Antonio Carlos Egypto
O cinema que visa ao entretenimento e ao sucesso
comercial costuma cultivar o chamado cinema-espetáculo. Filmes que exploram os recursos tecnológicos,
os efeitos especiais, em narrativas grandiosas, focadas principalmente na ação,
nos heróis, com uma dimensão fantástica.
É um cinema de grandes custos, grandes orçamentos, o que torna
imprescindível alcançar altíssimo faturamento, para que se possam compensar os
esforços de suas realizações. São os
tais blockbusters. Alguns alcançam sucesso retumbante, faturam muito
dinheiro. Outros, fracassam
redondamente. Alguns conseguem ser mesmo espetaculares. Mas isso é muito raro. Mais comum é
classificá-los como espetaculosos. Ou
seja, fazem de tudo para criar o grande espetáculo, mas costumam derrapar no
próprio excesso e pretensão.
Três produtos indicados ao Oscar de melhor filme em
2023 penso que possam ser entendidos mais como espetaculosos do que qualquer
outra coisa.
A começar por BABILÔNIA, de Damien Chazelle
(que dirigiu também “La La Land”, em 2016).
Ele focaliza momentos importantes da história do cinema, do mudo (ou
silencioso) ao falado, mostra os estúdios, as grandes produções, os astros e
estrelas, a grana que ergue e destrói coisas belas, como diria o Caetano. Com seu elenco de peso, que inclui Brad Pitt,
Tobey Maguire, Margot Robbie, Diego Calva e muitos outros, em prolongadíssimos
189 minutos de projeção, é a própria exibição do exagero, em qualquer sentido
que se tome. É tudo histriônico,
espalhafatoso, grandiloquente. As
filmagens do cinema mudo carregadas de gritarias, correrias, canto e dança em
profusão, sem falar em elefante e
escatologia, tudo em excesso. Tanto que,
quando chega o cinema falado, o silêncio para gravar é o maior tormento. Mas num instante o excesso e o escândalo se
recompõem. É dificílimo encontrar uma
única sequência que não seja assim.
Claro, é cansativo, desgastante, embora atraente. Se fosse mais sutil e muito mais curto, o
filme poderia funcionar. Como está,
francamente, é só espetaculoso.
AVATAR:
O CAMINHO DA ÁGUA, de James Cameron
(diretor de “Titanic”, 1997), retoma os estranhos, alongados e azulados
personagens do povo da floresta e os une ao povo do mar, com mensagens de que a
água é tudo, está dentro e fora de nós, na nossa origem e no nosso
destino. Enfim, valoriza o papel da água
na vida de todos. Até aí, tudo bem e muito apropriado. Mas será preciso retomar a ideia de guerra
para salvar Pandora contra os humanos destruidores e o que o filme acaba
fazendo é produzir uma violência na água, dentro dela, no fundo do mar, e que
chega a tal ponto que o mar é tomado pelas chamas, se transforma em chamas. A elegia da água termina em guerra. Termina, não, se torna uma guerra
interminável. O filme é ainda mais longo
do que “Babilônia”: 192 minutos.
No elenco, Sam Worthington, Zoë Saldaña, Sigourney
Weaver, Kate Winslet, Stephen Lang.
Muita criatividade visual, alta tecnologia e o resultado: espetaculoso,
nada mais. No entanto, o sucesso
comercial já foi garantido pelas bilheterias mundiais.
TOP
GUN: MAVERICK alcança um resultado
melhor no quesito espetáculo. Pelo menos, para quem gosta de aviões. Afinal, eles são a verdadeira atração do
filme. Suas exibições, peripécias, experimentações,
combates, batalhas aéreas são muito bem feitas e agradam a muita gente. Não importa que a história seja sempre a
mesma, com decepções, conflitos, substrato romântico, que todo mundo sempre
soube que vai acabar bem. O que vale é a
aventura a bordo dos aviões, sua ostentação e suas tresloucadas manobras e
combates. O filme é dirigido por Joseph Kosinski. Tem o astro Tom Cruise, além
de Miles Teller, Val Kilmer, Jennifer Connely, Glen Powel, no elenco. É mais um filme longo, mas nem tanto: 131
minutos de duração, que passam sem sacrifícios.
Por que esses três filmes estão indicados entre os 10 melhores, segundo os
critérios da Academia de Hollywood? São
produtos comerciais espetaculosos, não espetaculares. Essa busca pelo grande espetáculo é sempre
ingrata e absolutamente imprevisível. Se
um desses filmes vencer a categoria principal de melhor filme será uma grande
surpresa e uma decepção. Nem só de
espetáculo pode viver o cinema. Fica
tudo tão repetitivo e previsível que ninguém aguenta mais. Pelo menos, os mais velhos, acho que não,
mesmo.
E para que produzir filmes de tão longa duração, sem
a menor necessidade disso? É muito tempo
perdido para tão pouco resultado. O espalhafatoso estéril. Não é nos pequenos
frascos que estão os melhores perfumes?