sábado, 26 de julho de 2008

VIAGEM AO CENTRO DA TERRA

Antonio Carlos Egypto

VIAGEM AO CENTRO DA TERRA (Journey of the center of the Earth), EUA, 2008. Direção: Eric Brevig. Com: Brendan Fraser, Josh Hutcherson e Anita Briem. 92 min.


São adoráveis as histórias de ficção científica que o romancista francês Júlio Verne (1828-1905) legou ao mundo. A popularidade delas permanece intacta, tendo atravessado todo o século XX, e continua gerando produções cinematográficas como esta recente versão para Viagem ao Centro da Terra, texto de 1864. E ela vem com todo o charme da exibição em Terceira Dimensão, com direito a óculos especiais, que agora já não dão dor de cabeça, como acontecia no passado.

O resultado é um espetáculo fascinante, em matéria de tecnologia. Os objetos são arremessados direto aos nossos olhos, figuras parecem invadir as nossas percepções, irremediavelmente, e os efeitos especiais ganham força e dramaticidade, com a tecnologia 3D. Diversão pura, que encanta e entusiasma.

Já quanto ao filme, a aventura em si, nada de novo. Apenas o de sempre. Muito efeito, mas tudo sempre igual, com direito até a uma simulação de montanha russa de parque de Orlando. Não faltam as manjadas perseguições de dinossauros, que já cansaram até as crianças menores, e que estão totalmente deslocados na história. As quedas profundas em relação ao centro da Terra e as cenas com água, que são específicas desta aventura, funcionam bem e de modo geral o filme mantém o suspense e a expectativa, apesar das obviedades. E apesar, também, de um elenco fraco, capitaneado por Brendan Fraser, um herói nada convincente, sem a empolgação que seria necessária para quem vivesse tamanha aventura.

O filme está sendo exibido também em cópia normal nos cinemas. Aí não há nenhuma razão para vê-lo. Em 3ª. dimensão, sim, a coisa rola legal, apesar do preço ainda mais salgado do que o das sessões comuns de cinema de shopping. Ou seja, caro pra burro.

sexta-feira, 18 de julho de 2008

Anima Mundi

Tatiana Babadobulos
Terceiro maior evento de animação do mundo, o Anima Mundi exibirá este ano 441 filmes de 42 países, sendo 74 do Brasil. Criado em 1993 por Aída Queiroz, Cesar Coelho, Lea Zagury e Marcos Magalhães, o festival foi um dos principais responsáveis pelo desenvolvimento do mercado de animação nacional.
Em São Paulo, o evento acontece de 23 a 27 de julho, no Memorial da América Latina. Ao todo, serão quatro mostras competitivas (longas-metragens, curtas, Infantil e Portfólio) e quatro informativas (Animação em Curso, Futuro Animador, e as Panoramas, de curta e longa). Além das premiações dos júris oficial e popular e do Prêmio Aquisição do Canal Brasil, o evento também vai ter os seus tradicionais concursos em outras mídias: o Anima Mundi Web, com animações feitas para a Internet, e o Anima Mundi Celular, competição de filmes para celulares que este ano ganha um prêmio exclusivo da Oi para animações brasileiras.
Na mostra competitiva de curtas-metragens está, por exemplo, o veterano norte-americano Bill Plympton com “Hot Dog”, o terceiro episódio da série canina, que desta vez entra para o Corpo de Bombeiros. Para o curta, ele usou lápis sobre papel e conta uma história em seis minutos com muita irreverência.
Há também o japonês Kunio Kato, vencedor de Annecy, com o curta “La Maison em Petits Cubes”, que fala sobre memórias da vida em família. O francês Benjamin Renner realizou “La Queue de la Souris”, uma história hilária sobre um rato que faz um acordo com o leão para ele não comê-lo. “Dji Vou Véu Volti”, do belga Benoit Feroumont, é um conto de fadas 3-D que satiriza Romeu, Julieta e uma legenda que vira personagem. A canção, porém, repetida à exaustão, cansa o espectador. Da República Tcheca, Pavel Koutsky critica as pessoas que vivem a serviço da beleza, e vivem fazendo plásticas, no curta “Plastic People”, que usa lápis sobre papel.
Entre os brasileiros, “Ícarus”, de Victor-Hugo Borges, utiliza bonecos e computador 3-D, conta a história de um garoto que vive em uma cidade grande e se sente só. A fita tem narração de Gianfrancesco Guarnieri. “O Despejo – Ou Memórias de Gabiru”, de Sergio Glenes, é feito com lápis sobre papel e computador 2-D e retrata um dos problemas brasileiros, já que mostra uma favela e pobreza. Leonardo Cadaval desenvolveu “Pajerama” utilizando 3-D e conta uma história sobre o índio na cidade grande, mostrando o contrataste entre a floresta e as metrópoles. Para finalizar, o infantil “Seu Lobo”, de Humberto Avelar, que utiliza lápis sobre papel e composição digital. A música, repetida sem cessar, cansa, e deixa o espectador com aquela canção pronunciada por crianças ecoando por um bom tempo na memória.
À primeira vista, os brasileiros estão bem em técnica, me parece que dominam a ferramenta, mas ainda falta a esses diretores brasileiros, mais criatividade no momento de contar histórias. No entanto, já é um bom começo para que daqui pra frente nossos talentos desenvolvam outras histórias com mais entusiamo.
Memorial da América Latina
Av. Mauro Soares de Moura Andrade, 664 - Barra Funda
Informações: 3823-4600
Ingressos custam de R$ 3 (vídeo) a R$ 6 (cinema). As sessões Futuro Animador são gratuitas.

