Antonio
Carlos Egypto
O
GRANDE HOTEL BUDAPESTE (The Grand
Budapest Hotel). Estados
Unidos, 2013. Direção e roteiro: Wes
Anderson. Com Ralph Fiennes, Tony Revolori, F. Murray
Abraham, Saroise Ronan, Jude Law, Tilda Swinton. 100 min.
O mundo é um lugar estranho, cheio de figuras
bizarras que compõem a fauna humana. E
recheado de histórias esquisitas, surpreendentes e, por isso mesmo,
engraçadas. Sempre foi assim. Olhando para o passado com espírito crítico,
e não apenas nostálgico, e fazendo uso da ironia, podemos entrar no curioso e
original universo do cineasta norte-americano Wes Anderson, um dos mais
criativos realizadores da atualidade.
“O Grande Hotel Budapeste” é um exemplo bem acabado
do talento desse diretor. É uma aventura
cômica sobre uma Europa em mudança vertiginosa, no período entre as guerras
mundiais, povoada por personagens que circulavam num daqueles grandes e
suntuosos hotéis do passado, em que a hospitalidade e o requinte se destacavam.
O protagonista é Gustave H. (Ralph Fiennes), concierge do hotel, uma figura
multifacetada, marcada pela gentileza, refinamento e generosidade. Ao mesmo tempo, é uma pessoa insegura,
carente, meticulosa. De uma época
romântica em que a amizade, a honra e o
cumprimento de promessas são valores a serem cultivados.
Quem também protagoniza essa história é Zero Moustafa
(Tony Revolori, quando jovem, F. Murray Abraham, quando velho), mensageiro de
confiança de Gustave H., que se torna seu amigo e acaba proprietário do hotel,
agora já decadente.
Permeando essa relação, há uma história de amor e
envolvimento sexual de Gustave H. com mulheres idosas, na casa dos 80 anos de
idade, frequentadoras do hotel. Uma delas lhe deixa de herança um quadro
renascentista valiosíssimo, “O Menino e a Maçã”, motivo de grandes confusões e
perseguições com a família de Madame D.: Tilda Swinton, incrivelmente
envelhecida.
Por aí vai essa deliciosa narrativa, que explora
muita coisa: do crime à gastronomia, passando pela política e pelas relações
humanas. Tudo centrado no Grande Hotel
que envolve todos os seus estranhos personagens, num país alpino imaginário,
Zubrowska. Os cenários do sofisticado
hotel foram desenvolvidos num local que na verdade é uma grande loja, situada
num ponto de intersecção da Alemanha, da Polônia e da República Tcheca, locação
de rara beleza.
Os figurinos, excepcionais, ajudam a criar os
personagens e até nos fazem esquecer dos grandes atores e atrizes convocados para
atuar no filme. Mas é um elenco
impressionante, que inclui, além dos já citados, Mathieu Amalric, Adrien Brody,
Edward Norton, Harvey Keitel, Jeff Goldblum, Jude Law, Bill Murray, William
Dafoe, Léa Seydoux, Saroise Ronan, Tom Wilkinson, Jason Schwartzman e Owen
Wilson.
Wes Anderson tem um humor muito característico, que
se vale dessa reconstrução não para nos levar ao realismo, mas para acentuar o
inusitado do contexto, da situação histórica e dos personagens bizarros. A leveza do seu toque nos faz rir, ao mesmo
tempo em que lida com temas e situações que nos levam à reflexão e a grandes
emoções. Movimentos de câmera rápidos
enfatizam o ambiente, as reações, nos dão uma visão do todo, ampliando a
percepção, e criam belas sequências de ação.
“O Grande Hotel Budapeste” é um filme de exceção, não
só em relação à produção norte-americana atual, mas pelo estilo e originalidade
raramente encontrados nos filmes que têm desaguado no mercado exibidor. Em especial, quando se trata do gênero
comédia, tão sujeito a apelações e grosserias, absolutamente ausentes do cinema
inteligente de Wes Anderson