domingo, 28 de fevereiro de 2010

O SEGREDO DOS SEUS OLHOS



Antonio Carlos Egypto

O SEGREDO DOS SEUS OLHOS (El Secreto de Sus Ojos). Argentina, 2009. Direção: Juan José Campanella. Com Ricardo Darín, Soledad Villamil, Pablo Rago e Javier Godino. 127 min.


Um thriller contemporâneo, muito bem dirigido e vistoso, é o novo trabalho do diretor argentino Juan José Campanella, o mesmo de “O Filho da Noiva (2001) e “Clube da Lua” (2004).

Benjamin Espósito (Ricardo Darín) sempre trabalhou num Tribunal Penal. Quando se aposenta, resolve escrever um romance. O assunto remete a algo não resolvido para ele há 25 anos: um assassinato com marcas de grande violência, que acabou inconcluso, em função do momento político argentino, a gestação e a implantação da ditadura militar.

Suas vivências daquele fato, os personagens com quem se envolveu e com quem trabalhou, voltam à cena, para que ele, afinal, consiga elaborar aquela experiência traumática. Conhecemos seu colaborador, que acabou morto, confundido com o próprio Espósito, e, sobretudo, reaparece a juíza Irene (Soledad Villamil), um amor que não conseguiu se expressar na época. Haverá tempo para ressignificar tudo aquilo e deslindar toda a história? O filme alterna continuadamente o momento presente e aquele passado que não quer desaparecer da cabeça do personagem Espósito.

E o que é a paixão? De acordo com a trama de “O Segredo dos Seus Olhos”, é aquilo que fica, do qual não podemos abrir mão, ainda que ela possa nos colocar em perigo ou mesmo nos enlouquecer. Ou seja, a paixão é o que nos move, consciente ou inconscientemente, de forma lógica ou irracional. Dela não escapamos, ou não queremos escapar. A paixão de um dos personagens pelo futebol, mais especificamente pelo time do Racing, possibilita ao diretor realizar uma cena brilhante em movimento e expressividade.

Uma curiosidade interessante é que nas cenas de campo-contracampo, em que a câmera mostra ora, um, ora, outro dos personagens, “o outro” sempre aparece em parte e desfocado, na frente do quadro, como que a acentuar que é de diálogo que se trata, que o outro está lá presente.

Muitas coisas acontecem ao fundo ou na lateral do enquadramento, assim como as falas, que aparecem fora de cena, antecipando ou prolongando a ação, recursos muito presentes num cinema contemporâneo de qualidade. Os diálogos do filme talvez sejam seu maior mérito. São deliciosos, irônicos, hilários, originais em sua dramaticidade, e contribuem para manter o suspense do quebra-cabeças que o filme nos apresenta. Com isso, a fita permanece sempre atraente e prende a atenção do espectador o tempo todo.

É mais um trunfo do cinema argentino, vencedor do Oscar como filme estrangeiro. E mais um desempenho notável desse grande ator que é Ricardo Darín.

sexta-feira, 26 de fevereiro de 2010

AMOS GITAI E “APROXIMAÇÃO”



Antonio Carlos Egypto

APROXIMAÇÃO (Disengagement). Israel, 2007. Direção: Amos Gitai. Com Juliette Binoche, Liron Levo, Jeanne Moureau e Barbara Hendricks. 115 min.


Amos Gitai é um diretor de cinema israelense, nascido em Haifa, em 1950, que sempre abordou em seu trabalho questões do judaísmo, em seus aspectos históricos, religiosos (as diferentes visões e valores dentro do judaísmo), os conflitos no Oriente Médio, as guerras que assolam a região em que seu país está envolvido e até aspectos militares desses conflitos.

Seu olhar é pacifista, profundamente humano e capaz de enxergar os vários lados da questão. Por meio de personagens não muito elaborados, que vivem e sofrem em função desses conflitos, ele ressalta, mediante a vivência de uma pessoa ou de poucas pessoas, o drama humano não só dos judeus israelenses ou dos palestinos, mas de todos os povos e nações que ali se relacionam.

Ele mesmo viveu a experiência de atuar na guerra do Yom Kippur, nos anos 1970, integrando uma unidade de salvamento aéreo, o que lhe serviu de base para o filme “Kippur – O Dia do Perdão” (2003). Em “Kedma” (2002), é a criação do Estado de Israel que aparece na história dos sobreviventes de campos de concentração, que viajam de navio para chegar à Palestina, onde são recebidos a bala por soldados ingleses.

Em “Kadosh – Laços Sagrados” (1999), é a relação entre a ortodoxia judaica e o mundo contemporâneo o que se vê no papel designado às mulheres, especialmente na reprodução, e na forma diferenciada como os personagens femininos reagem aos cânones tradicionais. Em “Free Zone” (2005), a chamada zona franca de negócios é a que fica na fronteira entre Iraque, Síria e Arábia Saudita. Conflitos pessoais entre três mulheres, que lá se encontrarão por diferentes razões e motivações, movem o filme, que respeita e valoriza as diferenças.

