Antonio
Carlos Egypto
OLHO NU.
Brasil, 2013. Direção: Joel Pizzini.
Com Ney Matogrosso.
Documentário. 101 min.
Ney Matogrosso chega aos 70 anos de idade como
um dos maiores e mais importantes artistas brasileiros. Cantor de timbre e extensão de voz originais,
dançarino, ator, iluminador de palco, grande figura. Talento colocado a serviço da provocação, da
contestação, da diversidade e da resistência à tirania. Sem se vincular a grupos ou tendências artísticas
ou políticas, Ney marcou presença constante e relevante na cena brasileira das
últimas quatro décadas.
Natural que essa vida e obra mereçam um filme
para lembrá-las, celebrá-las, deixar registro para a história. Esse registro está feito: é o documentário
“Olho Nu”, dirigido por Joel Pizzini. O
filme mostra as diversas facetas e performances de Ney Matogrosso ao longo do
tempo, desde o conjunto “Secos e Molhados” até interpretações mais sóbrias de
clássicos da música popular brasileira.
O material de que se valeu o diretor é
vastíssimo, já que garimpado do arquivo pessoal do cantor, pelo jeito uma
pessoa organizada e com percepção real do valor do seu trabalho. Está tudo lá, de um modo ou de outro. Sem pretensões didáticas, mas sem deixar nada
de lado. Ou seja, tendo muito presente o
sentido amplo e simbólico do trabalho do artista.
Estão lá a libido exposta de Ney nos palcos, a
clareza do enfrentamento da censura e da ditadura, pela fantasia, pela festa,
pelo deboche. E a opção pelo caminho
multifacetado, aberta pelo chamado movimento tropicalista, incluindo o resgate
da rica música brasileira que precedeu a bossa nova, sem esquecer essa última.
Diversas declarações de Ney ao longo do filme
exibem um artista maduro, consciente e que dialoga com seu tempo, enquanto o
reflete e procura fazer avançar. Um
artista e um homem livres, tanto quanto isso é possível, especialmente se
considerarmos os anos de chumbo vividos por ele, no exercício de seu fazer
artístico.
“Olho Nu” tem um olhar vivo, ativo,
inteligente, que faz jus ao protagonista que retrata e ao que ele
simboliza. Tem ainda a vantagem de ser
eminentemente musical. Ney canta e se
exibe o tempo todo, em seus mais diversos momentos da carreira. Pouco fala, mas quando fala o que aparece é
relevante, esclarecedor. Ou provocador,
como sempre foi a sua obra.
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