Antonio Carlos Egypto
TÁR (Tár). Estados Unidos, 2022. Direção: Todd Field. Elenco: Cate Blanchett, Nina Hoss, Noémie Merlant, Sophie Kauer, Mark Strong. 158 min.
O
filme aborda uma personagem ficcional, Lydia Tár, que seria a primeira mulher a
reger e comandar a Orquestra Filarmônica de Berlim. Um feito e tanto para quem ainda compõe, é
instrumentista e escreve suas memórias como top
da música clássica, um ambiente marcada e predominantemente masculino.
Essa é
a maestro Tár. Lendo isso, você vai
dizer: está errado, maestro, não, maestrina.
Não para a personagem, que faz questão de ser chamada de maestro, assim,
no masculino. E isso é reiterado no
filme, várias vezes. Qual o propósito
disso? Identificá-la ao mundo masculino
para enfrentá-lo? Ou acentuar, assim,
suas relações homoafetivas, que ela manipula e maneja conforme seus desejos, na
gestão da orquestra?
Em
vários momentos, discutindo compositores clássicos, levanta-se a questão da
separação, possível ou não, entre a obra e o artista, na compreensão e
avaliação do trabalho artístico-cultural.
No caso da “maestro”, no entanto, é evidente que sua personalidade e suas
atitudes contaminam seu trabalho. É o
que vai acontecer quando sua empáfia, suas manipulações, desrespeitos e
mentiras, vierem à tona e seu poder ruirá.
O filme leva intermináveis 2 horas e 38 minutos para descrever esse
processo previsível e, mesmo assim, o período final de sua queda e, sobretudo,
de sua volta, se revela de forma abrupta.
Com um exagero brutal na cena em que ela ataca, tromba e cai diante da
plateia de um grande teatro lotado.
A
fotografia mostra a opacidade, a pouca luz e cor, nesse ambiente de poder que
se desintegra, enquanto a personagem se afasta de nós, nos incomoda.
“Tár”
é desagradável, em princípio. Aquilo que
seria indicativo dos méritos ou características da personagem, na verdade, é
colocado contra ela na narrativa. E a
gente se pergunta, por que criar tal personagem?
Uma
pena, já que Lydia Tár é vivida por uma grande atriz, como é Cate
Blanchett. Ela está ótima neste papel,
pode levar o Oscar. Inegavelmente, seu
desempenho acentua competentemente a ojeriza pela figura que dá nome ao
filme. Exigiu muito desgaste dela na
atuação. Infelizmente, esse desgaste
também atinge o público. E não por uma
razão mais profunda, “Tár” tem uma trama banal.
Tem momentos musicais interessantes.
Cate Blanchett. E só.