A película programada para entrar em cartaz nos cinemas e que foi batizada de “Aproximação” é de 2007 e trata de uma situação complicada. Questões políticas levaram o governo de Israel, em nova tentativa para que negociações de paz pudessem ter algum resultado, a retirar, nem que fosse preciso usar a força, judeus assentados na Faixa de Gaza. Uma contradição difícil de ser assimilada, sobretudo para os mais religiosos. As cenas de pessoas sendo carregadas pelos soldados israelenses, enquanto homens e mulheres, em salas separadas e em vestimentas típicas, entoam canções religiosas e leem a Torah, são as de maior impacto do filme. E colocam em campos opostos uma mãe à procura de sua filha, que está sendo retirada por soldados, comandados por ninguém menos que o irmão adotivo daquela mãe. Doloroso, não é?

Para mim, a cena que vale o filme é um plano-sequência longo, logo no seu início, quando um israelense se envolve com uma palestina, a partir de um simples encontro no corredor do trem, para compartilhar cigarros, e um fiscal, que controla passaportes, manifesta por falas e comportamento a inviabilidade da aceitação social da atração entre um israelense e uma palestina. Quando ele procura protegê-la de uma intransigência inexplicável do fiscal, isso soa como algo inadmissível, como se as pessoas tivessem de ser inimigas no plano pessoal e jamais pudessem se atrair sexual ou amorosamente. A conversa do casal remete à discussão do que é uma nacionalidade e do que ela pode significar.

O cinema de Gitai é generoso, voltado aos sentimentos humanos, mas sem concessões ao cinema comercial dominante. A começar pelos planos-sequência, onde tudo acontece devagar. A situação e a história importam mais do que a construção elaborada dos personagens. Eles estão ali para viver o drama que o contexto ou a história lhes impôs. Entendemos bem o que se passa, sem que tenhamos de atentar para meandros complexos de suas personalidades.

O seu jeito de filmar é elegante, bonito, mas exige uma atenção concentrada e, naturalmente, ajuda muito ter algumas informações sobre o contexto de seus filmes, já que ele está centrado nas pessoas, mas o drama delas se dá por razões coletivas, mais do que por razões individuais.

No elenco desse filme, se destacam Juliette Binoche, ótima, e, num pequeno papel, aparece uma envelhecida, mas sempre notável, Jeanne Moureau. Liron Levo faz muito bem o principal papel masculino.

quarta-feira, 24 de fevereiro de 2010

Educação

Tatiana Babadobulos

Nick Hornby é um apaixonado por música, literatura e, vá lá, cinema. Entre outros, é autor do romance "Alta Fidelidade", cujo livro ganhou as telas e fez muito sucesso com o protagonista vivido por John Cusak, viciado em "top 5", ou seja, em tudo o que fala ou pensa, inclui uma lista com cinco itens. Desta vez, ataca de roteirista. A partir do texto autobiográfico da jornalista Lynn Barber, publicado na revista literária "Granta", sobre seu primeiro namorado, Hornby escreveu o roteiro de "Educação" ("An Education"), longa-metragem que estreia após receber três indicações ao Oscar 2010 (melhor filme, atriz, roteiro adaptado).

Na Inglaterra dos anos 1960, a adolescente Jenny (Carey Mulligan) vive sufocada com os estudos e com a pressão do pai autoritário (Alfred Molina), que a obriga a estudar latim para ingressar em Oxford, embora ela goste mesmo de francês e queira ir a Paris ver filmes, ler livros, ouvir os cantores franceses, fumar seus cigarros, vestir roupas pretas, uma vez que, do outro lado do Canal da Mancha, o mundo lhe parece mais livre que na imensa ilha que habita. Para ela, o mundo perfeito tem nome: Paris.

O marasmo começa a mudar quando, ao sair da aula de violoncelo, ela conhece David (Peter Sarsgaard), um bon vivant mais velho que ela e faz "negócios" com obras de arte. Como entende de música clássica (e pode levá-la a concertos e a frequentar os mesmos locais da nata londrina), ela aprende a apreciar restaurantes, deixa de lado os estudos e, com as amigas da escola, compartilha de suas experiências (inclusive o sexo, que, segundo ela, "Todas essas poesias, e todas aquelas canções, sobre algo que leva tão pouco tempo?).

Nesta transição, portanto, ela vai aprender que a tal educação não está apenas nos livros, embora a escola não possa ser menosprezada, pois a professora e a diretora têm algo a ensinar. E é essa vida cheia de ilusões que ela quer.

Com direção da dinamarquesa Lone Scherfig, "Educação" discute os problemas da vida no Reino Unido da época, uma vez que tinha ficado para trás, se comparado aos Estados Unidos e à França e cuja população preza pela "liberdade, igualdade e fraternidade". O espectador vai se confrontar também com as atitudes do pai que, ao mesmo tempo que quer mandar, é medroso e não se sente confortável em ir para a França por não ter, por exemplo, o dinheiro daquele país, uma vez que naquele período pós-Segunda Guerra Mundial, tratava-se de um transtorno o câmbio de moedas.

