O TRADUTOR (Un Traductor). Cuba/Canadá,
2018. Direção: Rodrigo Barriuso e
Sebastián Barriuso. Com Rodrigo Santoro,
Maricel Álvarez, Yoandra Suárez, Nikita Semenov. 107 min.
“O Tradutor” é um filme cubano-canadense
estrelado pelo ator brasileiro Rodrigo Santoro, atuando em duas línguas: o
espanhol e o russo. A história é contada
a partir de eventos verdadeiros, vividos pelo pai e também pela mãe dos
diretores, Rodrigo e Sebastián Barriuso, ambos cubanos, morando no Canadá.
O ano é 1989, coincide com a queda do Muro de
Berlim, que modificaria muita coisa na vida de Cuba, com o colapso da União
Soviética. Mas Cuba, nesse momento, e
pelo que se pode inferir desde 1986, estava recebendo em seus hospitais vítimas
de radiação do pavoroso acidente nuclear de Chernobyl, ao norte da Ucrânia,
próximo à fronteira com a Bielorrússia.
Malin (Rodrigo Santoro), professor de
literatura russa na Universidade de Havana, vê seu curso e suas aulas serem
suspensos e é designado para atuar como tradutor junto a pacientes soviéticos
internados em Cuba. O que lhe cabe é a
dolorosa tarefa de trabalhar como intérprete, numa sessão que atende crianças
contaminadas, com leucemia, e os familiares que as acompanham.
Será algo capaz de mudar a vida do professor
universitário e fazê-lo descobrir meios de interação com essas figuras
inocentes atingidas cruelmente pela tragédia.
E, ao mesmo tempo, capaz de implodir seu casamento e sua relação com os
próprios filhos, crianças que também tinham suas carências e a quem faltou a
presença paterna. São os diretores do
filme “O Tradutor”, elaborando o passado que viveram.
É uma história tocante, que trata de afetos e
solidariedade, frente às mais terríveis vicissitudes da vida, como foi esse
caso. O filme não deixa de mostrar os
contextos econômicos e políticos envolvidos, mas sem se deter neles. O desafio pessoal do protagonista nessa
circunstância falava mais alto do que tudo.
A estrutura da narrativa é clássica.
A paleta de cores revela, pelo esmaecimento e frieza, a tristeza que
toma conta da história. O tom dramático
do filme não pende ao exagero. Muito se
passa dentro do personagem principal e da angústia que ele é obrigado a viver,
na situação que lhe é imposta, mas que acaba por lhe trazer um grande desafio
que ele se tornará capaz de encarar.
Rodrigo Santoro sustenta muito bem o seu personagem, tanto em espanhol
quanto em russo. Não é para qualquer um.