sexta-feira, 13 de outubro de 2017

DETROIT EM REBELIÃO


Antonio Carlos Egypto




DETROIT EM REBELIÃO (Detroit).  Estados Unidos, 2017.  Direção: Kathryn Bigelow.  Com John Boyega, Willl Poulter, Algee Smith, Jacob Latimore, Hannah Murray.  143 min.


Quem assistiu a “Guerra ao Terror” (2008) e a “A Hora Mais Escura” (2012) sabe bem o que esperar da diretora Kathryn Bigelow.  Ela faz filmes políticos, muito fortes, de denúncia,sem aliviar na forma de relatar os acontecimentos.  Ela se interessa pela história norte-americana recente e parece ter muita urgência em fazer o público refletir sobre algumas questões pendentes.

“Detroit em Rebelião”, seu atual trabalho, se debruça sobre a tensão racial que tomou conta da cidade de Detroit, a mais populosa do estado de Michigan, em 1967.  Ela procura mostrar que o barril de pólvora que se incendeia nesses momentos retrata uma guerra sem fim que os Estados Unidos não conseguem encarar e resolver.  Pelo contrário, ciclicamente, a situação se agrava.

O filme toma posição clara e expressa de apoio à causa negra, durante todo o tempo, de forma firme e corajosa.  Sem dar margem a nenhuma dúvida.  O que, talvez, até prejudique a reflexão que ela pretende.  Porque ela dá o prato pronto, incontestável.






A abordagem dos fatos relatados no filme é tão marcante e incisiva que se torna quase insuportável.  As cenas de confrontos de rua são agitadas, tensas como a câmera que as capta.  O tratamento que uma polícia quase inteiramente branca dá à população negra de uma região conflagrada é de exasperar os ânimos de qualquer humanista ou cidadão de convicções democráticas.

Para acentuar o absurdo do tratamento policial e o desrespeito às pessoas, o filme se estende durante muito tempo, para mostrar o que acontece, passo a passo, repetidamente.  É revoltante, inaceitável.  Já sabíamos disso, tínhamos entendido.  Mas viver emocionalmente cada momento nos obriga a entrar na pele da população negra, tão estupidamente discriminada. E que o ótimo elenco negro, que sofre diante de nós, reforça enormemente, assim como os atores brancos em seus desempenhos agressivos.

Os julgamentos que ocorrem depois apenas reafirmam a desigualdade e a ausência de equilíbrio de uma justiça também branca.  Nesse ponto, a situação toma ares civilizados, mas nada muda, de fato.  As instituições estão aí para garantir a desigualdade e o preconceito.  Essa é a América, guardiã da democracia e da liberdade, que tanto se apregoa?  Alguma coisa apodreceu nos intestinos dessa nação tão poderosa.  E não é de hoje, como nos mostra Kathryn Bigelow em seu forte filme-denúncia.





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