Antonio
Carlos Egypto
PRAIA DO FUTURO. Brasil, 2013.
Direção: Karim Aïnouz. Com Wagner
Moura, Clemens Schick, Jesuíta Barbosa.
106 min.
Muita luminosidade. Sol.
Água. Estamos na Praia do Futuro,
em Fortaleza. Bela e perigosa. Um salva-vidas, Donato (Wagner Moura), tenta
em vão evitar o afogamento de um banhista.
A cena que abre o filme e mostra essa luta no mar, entre a vida e a
morte, nos indica que muita tensão e muita dor podem vir por aí.
Virá, também, uma história de amor
homossexual, que nos remeterá da ensolarada Praia do Futuro para o colorido
acinzentado de Berlim no inverno. E
conhecemos Konrad (Clemens Schick), piloto alemão, objeto de amor do brasileiro
Donato.
Há mais.
Em busca não só do amor, mas do risco, da aventura e da liberdade,
Donato abandona sua família, deixa para trás o irmão menor, que tinha nele um
ídolo: Ayrton (Jesuíta Barbosa). E que,
mais crescido, vai cobrar a fatura do abandono que teve de amargar.
Gente que ama.
Gente que perde. Gente que se
aventura. Gente que cobra. Gente que se enraivece. Frustrações, decepções, surpresas,
arrependimento. É de tudo isso que se
trata. O novo filme do conceituado
diretor Karim Aïnouz é um trabalho autoral, que penetra nos sentimentos mais
fortes e nas relações mais intensas.
Valendo-se de uma câmera que invade e escancara a intimidade. Também dos corpos, mas principalmente das
emoções. Com interpretações viscerais de
atores que nem sempre falam a mesma língua (é uma coprodução brasileira-alemã)
ou que juntam muita experiência com o vigor da juventude em que a experiência
começa a aflorar. Com muito ensaio, o
resultado sai muito bom.
De Wagner Moura nem é preciso dizer, é um dos
grandes atores da atualidade brasileira.
No cinema, ficou famoso como o Capitão Nascimento, de “Tropa de Elite 1
e 2”, pelo menos para o grande público.
Na verdade, é um ator versátil, que dá credibilidade a qualquer papel:
aqui, como salva-vidas e gay, ele, mais uma vez, brilha. Até quando emite algumas falas decoradas em
alemão, ele é capaz de convencer.
O mesmo se dá com Clemens Schick, que atuou
com um elenco brasileiro sem falar português.
Mas teve poucas falas decoradas aproveitadas. O filme tem pouco diálogo, é muito visual. Ficou com ainda menos diálogos porque nem
sempre as falas decoradas passaram pelo crivo do diretor. Melhor assim: é um cinema que mostra, não
fica explicando.
Jesuíta Barbosa, que faz o irmão menor do
protagonista, é um ator muito talentoso.
Já havia demonstrado isso em “Tatuagem”, de Hilton Lacerda, de
2013. Tem lugar garantido na nova
geração de atores brasileiros que começa a se destacar.
É mais um filme brasileiro que ousa sair do
que o chamado “mercado” possa esperar.
Que está mais interessado em cutucar vespeiros emocionais, refletir
sobre caminhos e escolhas e que não se satisfaz em oferecer o conhecido, o já
assimilado, o que vende. Busca expressar
o que lhe parece importante e relevante.
É por aí mesmo.
Nenhum comentário:
Postar um comentário