Antonio Carlos Egypto
SEUS OSSOS, SEUS OLHOS. Brasil, 2019. Direção e roteiro: Caetano Gotardo. Elenco: Caetano Gotardo, Malu Galli, Vinícius Meloni, Carlos Escher, Carlota Joaquina. 119 min.
“Seus
Ossos, Seus Olhos”, novo trabalho cinematográfico de Caetano Gotardo, é um
filme que trata de intimidade, de encontros humanos, afetivos e sexuais, e de
suas dificuldades. Sempre partindo do
corpo e de seu conforto ou desconforto nos relacionamentos. E também de sua expressão e de seus
movimentos, incluindo a dança.
O
personagem central da história é um cineasta, vivido pelo próprio Caetano
Gotardo, que se desloca pela cidade, encontra amigos e amigas, relaciona-se com
seu namorado, mas está aberto a outros contatos homoeróticos. Suas andanças
revelam o quanto as situações estão indefinidas. Há encontros que trazem prazer, exploram o
desejo, outros que trazem dificuldade de comunicação, desconforto, instabilidade.
Uma
das primeiras sequências do filme mostra o protagonista procurando uma posição
para ficar cômodo no sofá ou no chão, enquanto sua amiga vai pegar uma cerveja,
e não encontra posição. Mesmo diante de
uma antiga amiga, um momento pode tornar-se desconfortável ou algo estranho.
Do mesmo
modo, em outra sequência, no metrô, o acaso leva a um encontro bem-sucedido e
honesto. Algo inesperado sempre pode
acontecer, as situações são instáveis, envolvem percepções subjetivas que atuam
nas relações, consciente ou inconscientemente.
A par
de tudo isso, a poesia, um texto reflexivo, uma palavra, podem ressignificar as
coisas, dar sentido a elas.
Curiosamente, o que vale para uma situação pode se adaptar perfeitamente
a outra. Palavras podem valer para um
momento específico, mas também para outro, em diferentes tempos e com
diferentes pessoas. Como se o texto
produzisse a relação, simbolicamente. O
deslocamento entre som e imagem e sua relação com a memória são parte importante
desse experimento existencial e fílmico.
O
fluir da narrativa nos remete, com sensibilidade, aos encontros, tanto
deliberados quanto fortuitos, que emergem da vida cotidiana, quando se está
disposto a experimentá-los. Essa mesma
abertura é pedida ao espectador. Os
tempos mortos, os tempos de espera, a poesia ou o movimento que preenchem essa
espera, estão nos dizendo coisas o tempo todo, aparentando não dizer quase
nada. Elementos aparentemente soltos ou
fortuitos compõem um quadro da intimidade humana, do mergulho no ser e na
alteridade.
Um
filme para se deixar levar, observar e pensar nas coisas e na vida. Sem pressa, com calma, fruindo cada
momento. Pode ser uma ótima experiência,
mas também pode incomodar quem tem dificuldade para pôr sua ansiedade sob
controle. Ou para quem busca respostas,
explicações sobre as coisas. Aqui
estamos no terreno fluido dos sentimentos, sensações, emoções, não da
racionalidade e objetividade, mas da subjetividade. É isso.