Antonio Carlos Egypto
Quem tem o hábito de escolher filmes para assistir em DVD precisa se informar sobre o que vale a pena alugar ou mesmo comprar e ter em casa para ver e rever. E isso depende, é claro, dos interesses e preferências de cada um. No entanto, sem informações adequadas, não dá para fazer uma boa escolha. Isso é menos importante quando se refere aos clássicos do cinema, os filmes representativos de sua história ou filmes antigos que a gente já conhece por ter ido ao cinema, lido ou estudado sobre eles ou conversado com outras pessoas. Enfim, o próprio tempo conta para que certas informações nos alcancem.
Já quanto aos filmes recentes, isso é um pouco mais complicado para quem não tem o hábito de acompanhar os lançamentos semanais nos cinemas, ler sinopses e críticas em jornais, revistas, Internet ou por meio do rádio e da TV. Por isso, é muito bem-vindo o livro “Os melhores filmes novos – 290 filmes comentados e analisados”, de Luciano Ramos, lançado recentemente pela Editora Contexto.
Luciano Ramos é um crítico de cinema com larga experiência e trabalhos relevantes na área. Fomos colegas dos tempos de universidade no curso de Ciências Sociais da USP, nos anos de chumbo da ditadura militar: final dos anos 1960 e início dos anos 1970. Eu me encaminhei para as áreas de Educação e Psicologia, embora o cinema tenha sido uma paixão permanente. Mas, no caso do Luciano, o cinema foi o seu “métier” profissional desde sempre.
Aprendi muito com ele, acompanhando seu trabalho crítico em veículos como o “Guia de Filmes da Abril Cultural”, nas décadas de 1980 e 1990, onde ele didaticamente estabelecia os critérios para avaliar filmes e atribuir estrelas, e estruturava os verbetes com as informações essenciais que precisam constar quando se cita ou indica um filme. Destaco o seu trabalho inovador no vibrante Jornal da Tarde dos primeiros tempos. E sua atuação como programador de filmes das TVs Bandeirantes e Cultura, nesta última com análises e debates muito proveitosos para quem gosta de bom cinema.
Quem sempre viu muitos filmes, exercendo a análise continuada deles, só pode ser um bom guia na hora de escolher o que se deseja assistir. Nesta obra, para selecionar os melhores filmes, Luciano Ramos analisou cinco aspectos: argumento, roteiro, elenco, produção e direção. E agrupou os filmes em ordem alfabética, dentro de capítulos que correspondem às principais categorias: aventura, brasileiros, comédia, documentário, drama, fantasia, história e infantil. E quem comprar o livro terá como bônus quatro atualizações “on line” que analisam e avaliam os filmes lançados a partir de 2009. Com isso, o livro permanecerá atual por pelo menos mais dois anos, já que essas atualizações serão feitas semestralmente.
A escolha dos 290 títulos, entre os melhores e mais representativos lançados entre 2005 e 2008, foi obtida a partir dos 1879 filmes lançados no Brasil nesse período. Certamente, Luciano, se não conseguiu ver todos, se informou sobre todos eles. E fez uso dos seus critérios objetivos, além da sua subjetividade. Mas seu gosto pessoal envolve muita sensibilidade, aguçada pelos anos de dedicação ao ofício, e leva em conta o espectador médio, não é um trabalho para ser apreciado apenas por especialistas. É um guia, um orientador, para que a escolha cinematográfica possa ser a melhor e mais adequada aos objetivos que cada qual tem, quando decide ver um filme, seja no cinema, seja em casa.
Como ele destaca o que cada filme tem de melhor, fica mais fácil escolher o que mais se adequa ao que cada um busca, pelo menos naquele momento em que se dá a escolha do que assistir.
Há, ainda, no livro uma lista mais enxuta – a dos 100 melhores, ou seja, os imperdíveis do período. Um tiro ainda mais certeiro para quem quer se atualizar com o que passou recentemente e merece ser conhecido. A maior parte dessa lista não deverá despertar grandes discordâncias. Pode-se lembrar de algum filme que não figurou aí e talvez mereça. O mais provável, porém, é que a gente encontre alguns filmes que nos pareçam supervalorizados, ao vê-los na lista.
Certamente, alguns dos filmes citados não me entusiasmaram, eu os consideraria perfeitamente dispensáveis. Não são muitos, mas há. Isso remete ao gosto pessoal, a diferentes critérios de avaliação ou a outros fatores imponderáveis, até mesmo inconscientes.
O exercício da crítica e, sobretudo, o amor pelo cinema alimentam alegres discordâncias e paixões duradouras, nesta seara onde Luciano Ramos se movimenta com tanta desenvoltura.