Antonio
Carlos Egypto
BIRDMAN
ou A Inesperada Virtude da Ignorância (Birdman
or The Unexpected Virtue of Ignorance).
Estados Unidos, 2014.
Direção, roteiro e produção: Alejandro Gonzáles Iñarritu. Com Michael Keaton, Zach Galifianakis, Edward
Norton, Emma Stone, Amy Ryan, Naomi Watts.
119 min.
Um ator, Riggan Thomson (Michael Keaton), se torna
famoso, celebridade, por ter encarnado um super-herói – o Birdman – em três
filmes. Mas, na hora de fazer o Birdman
4, sente que o personagem está esgotado e não aguenta mais repeti-lo. A busca pela arte versus mero entretenimento
sempre se coloca para os que fazem da arte de representar um trabalho sério.
Daí para partir para uma montagem teatral cabeça ou do gênero que lida com
sentimentos humanos e reflexão, o caminho parece natural. Musical da Broadway cheio de tecnologia não
serviria, seria mais do mesmo estilo superespetáculo. Mas como lidar com o que ficou para trás, com
as expectativas não correspondidas, com a crítica especializada, com colegas de
profissão complicados e com a reação do público? Definitivamente, não é fácil. Sair de um personagem de sucesso é muito mais
complicado do que entrar nele.
Essa questão, que é central no filme do diretor
mexicano Alejandro Gonzáles Iñarritu, de “Babel”, em 2006, e “21 Gramas”, de
2003, mexe com toda a indústria do entretenimento de Hollywood. Realidade e fantasia entram na história o
tempo todo, criando um produto curioso e atraente. Reflexivo, claro. Mas muito louco, também.
“Birdman” até tem algumas cenas de ação e efeitos
especiais, mas o ator-personagem é um anti-herói confuso e insatisfeito, em
busca de algo mais denso para sua vida artística. O filme é mais para quem já se encheu dessa onda
de super-heróis e personagens de quadrinhos no cinema. Ou para quem se interessa pelos bastidores da
criação artística e da indústria do entretenimento.
O importante é que o filme decola, envolve, critica
e, ao mesmo tempo, diverte. Tem um ótimo
elenco, em que Michael Keaton se destaca como protagonista, mas ressalte-se o
papel de Edward Norton, como Mike Shiner, um ator irresponsável e
desequilibrado, mas que testa seus limites e os dos outros em cena, numa
entrega total. Emma Stone faz Lesley, a
filha que emerge das sombras da celebridade do pai e consegue ver o jogo em que
está envolvida. Zach Galifianakis faz
Brandon, o produtor teatral que precisa arbitrar conflitos para manter a peça
em cartaz e promovê-la. E toda uma gama
de personagens compõe o mundo do espetáculo.
Forte e criativo trabalho de Iñarritu em tom de
comédia e recheado de fantasia. É, ao
lado do excelente “O Grande Hotel Budapeste”, de Wes Anderson, quem recebeu
mais indicações para o Oscar 2015. Ambos
apontados em nove categorias.