Antonio Carlos
Egypto
O ÍDOLO (Ya Tayr El Tayer).
Palestina, 2015. Direção: Hany
Abu-Assad. Com Tawfeek Barhorn, Kais
Attalah, Hiba Attalah. 100 min.
“O Ídolo” é uma produção palestina que conta com o apoio de vários outros
países, como Reino Unido, Holanda, Catar e Emirados Árabes. O diretor Hany Abu-Assad, palestino da cidade
de Nazaré, já realizou um belíssimo trabalho que foi exibido por aqui: o filme
“Paradise Now”, de 2005, vencedor do Globo de Ouro de filme estrangeiro e
premiado em Berlim. Mostra os
preparativos que realizam dois “homens-bomba” suicidas palestinos, com suas
convicções e suas dúvidas. Um libelo
pela paz, um trabalho que provoca, incomoda e tenta entender e explicar o que
parece incompreensível.
“O Ídolo” é um filme mais simples, mais singelo. Mas muito capaz de nos envolver na
improvável, mas verídica, história do cantor Mohammed Assaf, morador da Faixa
de Gaza, que venceu o concurso Arab Idol, em 2013, o equivalente árabe do American
Idol, copiado também por aqui.
Parece pouco para provocar em nós emoções intensas. No entanto, o que o cineasta nos mostra é a
opressão que atinge os palestinos em Gaza, dependendo das permissões
israelenses para se locomover e convivendo com os verdadeiros escombros em que
se transforma o seu ambiente bombardeado, semidestruído.
Crianças e jovens, mesmo vivendo em condições adversas e de restrição de
liberdade, se encantam com a música, formam bandas, cantam e têm sonhos que
ultrapassam em muito a restritiva vida que levam. Quando alguém se distingue por um
talento especial, como uma rara habilidade vocal para o canto, um concurso como
o Arab Idol pode funcionar como saída para voos antes inimagináveis.
De fato, Mohammed Assaf passará a brilhar com a música no mundo árabe e
se tornará um ídolo real, não apenas de um programa televisivo. Grande parte do seu sucesso virá da
necessidade de um povo oprimido ser ouvido, mostrar que existe, que pode
vencer, triunfar. É isso que faz dessa
uma história cativante, não tanto a batalha pela superação das dificuldades, o
que vem sendo muito explorado pelo cinema.
A arte como meio de expressão, no caso, a música, que transcende o
cotidiano e alcança repercussão inesperada e significados surpreendentes, é o
que “O Ídolo” mostra melhor. Ir ao
Egito, chegar às finais do tal programa no Líbano, receber uma torcida
entusiasmada, tomando as ruas na Palestina e em outras partes do mundo árabe,
gerou uma expectativa inusitada de que a bela voz de um jovem que canta possa
transformar o mundo. Ainda que seja uma
grande ilusão, é bonito poder acreditar nisso.
O filme tem um bom elenco, além de boa música, um pouco diferente do que
estamos acostumados a ouvir, mas bem bonita.