O CIRCO VOLTOU. Brasil, 2021.
Direção: Paulo Caldas. Roteiro de
Paulo Caldas, Bárbara Cunha e trabalho de pesquisa de João Paulo Soares. Documentário.
86 min.
Quem é
que não gosta de circo? A arte do circo,
com seu apelo popular, faz, por meio do palhaço, a alegria das crianças de
todos os tempos e lugares. Mas e os
trapezistas, equilibristas, comedores de fogo e os motociclistas do globo da
morte? Uma sensação. Já houve tempo em que os animais ferozes eram
uma outra grande atração. Não pode mais,
a não ser um homem vestido de macaco, por exemplo. Seja como for, o circo é um encanto, mambembe
ou requintado, é um encanto.
O
documentário “O Circo Voltou”, do cineasta Paulo Caldas, de grandes filmes,
como “Baile Perfumado” (1997), “Deserto Feliz” (2007), “Flores do Cárcere”
(2019), ou como roteirista de “Cinema, Aspirinas e Urubus” (2005), é uma
homenagem a um dos grandes mestres circenses, Zé Wilson. Com o circo Spadoni percorrendo o Brasil, em
várias épocas, e com a Escola de Circo Picadeiro em São Paulo, responsável pela
preparação de novos talentos para a arte circense nos dias de hoje. Ainda que muitos deles só consigam se
apresentar nos intervalos dos semáforos da cidade. Deixando-nos embasbacados, aliás. Equilibrismo de precisão, com amplo domínio
do tempo, incluindo a coleta das contribuições num sinal demorado, foi o que eu
vi ainda esta semana em Sampa.
“O
Circo Voltou” começa muito bem, com imagens quadradas no meio da tela, em preto
e branco, magnificamente filmadas, que evocam o passado, a história e a
memória. Quando a tela abre e se torna
colorida, vamos ingressar em um road
movie, que acompanhará José Wilson e seu grupo circense e familiar por
vários cantos do Brasil, retomando o circo Spadoni, sua tradição e brilho. Seu filho, Pedrinho, que fará essa viagem
pela primeira vez e se destacará como o palhaço mais novo do circo, servirá
então de narrador da experiência.
O
circo Spadoni percorre o Brasil por terra, de Furquin, nas Minas Gerais,
passando pela comunidade quilombola de Cruzeiro, na Bahia, indo a uma aldeia
indígena, em Palmeira dos Índios, em Alagoas, até chegar a Major Isidoro, no
sertão de Alagoas, terra de origem do mestre Zé Wilson e jornada emocional da
viagem. E o circo se mostra comunicativo
e atraente para todos esses diferentes públicos, exibindo a versatilidade dessa
arte popular, que é também de resistência cultural, que vive se reinventando.
Zé
Wilson fala também de sua experiência inovadora com a Escola de Circo, com a parceria
que teve com Cacá Rosset no teatro com os espetáculos do Ubu Rei, famosos e de grande sucesso. Relembra a amizade com Domingos Montagner
(1962-2016), morto tão precocemente em acidente, a quem homenageia nas águas do
São Francisco.
A
performance de Pedrinho no circo, que fecha o filme, mostra que não só o circo
volta, mas se renova e se prepara para o futuro. Salve o circo!
Um
outro documentário brasileiro que também merece atenção é UM SAMURAI EM SÃO PAULO, que conta a história do sensei Taketu
Okuda, numa pequena academia no bairro de Pinheiros, com alunos praticando
karatê, sem saber que estavam diante de um dos mestres mais importantes do
mundo. Ele e outros mestres japoneses
das lutas marciais espalharam-se pelo mundo para difundir aquilo que mais
amavam.
O
filme foi concebido e dirigido por uma aluna da academia, Débora Mamber
Czeresnia, paulista de origem polonesa, judia, neta de sobreviventes do
Holocausto que, ao conhecê-lo e praticar sua luta, viu muito em comum na
história de Okuda, marcada pela infância no Japão na Segunda Guerra Mundial, e
a de seus avós.
A arte
marcial das mãos vazias do karatê Butoku-kan
é mostrada no filme pela figura, pelos movimentos atléticos que se constituem
também numa dança meticulosamente realizada e pela resiliência desse homem, que
viveu até os 79 anos de idade no Brasil, morreu em 2022 e enfrentou a morte
prematura de seu filho, que vinha sendo preparado para sucedê-lo. Foi um golpe que ele assimilou e seguiu em
frente até o fim. A tríade que baliza os
samurais: honra, lealdade e coragem, foi o que norteou a batalha pela vida de
Taketu Okuda. 70 min.