Como foi inspirado no primeiro namorado de Lynn Barber, a fita retrata o que compõe o primeiro amor: apresentar à família, conhecer os amigos, apreciar os locais e as coisas pela primeira vez, ainda que o rapaz já o tenha feito antes. Para ela, desfrutar dessas maravilhas tem os lados bom e o ruim. E isso o filme também mostra.

O filme traz figurino e o retrato de uma Londres fria e cinzenta dos anos 1960 e trilha sonora (bem escolhida, aliás!) para o espectador apreciar e sintonizar os costumes, as pessoas, os amores. "Educação" reflete a juventude de hoje, ainda que não sob as mesmas circunstâncias e sob os mesmos aspectos. No entanto, é possível, sim, se identificar com a personagem, ainda que, aparentemente, os pais não exerçam hoje em dia tanta influência nas escolhas dos filhos como há 40 anos.

quinta-feira, 18 de fevereiro de 2010

O Lobisomem

Tatiana Babadobulos

Trata-se de um remake do longa-metragem lançado em 1941 (de George Waggner), em preto-e-branco, a estreia desta sexta, 12: “O Lobisomem” (“The Wolfman”). Refilmagens, aliás, são pouco justificáveis, a não ser que sirvam para melhorar algo que era bom. Neste caso, pois, a ideia pode ter sido aprimorar os efeitos especiais e torná-los realistas. E neste ponto vai bem.

A lenda da criatura conhecida como licantropo, um humano com a habilidade de se transformar em lobo em noite de lua cheia, remete aos mitos dos gregos antigos. No cinema, a história conta sobre Lawrence Talbot (Benicio Del Toro, de “21 Gramas”), cuja infância fora bastante tumultuada, principalmente após a morte de sua mãe. Desde a trágica noite, saiu da Inglaterra e foi para os Estados Unidos esquecer os sons que costumava ouvir, os traumas. Tanto trauma que se internou no hospício, pensando que era loucura. No entanto, é a morte do seu irmão, anunciada por sua cunhada, Gwen (Emily Blunt), que o faz voltar para descobrir o que tem acontecido naquela redondeza.

De maneira não linear, com roteiro escrito por Andrew Kevin Walker e David Self (com base no de Curt Siodmak), portanto, o filme volta ao ponto inicial e mostra como foi a infância do rapaz, sua relação com o pai (Anthony Hopkins, ótimo!), que era frio e pouco amoroso (embora obsessivo com relação às mulheres), e por que as desgraças acontecem sempre nas noites de lua cheia.

O que o motiva a ir atrás do que aconteceu, além da cigana Maleva (Geraldine Chaplin), que afirmou ser o seu destino depois que fora mordido pela criatura e, por isso, não é possível mudar, é o amor que nasce em relação a Gwen. É o amor que sente por ela que o move a acabar com o mistério que ronda a mansão onde vive.

Com direção de Joe Johnston (“Jurassic Park 3”), “O Lobisomem” é um filme de época, situado no interior da Inglaterra e em Londres (onde aparecem de relance a Tower Bridge, a catedral St. Paul, o rio Tâmisa), uma cidade com ruas por onde passam cavalos, inspetores da Scotland Yard em busca do assassino, além de acampamento de ciganos. Todos, pois, com seus figurinos que condizem com a época (fim do século 19), mas com imagens sempre sombrias.

O lobisomem aparece primeiramente de relance, só a sua sombra, uma vez que seus movimentos são extremamente rápidos. No entanto, quando uma das cenas mostra a transformação do homem para a fera, então é revelado, passo-a-passo, os pelos a mais que crescem em seu corpo e rosto, as mãos, os pés, os dentes e toda a estrutura de seu corpo que é modificado para viver alguns minutos como predador.

Um dos problemas da fita é a trilha sonora incessante. Desse modo, ainda que seja bela, o espectador passa a ignorar o som, pois ele está sempre lá, e não se surpreende nos momentos de tensão e suspense, nem quando a música se altera para pregar susto.

Para os que não aguentam cenas permeadas de sangue e matança, atenção: há corpos dilacerados, vísceras esparramadas pelo chão (e que a câmera mostra com cuidado), cabeças cortadas, pulsos arrancados durante os ataques daquele que chamam, a princípio, de diabo.

O clímax, enfim, é um dos momentos mais esperados: o combate entre dois monstros e segue a torcida para descobrir quem vai levar a melhor. Afinal, quem chega no cavalo branco é a mocinha e não o príncipe encantado.

