Antonio Carlos
Egypto
Dentre os filmes que constam da programação da 41ª.
Mostra Internacional de Cinema em São Paulo, que já pude ver, destaco alguns
que merecem atenção.
FEIO (Ugly), da Ucrânia, é um filme que quem
gosta de cinema certamente vai apreciar.
Plasticamente belo, explora bem os espaços, a luz, as fortes sensações e
sentimentos que procura mostrar. Não
constrói uma narrativa linear, nem deixa tudo claro e compreensível. Mas encanta pela filmagem, pela
estética. O diretor, Jiri Rechinsky,
está em seu segundo longa, primeiro em ficção.
Nascido no Turcomenistão, criado na Ucrânia e vivendo na Áustria, é um
nome para acompanhar. Começa muito bem.
FEIO |
SCARY MOTHER,
da Geórgia, radicaliza o dilema de uma mulher com talento para a escrita, que
terá de escolher entre desenvolver esse talento ou se apequenar numa vida
familiar que a reprime. Os caminhos são
difíceis, dentro e fora de casa. O
mercado não é receptivo em tempos de crise.
Só mesmo uma grande paixão para algo acontecer. A direção de Ana Urushadze, em seu primeiro
longa, é competente em revelar o conflito feminino básico entre não só a vida
familiar e a profissional, mas entre a acomodação e a transgressão, com tudo
que acompanha as decisões radicais.
UM CINEMA EM
CONCRETO, documentário argentino, de Luz Ruciello, em seu primeiro longa,
dialoga com um dos destaques brasileiros do último É Tudo Verdade: o filme “Cine São Paulo”. Aqui também descobre-se um personagem
apaixonado, sem medida, pelo cinema. Só
que, no caso, pela construção do cinema como espaço de sonho. E haja persistência para viabilizar
concretamente isso!
UM CINEMA EM CONCRETO |
JERICÓ, O
INFINITO VOO DOS DIAS, de Catalina Mesa, da Colômbia, em seu segundo longa,
é um documentário que retrata, com sensibilidade e respeito, a vida de várias
mulheres do povoado colombiano de Jericó, seus pensamentos, histórias de vida,
suas crenças, sua religiosidade marcante, seu humor e o conhecimento que
desenvolvem num ambiente bastante limitado e na pobreza.
O DIA DEPOIS,
da Coreia do Sul, é mais um filme de Hang-Sang-Soo, talvez o mais produtivo
cineasta autoral em atividade no mundo.
É um filme atrás do outro (ainda está em cartaz “Na Praia, À Noite,
Sozinha”). São filmes simples,
geralmente com personagens conversando em torno da mesa, comendo e,
principalmente, bebendo, resolvendo conflitos.
Portanto, de realização rápida.
Só que ele faz muito e faz bem.
Ele sempre encontra um clima apropriado para desenvolver suas histórias
e um elenco que convence, ao interpretar gente real, com quem cruzamos amiúde
por aí. Esta narrativa de infidelidade e
engano é muito boa.
1945 |
1945, da
Hungria, dirigido por Ferenc Tórók, nos remete a um povoado húngaro que, com o
fim da Segunda Guerra Mundial, se sente ameçado em seu poder local e na posse
de bens, pela volta dos judeus sobreviventes da guerra. A filmagem, muito boa, em preto e branco,
remete ao medo, à ganância, ao conflito ético, enfatizando que é o que está na
cabeça das pessoas o que conta, não a percepção da realidade objetiva.
CUATREROS,
de Albertina Carri, da Argentina, constrói uma narrativa que nos mostra o filme
sendo realizado, a partir da descoberta de textos e imagens relacionados ao
trabalho do sociólogo Roberto Carri, pai da diretora. Uma profusão de informações é apresentada
verbalmente – verborragicamente, eu diria – enquanto a tela, frequentemente,
está dividida em três ou quatro imagens distintas. Impossível captar tudo. Ainda assim, é um trabalho documental
relevante, que teria ganhado muito com uma edição mais apropriada.
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