João Botelho (de “Os Maias – Cenas da Vida Romântica”, de 2014, por
exemplo) e acompanharam a trajetória de Manoel de Oliveira (1908-2015), ao
longo de muitos anos, vendo seus filmes sendo lançados aqui . Ainda não vi o filme, mas já tirei ingresso
para vê-lo. Não iria perdê-lo por nada.