COMO NA CANÇÃO DOS BEATLES: NORWEGIAN WOOD (Noruwei no Mori). Japão, 2010. Direção e roteiro: Tran Ahn Hung. Com Ken’ichi Matsuyama, Rinko Kikuchi, Kiko
Mizuhara, Kengo Kôra. 133 min.
O cineasta vietnamita Tran Ahn Hung realiza um
trabalho estético sofisticado no cinema.
Como atestam seus filmes, “O Cheiro do Papaia Verde”, de 1993, e “Luzes
de um Verão”, de 2000. Não é diferente
com este “Como na Canção dos Beatles: Norwegian Wood”. Ele realiza enquadramentos belíssimos,
sobretudo em locais de natureza exuberante, ou pequenos espaços que contemplem
plantas e objetos marcantes para a trama e passeia sua câmera pelos ambientes e
pelas pessoas. Faz um uso intensivo do close, para mostrar rostos, objetos,
detalhes relevantes. É algo para ser
sorvido, apreciado sem pressa, cultivando a beleza.
No filme, a fotografia de Ping Bin Lee, que também
trabalhou com Wong Kar Wai, em “Amor à Flor da Pele”, tem uma participação
fundamental nessa estética. As locações,
como sempre, são de tirar o fôlego, de tão belas. Nos filmes anteriores, mostravam belezas do
Vietnã, agora, do Japão. Como a ação se
passa parte em Tóquio, parte, no interior, e numa região de montanhas, o verde
exuberante, o branco da neve, o pôr-do-sol se destacam na tela, emoldurando um
drama de amor baseado no romance de Haruki Murakami.
A questão central colocada pela narrativa indaga
sobre o amor verdadeiro e que vicissitudes ele pode suportar. Esse amor pode resistir ao suicídio da pessoa
amada? Resistirá a uma espera longa,
quase infinita? E à presença de um outro
ou outra junto ao ser amado? Enfrentará
o desequilíbrio mental da pessoa amada e suas dificuldades sexuais?
Não são perguntas retóricas. Elas estão contextualizadas na história de
cada personagem, seus desejos, medos e expectativas. E são expostas de forma clara, como na
situação da personagem Naoko (Rinko Kikuchi) que apresenta um quadro de
vaginismo associado a outros desequilíbrios emocionais.
A morte, sempre presente e interferindo na relação
dos amantes, a imperiosidade da escolha, o tempo que decorre, as frustrações
que se apresentam, são partes integrantes e determinantes do drama vivido pelo
protagonista Watanabe (Ken’ichi Matsuyama) junto a Naoko, namorada do amigo
morto Kizuki (Kengo Kôra), que vivem uma complicada paixão. A isso se junta a relação de Watanabe com
Midori (Kiko Mizuhara), que também o ama, mesmo sabendo de sua relação com
Naoko. E que, por outro lado, tem um
namorado. Por aí segue a roda dos amores
e dos desejos.
O contexto em que tudo isso se dá é o Japão do final
dos anos 1960, a agitação política que tomou conta do mundo e tem sua expressão
em grandes cidades, como Tóquio. Mas
esse é apenas o pano de fundo da história, não tem maior peso ou significado
nas ações dos personagens.
A trilha sonora inclui a música dos Beatles,
incorporada ao título, e tem a autoria de Jonny Greenwood, guitarrista do
Radiohead. Música que serve para
acentuar a arte do belo que o filme cultua.
Em São Paulo, ele está sendo exibido no cine Belas
Artes, devidamente reformado e reincorporado à vida cultural da cidade, graças
a uma campanha popular que teve o apoio da Prefeitura e o patrocínio da Caixa.
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