Antonio Carlos
Egypto
POESIA SEM FIM (Poesia Sin Fin). Chile, 2016.
Direção e roteiro: Alejandro Jodorowsky.
Com Adan Jodorowsky, Pamela Flores, Brontis Jodorowsky, Leandro Taub,
Jeremias Herskovits, Alejandro Jodorowsky.
128 min.
Escolher a poesia como ofício e condição de vida é um
ato de coragem. Também de destemor, de
enfrentamento do sistema, talvez revelando um irreal excesso de confiança. Coisa para se fazer aos 20 anos de idade,
enquanto se pode arriscar mais, quem sabe, tudo.
Alejandro Jodorowsky, poeta, escritor, ator e
cineasta chileno, nascido em 1929, faz hoje um filme irreverente, transgressor
e inventivo sobre essa sua escolha de vida.
Uma reflexão autobiográfica, sem dúvida.
Mas que dispensa de forma quase absoluta o realismo.
Com uma câmera ágil, irriquieta, ele constrói um
universo plástico belíssimo, que respira liberdade, sensualidade,
autenticidade. E vai desenrolando sua
narrativa de forma fantástica, metafórica, realizando um cinema que é pura
magia. Sedutor para quem se entrega, se
deixa levar.
Mais do que os fatos que, de alguma forma, também
estão lá, o que vale são as sensações, os sentimentos, a libertação. O encontro com o que se é e se deseja criar,
produzir, realizar, como sentido de vida.
Quem vê o mundo por uma forma poética, artística,
acaba percebendo que precisará contestar muito, transgredir sempre, para chegar
a se encontrar e dar sua contribuição à sociedade com aquilo que lhe é natural
e precioso. Alejandro Jodorowsky nos conta isso no filme, inovando bastante,
quebrando convenções, provocando e nos trazendo muita beleza. Ou seja, sua forma é o seu conteúdo, é a sua
história e a sua luta. Vista por um
homem de 87 anos que se mostra fiel a seus ideais de juventude, desenvolvidos
ao longo de toda essa vida.
O relacionamento pai e filho, que remonta aos anos
1940 e 1950, do relato de “Poesia Sem Fim”, é vivido por dois filhos do
diretor, Adan e Brontis Jodorowsky. E o
próprio Alejandro participa numa ponta.
Uma família que enfrenta os conflitos pelo caminho da arte e embarca ao
lado de um elenco todo dedicado à experimentação poética e visual do cineasta.
Um filme como “Poesia Sem Fim” não busca mercado, não
aspira ao sucesso, quer se expressar, se comunicar, sem amarras. O jeito é buscar apoio financeiro, não nas
instituições e mecanismos de financiamento, mas nas pessoas que possam se
envolver no projeto. Foi o que fez
Alejandro Jodorowsky. Com uma larga
trajetória que gerou muitos aficcionados, ele se valeu de um milhão de
seguidores nas redes sociais, para angariar mais de dez mil contribuições
individuais, de modo a viabilizar este novo trabalho.