Em tempo dos filmes que exaltam criaturas como vampiros (“Crepúsculo”, “Lua Nova”), “O Lobisomem”, baseado também em uma lenda, reúne boa história de uma maneira bem contada, com ótimas interpretações (o olhar de Del Toro é incrível e consegue transmitir a fúria e as diferenças entre quando é o mocinho e quando se torna a besta) aliadas a efeitos especiais e maquiagem de primeira qualidade.

quinta-feira, 11 de fevereiro de 2010

ENTRE IRMÃOS

Antonio Carlos Egypto


ENTRE IRMÃOS (Brothers). Estados Unidos, 2009. Direção: Jim Sheridan. Com Tobey Maguire, Jake Gyllenhaal e Natalie Portman. 110 min.


Se um irmão é bom, dedicado, persistente e conquista as coisas, não surpreende nada que o outro aja como moleque, inconsequente, transgressor, irresponsável. Sam (Tobey Maguire) é um capitão em ação no Afeganistão, Tommy (Jake Gyllenhaal) acaba de sair da cadeia, porque esqueceu de cumprir as leis. No jogo de compensações se dá o equilíbrio. Certamente não para o pai deles, que vê o militar como herói (ele mesmo já serviu no Vietnã antigamente) e o outro, como um renegado que ele mal suporta ver.

No filme de Jim Sheridan, essas oposições rapidamente se borrarão. E se o militar morrer em ação? E se o irresponsável for capaz de conquistar a simpatia das sobrinhas e da cunhada, Grace (Natalie Portman), apesar de todas as evidências em contrário até aqui? Tudo começa a mudar. E se o morto não estiver morto e voltar, que quadro encontrará em família? E que relação entre irmãos poderá então se estabelecer? O caleidoscópio vai girando e aparecem novas configurações.

O que aconteceu no Afeganistão? Que escolha ética envolveu nosso protagonista? Por que ele voltou tão traumatizado? Tudo mudou e conviver com essas mudanças pode ser penoso de uma forma ou de outra para todos, dos pais às crianças, passando pela mulher e, naturalmente, entre os irmãos.

Se o foco na família e nos relacionamentos caracteriza o filme, não menos importante é o tratamento dado aos traumas de guerra. Aqui é o Afeganistão. Mas poderia ser qualquer guerra, intervenção militar ou missão de paz. O poder destruidor da passagem pela guerra, especialmente quando situações-limite se apresentam, deixa consequências terríveis, que podem se tornar insuportáveis, a ponto de levar a desistir de viver. Afinal, não se pode viver a qualquer preço. Ultrapassados certos limites, a vida perde todo o sentido. E, no entanto, ela está lá, a vida segue seu curso.

São questões muito interessantes as que movem este trabalho cinematográfico e que vão mudando e surpreendendo os próprios personagens e a plateia, compondo um drama humano com forte conotação política. Incomoda que tenha cabido aos personagens afegãos simplesmente o papel de maus, impiedosos, selvagens. O discurso que eles usam é cristalino: “O que é que vocês vieram fazer aqui? Esta é a nossa terra”, mas não sobrou nuance que não seja a da maldade.

A história de “Entre Irmãos” é inegavelmente muito boa e o diretor irlandês Jim Sheridan parece gostar de contar histórias fortes numa narrativa linear. Ele destaca a intensidade do drama aliado a uma causa, geralmente. Lembram-se de “Meu Pé Esquerdo” (1989) ou de “Em Nome do Pai” (1993)?

“Brothers” é uma refilmagem. O original dinamarquês é de 2004, dirigido e roteirizado por Susanne Bier, que dirigiu também “Depois do Casamento” (2006), um bom filme que envolve questões humanas dentro da globalização e os contrastes existentes entre países ricos e pobres.

Nesta versão de 2009, o trabalho dos atores se destaca. Tobey Maguire pôde exercer um papel cheio de nuances e mudanças, muito diferente do heroísmo do Homem-Aranha. Não que ele já não tivesse feito trabalhos em que a sensibilidade se evidenciasse, como em “Regras da Vida”, de Lasse Halström. Mas o capitão Sam é uma figura mais intensa e dilacerada.

Jake Gyllenhaal vive um personagem em transformação. Sua atuação nos mostra este processo de amadurecimento e humanização progressiva e os diferentes humores e comportamentos por que ele passa.

Natalie Portman faz um personagem feminino que tem de se relacionar de forma radicalmente diferente com cada um dos irmãos, ao longo do filme. Ela consegue isso, sem apelar para nenhum exagero interpretativo.

Para quem gosta de apreciar uma boa história, conduzida por um diretor tarimbado, com bons atores em cena, “Entre Irmãos” é uma boa pedida.

terça-feira, 9 de fevereiro de 2010

O MENSAGEIRO



Antonio Carlos Egypto


O MENSAGEIRO (The Messenger). Estados Unidos, 2009. Direção: Oren Moverman. Com Ben Foster, Woody Harelson, Jena Malone e Samantha Morton. 112 min.


