Antonio
Carlos Egypto
CONSPIRAÇÃO E PODER (Truth). Estados Unidos,
2015. Direção: James Vanderbilt. Com Robert Redford, Cate Blanchett, Dennis Quaid, Thopher Grace. 120 min.
Às vésperas da eleição que reelegeu George W. Bush, a
rede de TV norte-americana CBS, por meio de sua repórter Mary Papes (Cate
Blanchett), tinha sérios indícios de irregularidades envolvendo Bush na
juventude. Foram pesquisar dados sobre a
carreira de piloto daquele que seria um dia o presidente dos Estados Unidos,
seu treinamento, sua ficha funcional e os privilégios de que teria gozado
utilizando seus contatos da época. Bush
pai, que se tornaria presidente antes dele, já era um político influente, então. O privilégio, no caso, foi não combater na
guerra do Vietnã.
Partindo de um depoimento muito claro de alguém que
compartilhou daqueles tempos no ambiente militar, as coisas se encaixavam. E as lacunas eram eloquentes.
O famoso apresentador Dan Rather (Robert Redford)
sempre confiou no faro e na integridade da sua repórter, uma jornalista com
quem ele mantinha ótimas relações profissionais e bancou a investigação,
levando-a ao ar, no programa “60 Minutes”.
Aí passamos a ver os elementos envolvidos no
jornalismo: o papel dos patrões, as pressões, os questionamentos, os interesses
contrariados, a batalha para esconder informações, o peso dos anunciantes, o
medo de enfrentar o poder e sair chamuscado, o papel da audiência nas decisões. Ou seja, tudo o que pode envolver uma
informação jornalística e interferir nos seus caminhos e resultados. Algo menos heróico e bem mais realista do que
filmes que celebram a maravilha do jornalismo investigativo costumam mostrar.
A verdade é o que queremos acreditar que seja ou
aquilo em que nos interessa crer no momento. São muitas as versões e elas
sempre levam vantagem sobre os chamados fatos.
Até porque os próprios fatos são percebidos pelo filtro desses mesmos
interesses pessoais, grupais ou coletivos.
A mídia tem um forte papel no sentido de gerar
narrativas, mais ou menos interessantes, ou criativas. Capazes de convencer, ou não, a
audiência. Em compensação, qualquer
senão pode pôr uma investigação séria a perder.
É de questões como essas que trata o filme “Conspiração
e Poder”. Muito bem realizado, com um
elenco de peso, a começar por Robert Redford e Cate Blanchett, o filme é um
convite à reflexão, a partir das informações que nos passa e da forma direta
como nos conta a história. Em que pese o
fato de que não tenhamos familiaridade suficiente com o contexto
norte-americano, para entender detalhes do funcionamento institucional por lá e
dos mecanismos de decisão da guerra, que então dominava a cena, a do
Vietnã. Contudo, fica evidente que a
imagem do candidato favorito às eleições presidenciais estaria seriamente
abalada com as revelações. Ainda mais,
considerando-se que seu oponente ostentava glórias de guerra.
Sabemos hoje o resultado daquelas eleições, e que a
reeleição de George W. Bush aconteceu. A
investigação jornalística não alterou a realidade eleitoral que se
prenunciava. O filme “Conspiração e
Poder” mostra como e por que isso se deu.
Vale conhecer essa história para entender melhor os meandros do
jornalismo e da política e as profundas relações que mantêm entre si.