terça-feira, 1 de julho de 2008

Amar... Não Tem Preço

Tatiana Babadobulos

Entre tantos blockbusters em cartaz, não é fácil, mas ainda há boas opções no circuito alternativo. Tanto nos Estados Unidos (com US$ 62,5 milhões) como no Brasil (R$ 2,3 milhões), a animação "Wall-E", uma das melhores produções da Disney/Pixar, liderou o ranking das bilheterias neste final de semana. Na seqüência, entre os filmes mais vistos de 27 a 29 de junho, "Jogo de Amor em Las Vegas", com R$ 1,5 milhão, e "Agente 86", que estreou dia 20 e arrecadou R$ 1,4 milhão. Pensando em assistir a um bom filme, fui ver “Amar... Não Tem Preço” (“Hors de Prix”), do diretor tunisiano Pierre Salvadori.
Na trama, Jean (Gad Elmaleh) é um rapaz que trabalha como barman, garçom, enfim, um “faz-tudo” em um hotel da Riviera Francesa, mas, a certa altura, é confundido com um milionário por uma das hóspedes, Irene (a francesa Audrey Tautou, de “O Fabuloso Destino de Amélie Poulain”). Na verdade, ela namorada (ou apenas acompanha) um homem velho e cheio da grana.
Logo no começo já dá para perceber que ela está com o tal senhor devido a sua conta bancária e aos presentes que ele lhe dá. E, pensando que Jean também é dono de uma polpuda poupança, acaba trocando, acidentalmente, tudo.
Até aqui, que vai até mais ou menos os 15 primeiros minutos do longa-metragem, é fácil se irritar com a personagem de Audrey Tautou. Ela interpreta com naturalidade a interesseira, embora a pose de “gostosona” não lhe sirva como uma luva. Isso porque, mesmo que tente se mostrar sensual com os decotes dos vestidos justíssimos e de grife que veste, ainda lhe falta uma pitada de sensualidade. Já a outra face de sua personagem é extremamente convincente e capaz de deixar o espectador com raiva das suas atitudes, principalmente quando ela descobre que o moço não passa de um “duro” e que um golpe do baú não funcionará. Então, sentindo-se culpado pela perda de Irene, Jean tenta reverter a situação e coloca-se em risco.
A história se passa basicamente em locações, como hotéis localizados em Cannes. Porém, quem conhece o local, pode identificar que, além de Cannes, na França, o longa se passa também em Monte Carlo, localizado no Principado de Mônaco. Aqui, portanto, estão belos panos de fundos que favorecem a ambientação não apenas por serem extremamente “fotogênicos”, mas também por abrigarem restaurantes chiques, gente bem-arrumada, lojas de grifes, ou seja, cenário que tem tudo a ver com o enredo.
Contando com uma narrativa bem-humorada e com críticas acirradas ao consumismo, no qual vale o quanto se paga e não o real gosto do caviar, a fita envolve o espectador, mas a certa altura é possível se perguntar o que diretor fará para desenrolar a trama que ele mesmo criou. Ele demora, o filme se arrasta, mas, enfim, Salvadori consegue dar um final ao enredo, mas não foge dos tradicionais desfechos das comédias românticas.
“Amar... Não Tem Preço” não é o melhor filme francês e demorou cerca de dois anos para ser exibido nos cinemas brasileiros, já que o lançamento na França e em muitos países da Europa foi realizado em dezembro de 2006 (!). Entretanto, a fita tem aspectos que contribuem para a produção ficar simpática na tela e vale a pena ser visto.