Os Estados Unidos, ou melhor, o seu povo, está purgando os males de guerra, em que o país sempre se envolve. A intervenção no Iraque vai cobrando o seu preço em vidas ceifadas e sofrimentos que ficam. Vidas de gente muito jovem, na faixa dos 20 anos de idade, com tudo pela frente. Alguns já com esposa e filhos, mas a maioria com seus vínculos mais fortes com pai e mãe.

Quando os pais ou a mulher apoiam a atuação militar no Iraque e aprovam que seus parentes se disponham a ir para lá, geralmente não consideram seriamente a ideia de uma morte em combate, assim, tão prematura.

Por isso, é preciso ter militares à altura de uma missão espinhosa: comunicar a morte ou desaparecimento de seus entes queridos. E as reações serão as mais diversas: do desespero à agressão aos mensageiros, os “culpados” visíveis. De uma aceitação conformista, que surpreende, a uma revelação de traição, que se dá nessa hora.

Mas é trabalho para militar nenhum botar defeito, haja coragem. Alguns vão preferir a exposição aos tiros e às bombas a ter de enfrentar isso.

Bem, é dessa missão que trata o filme, sem qualquer inovação ou brilho particular. O tema é sério e sofrido. As histórias complementares à trama principal tratam de arejar um pouco a coisa, para que a película não se torne simplesmente triste ou depressiva. Tem até algum humor. Mas não é fácil elevar o astral do público, com um tema desses, convenhamos.

domingo, 7 de fevereiro de 2010

CLINT EASTWOOD




Antonio Carlos Egypto

Clint Eastwood vai chegando aos 80 anos de idade em grande forma como diretor. E permanece sendo um ator muito expressivo, também.

Seus trabalhos neste século XXI chamam a atenção para questões importantes da contemporaneidade, como o reconhecimento da diversidade e o necessário convívio que precisa existir nas diferenças. Além disso, questiona as verdades estabelecidas, desconstruindo-as, e deixa profundas reflexões aos norte-americanos, com seu egocentrismo de nação-potência e seu discutível patriotismo. Até mesmo a liberdade tão propalada no ideal americano sofre grandes abalos.

Em “Sobre Meninos e Lobos” (2003), por exemplo, ele lida com um verdadeiro tabu: os traumas de um homem que foi abusado sexualmente. Em “Menina de Ouro” (2004), a questão de gênero (masculino/feminino) aparece em cheio na história da menina que se dedica ao boxe.

Em “A Conquista da Honra” (2006), ele desconstrói o mito patriótico em cima de uma foto histórica da II Segunda Guerra Mundial, aquela que marcou a conquista da ilha de Iwo Jima aos japoneses, com soldados fincando a bandeira americana. Os envolvidos nesta história têm de suportar as fantasias, as mentiras e a propaganda patriótica em torno de uma conquista que, na realidade, deveria mostrar a determinação e a bravura dos soldados japoneses e das táticas do seu general, que resistiram numa batalha de 40 dias com poucos recursos, mas com uma vontade inabalável. É disso que trata “Cartas de Iwo Jima” (2006), a mesma batalha vista pelos olhos dos japoneses. Onde está a verdade? Que sentido tem o apelo patriótico? Heróis pode haver em toda parte e por que a nossa verdade será melhor que a deles? Em dois filmes primorosos, Clint Eastwood exercita seu questionamento e seu respeito pelo outro lado.

Se a liberdade dos soldados que fazem parte da tal foto, fincando a bandeira, já havia sido posta em questão, o que dizer da completa ausência de liberdade que o próprio Estado impõe a uma mãe, obrigando-a a dizer que uma criança encontrada é seu filho, quando ela, obviamente, sabe que não se trata do filho desaparecido? É o que acontece em “A Troca” (2007).

“Gran Torino” (2008) retoma o tema da compreensão da diversidade, com um personagem típico norte-americano (ele próprio em atuação), descobrindo que seus vizinhos orientais são gente que tem uma cultura própria e merece respeito, por mais que nos incomodem a sua simples existência, seus gostos e hábitos. Mais do que isso: precisamos deles e eles têm muito a nos ensinar. Nunca é tarde para aprender, como o já velho personagem que Clint encarna deixa claro.

Um olhar próximo para o outro que desconhecemos também está em seu filme mais recente, “Invictus” (2009). Aqui, é a África do Sul superando o “apartheid”, pela firme liderança de Nelson Mandela. A sabedoria do presidente eleito, depois de 27 anos na prisão, encarando o rugby, de origem branca e inglesa, como esporte nacional de um país que quer ser multirracial, impressiona. Uma vez mais, há heroísmo e vida inteligente do “outro lado”, no desconhecido, na diversidade.

Clint Eastwood é um cineasta de características clássicas. Em “Invictus” isso é muito evidente, não só na narrativa, sempre contada linearmente, mas também na estruturação da história, no uso dos picos de emoção e no suspense do tempo. A filmagem da disputa das partidas da Copa Mundial de rugby na África do Sul, em 1995, apresenta todos os lances emocionantes – e previsíveis – do estilo clássico. Mas funciona e muito bem.

