quinta-feira, 15 de maio de 2014

PRAIA DO FUTURO

Antonio Carlos Egypto



  
PRAIA DO FUTURO.  Brasil, 2013.  Direção: Karim Aïnouz.  Com Wagner Moura, Clemens Schick, Jesuíta Barbosa.  106 min.



Muita luminosidade.  Sol.  Água.  Estamos na Praia do Futuro, em Fortaleza.  Bela e perigosa.  Um salva-vidas, Donato (Wagner Moura), tenta em vão evitar o afogamento de um banhista.  A cena que abre o filme e mostra essa luta no mar, entre a vida e a morte, nos indica que muita tensão e muita dor podem vir por aí.

Virá, também, uma história de amor homossexual, que nos remeterá da ensolarada Praia do Futuro para o colorido acinzentado de Berlim no inverno.  E conhecemos Konrad (Clemens Schick), piloto alemão, objeto de amor do brasileiro Donato.



Há mais.  Em busca não só do amor, mas do risco, da aventura e da liberdade, Donato abandona sua família, deixa para trás o irmão menor, que tinha nele um ídolo: Ayrton (Jesuíta Barbosa).  E que, mais crescido, vai cobrar a fatura do abandono que teve de amargar.

Gente que ama.  Gente que perde.  Gente que se aventura.  Gente que cobra.  Gente que se enraivece.  Frustrações, decepções, surpresas, arrependimento.  É de tudo isso que se trata.  O novo filme do conceituado diretor Karim Aïnouz é um trabalho autoral, que penetra nos sentimentos mais fortes e nas relações mais intensas.  Valendo-se de uma câmera que invade e escancara a intimidade.  Também dos corpos, mas principalmente das emoções.  Com interpretações viscerais de atores que nem sempre falam a mesma língua (é uma coprodução brasileira-alemã) ou que juntam muita experiência com o vigor da juventude em que a experiência começa a aflorar.  Com muito ensaio, o resultado sai muito bom.



De Wagner Moura nem é preciso dizer, é um dos grandes atores da atualidade brasileira.  No cinema, ficou famoso como o Capitão Nascimento, de “Tropa de Elite 1 e 2”, pelo menos para o grande público.  Na verdade, é um ator versátil, que dá credibilidade a qualquer papel: aqui, como salva-vidas e gay, ele, mais uma vez, brilha.  Até quando emite algumas falas decoradas em alemão, ele é capaz de convencer.

O mesmo se dá com Clemens Schick, que atuou com um elenco brasileiro sem falar português.  Mas teve poucas falas decoradas aproveitadas.  O filme tem pouco diálogo, é muito visual.  Ficou com ainda menos diálogos porque nem sempre as falas decoradas passaram pelo crivo do diretor.  Melhor assim: é um cinema que mostra, não fica explicando.



Jesuíta Barbosa, que faz o irmão menor do protagonista, é um ator muito talentoso.  Já havia demonstrado isso em “Tatuagem”, de Hilton Lacerda, de 2013.  Tem lugar garantido na nova geração de atores brasileiros que começa a se destacar.

É mais um filme brasileiro que ousa sair do que o chamado “mercado” possa esperar.  Que está mais interessado em cutucar vespeiros emocionais, refletir sobre caminhos e escolhas e que não se satisfaz em oferecer o conhecido, o já assimilado, o que vende.  Busca expressar o que lhe parece importante e relevante.  É por aí mesmo.


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