Antonio Carlos Egypto
AZNAVOUR POR CHARLES (Le Regard de Charles). França, 2019.
Direção de Marc di Domenico.
Documentário. Voz de Romain
Duris. 83 min.
Entre suas canções famosas, basta
lembrar algumas que todo mundo conhece (mesmo que não identifique pelo nome):
La Bohème, She (Tous Les Visagens de l’Amour), For Me Formidable, Que C’Est
Triste Venise, Hier Encore, Il Faut Savoir, The Old Fashioned Way (Les Plaisirs
Démodés) estão entre as mais de mil músicas gravadas por ele, ao longo de 80
anos de uma brilhante carreira.
Trabalhou como ator de cinema, com
diretores importantes, como François Truffaut, em “Atirem no Pianista” (1960),
com Claude Chabrol, em “Vidas em Jogo” (1976) e em “Os Fantasmas do Chapeleiro”
(1982), com Jean Cocteau, em “O Testamento de Orfeu” (1959), com Claude
Lelouch, em “Viva La Vie!” (1984), com Volker Schlöndorff, em “O Tambor” (1979)
e com Atom Egoyan, de origem armênia como ele, em “Ararat” (2002). Foram mais de 60 filmes, que nele tudo foi
vasto e grandioso.
O que podemos ver agora em “Aznavour
Por Charles” é uma nova faceta do talento dele: as imagens que ele filmou ao
longo da vida. É dessa matéria prima que
se nutre o documentário construído e editado por Marc di Domenico.
Em 1948, a maior cantora francesa de
todos os tempos, Edith Piaf (1915-1963), deu a Charles Aznavour um presente que
o encantou, uma câmera. Ele começou a
filmar e nunca mais parou. Registrava o
que via e lhe chamava a atenção nas viagens que fazia por todos os cantos. Interessado nas pessoas, nos costumes, nos
lugares e no que o envolvia profissionalmente.
Filmava também suas mulheres, claro.
Por vezes, até “dirigia” as filmagens que suas mulheres faziam
dele. Mas não buscava “selfies”,
registrava o que via e lhe interessava no outro, como uma forma de se aproximar
do que não conhecia.
Guardava esses rolos todos que
acumulou ao longo do tempo junto com registros que outros faziam de suas
apresentações na carreira musical e nos filmes de que participava. Para tal, tinha um cômodo especial e secreto
só para guardar tudo isso.
Percebendo que o final da vida estava
próximo, já com mais de 90 anos, abriu seu tesouro ao cineasta Marc di
Domenico, para que fizesse o “seu” filme, confiando em que ele saberia como utilizar
todo aquele material para que não se perdesse para sempre.
Conhecemos, então, um pouco da vida e
das imagens que Aznavour escolheu filmar, ao lado das imagens dele próprio,
embaladas por sua música. O acervo
também continha cadernos de anotações e reflexões com muitos textos escritos
por Aznavour, que foram a base da narração do filme, que conta a história do
artista e de suas imagens filmadas pela voz do ator Romain Duris. Fascinante.
O diário filmado de Aznavour se torna,
assim, mais um legado da grande obra que marcou sua vida artística. Imagens da câmera original de Piaf, que ele
nunca abandonou, de Super 8, 16 mm, compõem esse painel do trabalho de
“cineasta” de Charles Aznavour. E revela
uma sensibilidade e uma curiosidade humanas contundentes, em sua simplicidade.