Clint Eastwood se vale dos recursos clássicos do cinema e das possibilidades de que o cinema norte-americano sempre dispôs, para criar obras maduras, que dialogam com seu país, sua comunidade, os valores estabelecidos e que, mesmo ao tratar de alguns temas localizados, consegue dialogar com o mundo, emocionando as pessoas de todos os lugares.

São temas caros à contemporaneidade, numa abordagem ampla, ainda que a princípio não pareça, o que Clint Eastwood coloca na tela, que qualquer um compreende e pode parar para pensar.

quarta-feira, 3 de fevereiro de 2010

Invictus

Tatiana Babadobulos

Quantos leitores deste blog ligam para um jogo de rúgbi? Quantos conhecem as regras deste jogo? Embora “Invictus”, novo filme de Clint Eastwood (de “Menina de Ouro”), fale sobre o rúgbi, não se trata desta modalidade pouco conhecida no Brasil. Portanto, pouco importa se você domina suas regras para escolher assistir ao filme ou não. Em um momento, ele até explica que a regra número um é passar a bola ou para os lados ou para trás, mas não é esta é a questão. “Invictus” não discute as regras, não comenta se um time é melhor que o outro, mas sim como o presidente recém-eleito da África do Sul, Nelson Mandela (no filme representado por Morgan Freeman), conseguiu melhorar a autoestima da população no fim do apartheid e como conseguiu a confiança também dos brancos.

“Invictus”, que é um poema do inglês William Ernest Henley (cuja tradução é “invicto”, “insubjugável”), discute liderança, companheirismo e mostra como Mandela fez para todos acreditarem em sua proposta. Através de um jogo de rúgbi, o presidente faz o marketing de sua política, mostra que é possível o branco conviver com o negro em perfeita harmonia, sem preconceito de um lado ou de outro.

As primeiras mudanças são feitas dentro de seu governo. Sua segurança, formada por profissionais negros, recebe uma equipe composta por brancos. Segundo ele, foi a maneira de mostrar que seu governo seria daquela maneira, ou seja, negros convivendo com brancos e vice-versa. Outra lição que mostrou é que só o perdão liberta a alma. Mesmo que tenha passado 27 anos na prisão por lutar contra o apartheid, sai de lá com a concepção de que pode perdoar aqueles que lhe fizeram mal.

Na Copa Mundial de Rúgbi de 1995, portanto, une as torcidas, uma vez que a população tinha vergonha de torcer para os Springboks, que vestiam o uniforme verde e ouro e cujo brasão lembrava o apartheid. Literalmente, Mandela veste a camisa do time e convoca o capitão François Pienaar (Matt Damon) para vencer, lhe escreve declarações que se tornam inspirações que vão, de uma maneira ou de outra, alimentar a atitude de virada.

A África do Sul entrou na Copa como “loser”, como equipe perdedora que não ia conseguir chegar às Quartas de Final. Entretanto, tudo o que precisava fazer para avançar no campeonato era ganhar da Austrália, o primeiro jogo. A vitória, então, significou a melhora na autoestima do time, dos torcedores, de Nelson Mandela, de modo que todos conseguissem se unir para enfrentar os All Blacks, time neozelandês que era dado como favorito.

Um exemplo da segregação está representado na casa do capitão, onde os patrões são loiros, brancos e a empregada, negra, que votou no Mandela, que preza por um futuro melhor a seu país, que canta no dialeto deles. No jogo contra os All Blacks ela é convidada a se sentar na arquibancada ao lado da patroa. É o começo da mudança, uma mudança de dentro para fora, da África do Sul para o mundo.

Um jogo de rúgbi no qual brutamontes são obrigados a se bater, saem com hematomas nas coxas, no peito, no rosto, vão mostrar que a parte física conta muito, mas que é preciso mudar principalmente na cabeça de cada jogador, é acreditar que é possível vencer. E esta é a diferença entre os outros times.

“Invictus”, baseado no livro de “Playing the Enemy”, de John Carlin, tem roteiro escrito por Anthony Peckham (que também colaborou com “Sherlock Holmes”, de Guy Ritchie). Com filmagens realizadas em Johanesburgo e na Cidade do Cabo, na África do Sul, trata-se de um filme emocionante que vai mostrar o espírito de união.

Falar sobre mais um filme do diretor Clint Eastwood, que retratou em “Menina de Ouro” a superação durante o treino de boxe, ou da falta de tolerância e do preconceito do bairro americano tomado por imigrantes, em “Gran Torino”, ou até mesmo a Segunda Guerra Mundial vista por americanos e japoneses em, respectivamente, “A Conquista da Honra” e “Cartas de Iwo Jima”, é confirmar que ele, mais uma vez, acertou a mão. O consagrado diretor mostra com sua câmera de maneira eficiente tanto a catimba de um violento jogo de rúgbi como também tem sensibilidade de apresentar momentos emocionantes desta luta contra o apartheid.

