Antonio Carlos Egypto
ENTRE O AMOR E A PAIXÃO (Take This Waltz). Canadá,
2011. Direção e roteiro: Sarah
Polley. Com Michelle Williams, Seth Rogen, Luke Kirly,
Sarah Silverman. 116 min.
A atriz canadense Sarah Polley, de filmes como “O
Doce Amanhã”, de Atom Egoyan, de 1997, ou “eXistenZ”, de David Cronemberg, de
1999, vem se revelando uma diretora de cinema sensível para a discussão de
questões ligadas ao relacionamento humano no terreno amoroso.
Seu primeiro trabalho como cineasta em longas foi
“Longe Dela”, de 2006, em que um casal de idosos, apaixonado por toda a vida,
tem de enfrentar a dura realidade da doença de Alzheimer, que acomete a mulher,
papel de Julie Christie no filme. Quem
não conhece, vale ver em DVD. É um
trabalho de grande sensibilidade e humanismo, que não se envergonha de ser
romântico. Mas, em momento nenhum, se
afasta do realismo, muito apropriado à abordagem desse tema sofrido.
“Entre o Amor e a Paixão” olha para a questão amorosa
em outra faixa de idade: a dos 30 anos.
O foco da narrativa está em Margot (Michelle Williams), bem casada com
Lou (Seth Rogen), ótima pessoa, dedicado escritor de livros culinários, que
testa suas receitas de frango diariamente em casa.
Numa viagem, e sem estar em busca de nada, Margot
conhece casualmente Daniel (Luke Kirly) e rola uma química inesperada entre
eles. Tudo ficaria numa paquera
passageira de viagem, não fosse que Daniel acabou de se mudar para a casa em
frente à de Margot e Lou. Assim, fica
impossível não vê-lo, não se lembrar dele, ignorá-lo. Ou mesmo impedir que Lou conheça Daniel e
comece a conviver com ele. E aí como é
que fica?
A questão do desejo, ou da paixão, ou de duas formas
de manifestação amorosa que não se excluem, vai povoar o mundo interno de
Margot. A ambiguidade será a tônica do
filme. Como a mostrar que na vida
amorosa tudo pode acontecer e lidar com o que pintar pode envolver uma grande
dificuldade, uma divisão interna, a tortura da decisão. E que decisão seria a mais importante?
“Entre o Amor e a Paixão” é menos forte e brilhante
do que “Longe Dela” e, como este, segue uma narrativa clássica. É um bom filme, que merece ser visto. Seu público alvo é o feminino,
claramente. Mas, para os homens, o
interesse estará em entender melhor as ambiguidades femininas, por meio do
olhar da jovem Margot. Bem, e afinal,
apesar das negativas peremptórias, há homens dispostos a discutir a relação, como é o caso do personagem Lou. E há homens sensíveis e especialmente
afetivos. Ou não?
O filme foi exibido na 36ª. Mostra Internacional de
Cinema de São Paulo e entra agora em circuito comercial.