Antonio Carlos
Egypto
DETROIT EM REBELIÃO (Detroit). Estados Unidos,
2017. Direção: Kathryn Bigelow. Com
John Boyega, Willl Poulter, Algee Smith, Jacob Latimore, Hannah Murray. 143 min.
Quem assistiu a “Guerra ao Terror” (2008) e a “A Hora
Mais Escura” (2012) sabe bem o que esperar da diretora Kathryn Bigelow. Ela faz filmes políticos, muito fortes, de
denúncia,sem aliviar na forma de relatar os acontecimentos. Ela se interessa pela história
norte-americana recente e parece ter muita urgência em fazer o público refletir
sobre algumas questões pendentes.
“Detroit em Rebelião”, seu atual trabalho, se debruça
sobre a tensão racial que tomou conta da cidade de Detroit, a mais populosa do
estado de Michigan, em 1967. Ela procura
mostrar que o barril de pólvora que se incendeia nesses momentos retrata uma
guerra sem fim que os Estados Unidos não conseguem encarar e resolver. Pelo contrário, ciclicamente, a situação se
agrava.
O filme toma posição clara e expressa de apoio à
causa negra, durante todo o tempo, de forma firme e corajosa. Sem dar margem a nenhuma dúvida. O que, talvez, até prejudique a reflexão que
ela pretende. Porque ela dá o prato
pronto, incontestável.
A abordagem dos fatos relatados no filme é tão
marcante e incisiva que se torna quase insuportável. As cenas de confrontos de rua são agitadas,
tensas como a câmera que as capta. O
tratamento que uma polícia quase inteiramente branca dá à população negra de
uma região conflagrada é de exasperar os ânimos de qualquer humanista ou
cidadão de convicções democráticas.
Para acentuar o absurdo do tratamento policial e o
desrespeito às pessoas, o filme se estende durante muito tempo, para mostrar o
que acontece, passo a passo, repetidamente.
É revoltante, inaceitável. Já
sabíamos disso, tínhamos entendido. Mas
viver emocionalmente cada momento nos obriga a entrar na pele da população
negra, tão estupidamente discriminada. E que o ótimo elenco negro, que sofre
diante de nós, reforça enormemente, assim como os atores brancos em seus
desempenhos agressivos.
Os julgamentos que ocorrem depois apenas reafirmam a
desigualdade e a ausência de equilíbrio de uma justiça também branca. Nesse ponto, a situação toma ares
civilizados, mas nada muda, de fato. As
instituições estão aí para garantir a desigualdade e o preconceito. Essa é a América, guardiã da democracia e da
liberdade, que tanto se apregoa? Alguma
coisa apodreceu nos intestinos dessa nação tão poderosa. E não é de hoje, como nos mostra Kathryn
Bigelow em seu forte filme-denúncia.
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