Em ano de Copa do Mundo, com sede na mesma África do Sul, é um bom convite para se assistir à produção. De repente, nosso presidente Luiz Inácio Lula da Silva poderia convidar o capitão do time brasileiro para assistir a este filme e, quem sabe, ambos possam se inspirar. Pois, com humildade, de repente, chegaremos à conquista de mais um título mundial.

terça-feira, 2 de fevereiro de 2010

A FITA BRANCA


Antonio Carlos Egypto



A FITA BRANCA (Das Weisse Band). Áustria, Alemanha, 2009. Direção e Roteiro: Michael Haneke. Com Christian Friedel, Leonie Benesch, Ulrich Tukur e Ursina Lardi. 145 min.



O diretor austríaco/alemão Michael Haneke tem marcado sua obra cinematográfica pelo tratamento de temas densos, numa abordagem que mexe com os nervos dos espectadores. Desde “O Sétimo Continente”, de 1989, tem sido assim. Ali, era a insatisfação com a vida burguesa na Áustria contemporânea, cheia de comodidades e tédio, o que levava a uma ruptura radical. Depois, vieram o perturbador “O Vídeo de Benny” (1982) e, sobretudo, “Violência Gratuita” (Funny Games, 1997), um dos filmes mais fortes e tensos a que eu já assisti. O próprio diretor realizou uma refacção em inglês do mesmo filme, do mesmo modo, que foi recentemente exibida e está agora em DVD. Dispensei-a. Afinal, ninguém é de ferro!

“Violência Gratuita” tem a força de exibir uma violência que não é mostrada, mas vivida. Por meio de elipses e coisas que acontecem fora do quadro, sonorizadas, percebemos a extensão e o terror da situação. Afinal, a violência psicológica é até mais terrível do que a violência física. E quando ela não tem as tradicionais explicações ou justificações, que põem as coisas nos eixos, o terror é absoluto.

Haneke se interessa pela maldade, pela violência, pela intolerância, pela invasão da privacidade, pelos absurdos da vida e pela crueldade humana. Outros filmes dele, como “Código Desconhecido” (2000), “A Professora de Piano” (2001) e “Caché” (2005), vão na mesma linha, tendo em comum uma espécie de estranhamento e mal-estar da contemporaneidade.

“A Fita Branca” se desloca desse tempo para o período anterior à Primeira Guerra Mundial, num vilarejo protestante alemão. Aqui os códigos não são mais os da modernidade. Os princípios são rígidos. Filhos respeitam os pais. Os homens têm o poder de decisão sobre a família. A religião prescreve e pune. Um mundo bem diferente de hoje, lá os valores são claros e o que é certo ou errado fica evidente. A fita branca representa a desejada pureza. Para os saudosistas, quem sabe não seria o melhor dos mundos? Ledo engano.

O que Michael Haneke, também roteirista do filme, mostra dessa comunidade é que, por baixo dessas camadas de ordem, há uma profunda crueldade, que leva ao trágico. Acidentes estranhos e maldosos começam a acontecer no vilarejo, a partir de uma corda fina colocada no caminho de um médico, que costumava passar a cavalo pelo local, derrubando-o e produzindo ferimentos graves. No dia seguinte, a corda criminosa não estava mais lá, impedindo as investigações. Isso é só o começo de uma trama alinhada para mostrar que a maldade humana não tem tempo, nem hora, nem lugar, é onipresente. E o que é sórdido vai aparecendo por todos os lados. Lembra a literatura e o teatro de Nelson Rodrigues. O poder castrador da religião remete a Ingmar Bergman. O ambiente antigo, filmado em preto e branco, reforça que é dessa essência de crueldade que se trata, num mundo aparentemente ordeiro, controlado e harmônico. Geralmente, é na normalidade aparente que se escondem as maiores perversões, não é assim? Esse tipo de ambiente pode ser visto como o caldo de cultura de que se alimentaria o nazismo, algum tempo depois.

Haneke, com “A Fita Branca”, atesta que não é a contemporaneidade o problema, mas o próprio ser humano, desde sempre. Concordemos ou não, é por aí que ele vai. Claro está que não é um filme fácil de se ver, menos pelo que ele possa ter de explícito, que na verdade não tem, e mais pelo que ele tem de perturbador e questionador, a partir do que nos está sendo mostrado ou omitido.

A maldade e a crueldade que pontuam todo o filme não são expostas, mas antes sugeridas ou realizadas atrás de portas que se fecham, como na cena do menino e da menina que serão açoitados pelo pai. Em outro momento, o passarinho já aparece morto, com uma tesoura enfiada nele. Ou o rosto do menino com deficiência, que se vê depois do presumido ataque. Isso é típico do jeito de filmar inteligente do diretor. Elimina-se o explícito para dar vez ao suposto, sensibilizar e fazer pensar.

