DOGMAN (Dogman). Itália, 2018.
Direção: Matteo Garrone. Com
Marcello Fonte, Edoardo Pesce, Nunzia Schiano, Adamo Dionisi, Francesco
Acquaroli. 102 min.
“Dogman”, o novo filme de Matteo Garrone (de
“Gomorra”, 2008), não é fácil de se ver.
É tenso, sofrido, violento, passa-se numa ambientação feia, suja. As escolhas estéticas não visam a produzir
belezas, embora haja belas tomadas cinematográficas. A intenção é nos colocar numa vida dos
infernos, em que predominam a opressão e a impotência.
Como o filme é contado do ponto de vista de
Marcelo (Marcello Fonte), o Dogman do
título, e ele é o homem pequeno e gentil que é oprimido, o que vivemos junto
com ele é a impotência. E por mais
pacíficos que sejamos, torcemos pela vingança.
Nas condições apresentadas, aparentemente não há outro caminho
possível. O que é complicado e, até
certo ponto, assustador. Quem quer que
se coloque a favor da justiça pelas próprias mãos está rejeitando o caminho da
democracia e da lei. Convalidando a
barbárie, portanto.
Em “Dogman”, estamos na periferia suspensa
entre a metrópole e o deserto, em que a lei do mais forte predomina. Marcelo tem uma oficina de higiene e beleza
para cães e está em contato harmônico com sua comunidade pobre e sem
perspectivas naquele beco do mundo. A
opressão que ele sofre se expressa por meio do personagem Simoncino (Edoardo
Pesce), um brutamontes, ex-boxeador, que aterroriza todo o bairro, mas coloca
Marcelo nas piores situações à base da intimidação e da força. Marcelo está acomodado nessa situação
absurda, a ponto de até proteger ou cuidar dos ferimentos de seu algoz. Mas tudo só se agrava, a explosão da
bestialidade humana acontece. E,
consequentemente, a vingança inspirada nos cães presos nas gaiolas.
Em um contexto em que a simples sobrevivência
envolve riscos tão altos e escolhas muito complicadas de se fazer, realmente o
que fica é a sensação de impotência. Quando tal sentimento prevalece, é fácil
aprovar o caminho da violência como solução, quando, na verdade, ela é sempre
um problema a mais.
O diretor Matteo Garrone tem firmeza e
intensidade nesse trabalho, que conta com um ator excepcional, como Marcello
Fonte, merecidamente premiado em festivais.
Seu desempenho nos faz ficar em suspenso durante toda a projeção,
atentos aos menores movimentos e expressões do personagem, sofrendo com ele e
torcendo por ele.
“Dogman” exige muito do espectador, mas tem
muito a dar, também. Encarar uma
realidade tão dura, insuportável, nos obriga a refletir sobre ela e a ter um
posicionamento consistente diante do que a vida pode nos apresentar, gostemos
disso ou não.
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