ROBIN
HOOD, A ORIGEM (Robin Hood). Estados Unidos, 2018. Direção: Otto Bathurst. Com
Taron Egerton, Jamie Foxx, Ben Mendelsohn, Eve Hewson, Jamie Dornan. 116 min.
O herói inglês Robin Hood, o príncipe dos
ladrões, o que roubava dos ricos para dar aos pobres, é um personagem
fascinante que sempre atraiu o interesse da literatura e do cinema. Também conhecido como Robin dos Bosques, em
Portugal, o Roberto do Capuz (Hood) teria vivido na Idade Média no tempo das
Cruzadas, nos séculos XII ou XIII, sendo contemporâneo do rei Ricardo Coração
de Leão. O capuz servia para lhe possibilitar a dupla identidade: Robert
Locksley, um nobre, e Robin Hood, o ladrão que tomava para si e para o seu
grupo de colaboradores a função de redistribuir melhor a riqueza em seu
condado. Seu habitat, a floresta de
Sherwood.
O filme “Robin Hood, a Origem”, dirigido por
Otto Bathurst, com Taron Egerton no papel do herói, afirma no pôster de divulgação
que “a lenda você conhece, a história, não”, daí o subtítulo “A Origem”. Como assim?
Que história, que origem? Cada
texto literário ou filme conta a sua, é o que mantém a lenda, o mito vivo,
desde os anos 1300, diga-se.
Por que voltar a Robin Hood no cinema, depois
de ele ter sido tão fartamente explorado, e vivido por grandes atores, a partir
do clássico de 1938, com Errol Flynn?
John Derek, em 1950, Sean Connery e Kevin Costner, em 1976, Russel
Crowe, em 2010, para citar apenas alguns.
Sem esquecer o registro de comédia, de Renato Aragão e os Trapalhões, em
dois filmes dos anos 1970.
O que “Robin Hood, a Origem” faz é colocar o
personagem a serviço do formato blockbuster
hollywoodiano, o superespetáculo
cheio de tecnologia, efeitos especiais, muita ação, muita luta, explosões. O de sempre.
Idade Média do século XXI. É só
observar as flechas de design superavançado
disparadas como metralhadoras de precisão.
Como sempre, o herói resiste a tudo nas situações mais absurdas e
inverossímeis. Tudo em nome do
espetáculo, do entretenimento.
Para conseguir curtir esse tipo de espetáculo,
é indispensável deixar completamente de lado o espírito crítico e distanciar-se
do cotidiano da vida. Isso, apesar das
evidências sociais e políticas do tema central e de o personagem se tornar um
revolucionário, incentivador da ação das massas. Aí pode ser um refresco encarar a aventura do
homem medieval do capuz que, na verdade, parece ahistórico, fora do tempo. Mais ou menos como dar um tempo em acompanhar
o noticiário de jornais, TV, Internet, para poder suportar um dia a dia cada
vez mais preocupante e assustador.
É o velho e conhecido escapismo que, nos dias
atuais, se permite críticas e ironias a grupos e instituições, como neste caso
a igreja, que serve de sustentáculo a uma política opressora que asfixia a
população, por meio de impostos de guerra cada vez mais escorchantes.
A luta do bem e do mal, no entanto, segue os
ditames do mercado. E, com a malandragem
habitual, coloca no fim a cena que dará início ao próximo filme da série “Robin
Hood”. Se houver, se o público comprar.