quinta-feira, 31 de julho de 2014

COMO NA CANÇÃO DOS BEATLES: NORWEGIAN WOOD

Antonio Carlos Egypto




COMO NA CANÇÃO DOS BEATLES: NORWEGIAN WOOD (Noruwei no Mori). Japão, 2010.  Direção e roteiro: Tran Ahn Hung.  Com Ken’ichi Matsuyama, Rinko Kikuchi, Kiko Mizuhara, Kengo Kôra.  133 min.


O cineasta vietnamita Tran Ahn Hung realiza um trabalho estético sofisticado no cinema.  Como atestam seus filmes, “O Cheiro do Papaia Verde”, de 1993, e “Luzes de um Verão”, de 2000.  Não é diferente com este “Como na Canção dos Beatles: Norwegian Wood”.  Ele realiza enquadramentos belíssimos, sobretudo em locais de natureza exuberante, ou pequenos espaços que contemplem plantas e objetos marcantes para a trama e passeia sua câmera pelos ambientes e pelas pessoas.  Faz um uso intensivo do close, para mostrar rostos, objetos, detalhes relevantes.  É algo para ser sorvido, apreciado sem pressa, cultivando a beleza.

No filme, a fotografia de Ping Bin Lee, que também trabalhou com Wong Kar Wai, em “Amor à Flor da Pele”, tem uma participação fundamental nessa estética.  As locações, como sempre, são de tirar o fôlego, de tão belas.  Nos filmes anteriores, mostravam belezas do Vietnã, agora, do Japão.  Como a ação se passa parte em Tóquio, parte, no interior, e numa região de montanhas, o verde exuberante, o branco da neve, o pôr-do-sol se destacam na tela, emoldurando um drama de amor baseado no romance de Haruki Murakami.



A questão central colocada pela narrativa indaga sobre o amor verdadeiro e que vicissitudes ele pode suportar.  Esse amor pode resistir ao suicídio da pessoa amada?  Resistirá a uma espera longa, quase infinita?  E à presença de um outro ou outra junto ao ser amado?  Enfrentará o desequilíbrio mental da pessoa amada e suas dificuldades sexuais?

Não são perguntas retóricas.  Elas estão contextualizadas na história de cada personagem, seus desejos, medos e expectativas.  E são expostas de forma clara, como na situação da personagem Naoko (Rinko Kikuchi) que apresenta um quadro de vaginismo associado a outros desequilíbrios emocionais.


 

A morte, sempre presente e interferindo na relação dos amantes, a imperiosidade da escolha, o tempo que decorre, as frustrações que se apresentam, são partes integrantes e determinantes do drama vivido pelo protagonista Watanabe (Ken’ichi Matsuyama) junto a Naoko, namorada do amigo morto Kizuki (Kengo Kôra), que vivem uma complicada paixão.  A isso se junta a relação de Watanabe com Midori (Kiko Mizuhara), que também o ama, mesmo sabendo de sua relação com Naoko.  E que, por outro lado, tem um namorado.  Por aí segue a roda dos amores e dos desejos.

O contexto em que tudo isso se dá é o Japão do final dos anos 1960, a agitação política que tomou conta do mundo e tem sua expressão em grandes cidades, como Tóquio.  Mas esse é apenas o pano de fundo da história, não tem maior peso ou significado nas ações dos personagens.




A trilha sonora inclui a música dos Beatles, incorporada ao título, e tem a autoria de Jonny Greenwood, guitarrista do Radiohead.  Música que serve para acentuar a arte do belo que o filme cultua.

Em São Paulo, ele está sendo exibido no cine Belas Artes, devidamente reformado e reincorporado à vida cultural da cidade, graças a uma campanha popular que teve o apoio da Prefeitura e o patrocínio da Caixa.


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