Antonio Carlos Egypto
Nesta
semana, de hoje a 04 de outubro, todos os cinemas estão rebaixando os valores dos
ingressos a $12,00 (exceto 3D e sessões especiais). Boa oportunidade para ver alguns bons filmes
em cartaz. Eu começo por sugerir dois
filmes que vi na Mostra Internacional de Cinema de São Paulo do ano passado,
que entraram agora.
Um é o
filme italiano AS OITO MONTANHAS (Le otto montagne), de 2022, dirigido
por um casal de belgas, Felix van Groeningen e Charlotte Vandermeersch, um
trabalho tocante sobre amizade entre dois homens distintos que têm em comum a
vivência, eventual para um, constante para o outro, da vida nas montanhas. Os atores principais são Alessandro Borghi e
Luca Marineli. 147 min.
O
outro é TERRA DE DEUS (Vanskabte land), produção da Islândia e
Dinamarca, dirigido por Hlynur Pálmson, em 2022, com Elliott Crosset Hove,
Victoria Carmen Sonne, Ingran Eggert Sigurdsson, no elenco. A história que nos conta a viagem de um padre
dinamarquês, no século XIX, a uma remota região da Islândia e que é engolido
pela paisagem inóspita e pela relação com o mundo das pessoas, perdendo-se em
sua missão, é extraordinariamente bela, visualmente. Pelas locações espetaculares e pela belíssima
fotografia que nos remetem a um mundo distante e estranho. Gelado,
naturalmente. 143 min.
NOSTALGIA,
outro filme italiano de 2022, dirigido por Mario Martone, com Pierfrancesco
Favino, Francesco Di Leva, Tommaso Ragno, Aurora Quattrocchi, Sofia Essaidi,
nos leva à retomada de um passado marcante, embora prematuro, que estava
negado, “esquecido”, por quarenta anos.
O personagem Felice construiu sua vida pelo mundo, casou-se, venceu
financeiramente, vive no Cairo, mas, em função de ver sua mãe no fim da vida,
volta a Nápoles e encontra a cidade muito mudada, com sua região entregue ao
banditismo. Ocorre que seu grande amigo
de infância, que ele quer rever e com ele resolver questões pendentes, é
ninguém menos do que o bandido-mór da localidade. Um padre tentará ajudá-lo,
ele poderá prestar uma assistência final a sua mãe já velhinha (uma cena
tocante é o banho que ele dá nela), mas a trama se adensará nos lembrando que
não se volta ao que se foi, nada será igual, nem o lugar, nem as pessoas, nem
nós mesmos. A nostalgia é uma ilusão,
como veremos aqui, bem perigosa. 117
min.
E, por
último, destacar o trabalho documental do diretor brasileiro, de ancestrais
argelinos, Karim Aïnouz, de filmes como “A Vida Invisível”, de 2019, “Praia do
Futuro”, de 2014, “Madame Satã”, de 2002.
Em MARINHEIRO DAS MONTANHAS
ele nos leva à sua viagem solitária a Argel e a Cabília, localidade natal de
seu pai argelino. Conversa
imaginariamente com sua mãe, morta recentemente, tentando entender o amor que
ela viveu com o pai, que sumiu. Ele
nunca aparece em cena, nem o pai, que está vivo, mas não foi com ele. Acompanhamos a sua jornada pela Argélia que
ele está conhecendo, na paisagem, nas pessoas, nas vestes, na comida, no
contexto social empobrecido e também autoritário. Esse road
movie solitário nos traz a
“intimidade” da Argélia, além da epopeia pessoal/familiar do diretor cearense que
encontrou até um homônimo em Cabília. E
pensar que por aqui ele sempre tem de soletrar seu nome. O filme é de 2021 e tem 80 minutos.