Ninguém está livre dessa dimensão malévola do humano, nem as crianças e os adolescentes. Não se trata de descobrir quem fez o quê. Isso é o que menos importa. A maldade está mesmo em toda parte. Pessimista? Sem saída? Pode ser. Mas que dá o que pensar, não há dúvida. Não por acaso, “A Fita Branca” foi o vencedor da Palma de Ouro do Festival de Cannes em 2009 e levou também o Globo de Ouro de filme estrangeiro.


segunda-feira, 1 de fevereiro de 2010

Nine

Tatiana Babadobulos

Direto dos palcos da Broadway, para a tela do cinema. “Nine” é o novo musical dirigido por Rob Marshall (de “Chicago”).

Antes de qualquer comentário, é necessário falar sobre o filme no qual este foi inspirado: “8 ½”, do italiano Federico Fellini, lançado em 1963. Inspiração, aliás, não é a palavra certa. Isso porque nesta história, com libreto de Arthur L. Kopit e canções de Maury Yeston, os personagens têm os mesmos nomes; trata-de de outra leitura sobre o mesmo tema: um diretor com um bloqueio criativo. Tema comum na vida desses artistas e, segundo confessou o próprio Fellini, trata-se de uma obra autobiográfica.

Na trama, é como se o autor tivesse ressuscitado o protagonista, Guido (aqui vivido por Daniel Day-Lewis, mas por Marcello Mastroiani no passado), um diretor de cinema que, após alguns filmes fracassados, resolve fazer uma nova produção, “Itália”, sem ter o roteiro pronto ou orçamento aprovado. Então, entra em pânico. E para resolver, conta com as mulheres da sua vida para lhe ajudarem na inspiração.

A partir de então, entra em cena o elenco estelar. Sua esposa, Luisa (Marion Cotillard), sente como é difícil lidar com suas traições e inseguranças. A amante, Carla (Penélope Cruz), é fogosa, está sempre pronta para recebê-lo. A amiga e figurinista Lilli (Judi Dench) costuma ajudá-lo nas confusões que ele mesmo cria. A prostituta da sua infância, Saraghina (a cantora Fergie), é um arraso no primeiro contato com o sexo, mesmo que seja um streap-tease na praia. A jornalista Stephanie (Kate Hudson) o conhece durante a primeira coletiva de imprensa e o convida para um drinque. A mãe é a própria “mamma italiana” (Sophia Loren) e o acolhe nos momentos de necessidade. Claudia (Nicole Kidman) é sua musa inspiradora que titubeia ao dizer sim para participar na produção.

A cada aparição dessas personagens, um corte é feito na trama e um número musical é apresentado. Este talvez seja um dos problemas do musical, coisa que não acontecia em “Chicago”, por exemplo. As cenas não acontecem de maneira contínua. Há algumas que começam de uma maneira e, na mesma sequência, as imagens são transportadas para o local onde acontecem as apresentações, no estúdio Cinecittà, em Roma, e ficam em preto-e-branco (outra referência ao “8 ½”?).

Ainda que os cortes sejam negativos, o espectador é presenteado com excelentes performances, que incluem interpretações musicais, danças bem coreografadas e produção digna de um espetáculo da Broadway. Neste quesito, destaque para o número de Fergie. Ela não pronuncia um diálogo sequer, mas canta muito e tem uma presença diante das câmeras arrasadora, além da dança com as cadeiras. Destaque também para as canções de Marion que, não por acaso, ganhou o Oscar por sua atuação em “Piaf – Um Hino ao Amor”, e é capaz de mostrar com muito sentimento o seu sofrimento de um amor perdido. A amante é um show de sensualidade. Ou o movimentado musical de Kate. Tudo isso para falar também na presença indispensável de Judi, que além de tudo canta como ninguém, inclusive em francês.

No papel principal, Daniel Day-Lewis se supera ao mostrar que também é capaz de cantar. Seu personagem é atormentado, vive em crise por conta dos seus relacionamentos mal-sucedidos e toma lição de moral do médico, do cardeal e, claro, da esposa, por sua falta de moralidade. Talvez pudesse ter seu comportamento explicado pelo pai da psicanálise, Sigmund Freud. Afinal, dividem o mesmo palco a mãe, a amante, a mulher, a musa, a prostituta, a amiga, a criança que foi.

“Nine”, que tem roteiro de Anthony Minghella (morto em 2008), é um musical que mistura drama e humor. A trama toda se passa na Itália, mas os personagens escolheram o idioma universal: o inglês. A pluralidade está também nas pátrias das atrizes: há italiana, francesa, americana, australiana, espanhola, inglesa. O musical, gênero incompreendido, disputou cinco prêmios no Globo de Ouro, mas não levou nenhum.

Antes de qualquer coisa, “Nine” faz uma homenagem não apenas a Federico Fellini, o mestre do cinema italiano, mas ao próprio cinema de maneira geral. E isso já vale o ingresso.