sábado, 10 de maio de 2014

LONGWAVE - NAS ONDAS DA REVOLUÇÃO

Antonio Carlos Egypto





LONGWAVE – NAS ONDAS DA REVOLUÇÃO (Les Grandes Ondes [À L’Ouest]).  Suíça, Portugal, França, 2013.  Direção: Lionel Baier.  Com Valérie Donzelli, Michel Vuilermoz, Patrick Lapp, Francisco Belard, Jéan-Stéphane Bron.  85 min.



O Festival Internacional da Francofonia tem trazido a produção artística em língua francesa, para melhor difusão em nosso país.  E filmes não só da França, mas da Bélgica, do Canadá (de Québec) e da Suíça têm sido exibidos.  Alguns chegam ao circuito comercial dos cinemas em seguida.  Esse é o caso da produção suíça (em coprodução com  França e Portugal), que está sendo lançada com o título de “Longwave – Nas Ondas da Revolução”.

No filme, vemos o interesse de uma rádio suíça em mostrar os investimentos de seu país que contribuem para o bem-estar de outros povos, como seria o caso de Portugal.  É preciso cobrir a ajuda que recebem da Suíça e dar divulgação a isso, para agradar os patrocinadores.  É o tal do jornalismo chapa-branca, que, justamente por essa característica, é mais do que desinteressante, é claramente tedioso.  Mas, se a missão é essa, vamos reunir uma pequena equipe de jornalistas, encontrar um intérprete e ver, in loco, em que resultaram alguns dos investimentos suíços em Portugal, a bordo de uma kombi. 



As descobertas que vão aparecendo são um verdadeiro vexame.  Para citar só uma delas: uma escola em Portugal recebeu, como apoio educacional suíço,  um relógio e uma pequena verba para sua manutenção.  O que seria até dispensável, já que os relógios suíços são os melhores do mundo, não é mesmo?  O relógio, naturalmente, estampa, entre o rodar dos ponteiros, a contribuição da Suíça para a educação.

Já estava na hora de desistir de tal lamentável cobertura jornalística e voltar à Suíça, quando o grupo de jornalistas, em plena 25 de abril de 1974, é envolvido por um evento extraordinário, que não estava no programa: a Revolução dos Cravos, que pôs fim à longa ditadura portuguesa, em forma de festa e com intensa participação popular nas ruas.  Com direito a canhões empunhando cravos.  O que seria um evento jornalístico sem propósito resulta numa reportagem inédita, espetacular, histórica.  E que envolve cada um dos responsáveis pela tal missão de modo absoluto e permanente.  Como é incrível estar no lugar certo e na hora certa, com o equipamento necessário.  Nem que isso tenha se dado por mero acaso e completo desconhecimento do que estava por vir.



O tom de comédia é muito apropriado para contar essa história e o estilo crítico que perpassa toda a ação não faz apenas rir.  Denuncia pela chacota um certo tipo de jornalismo, assim como os tais investimentos, em contraste com algo pulsante e real: uma revolução popular.

A equipe de cobertura rádiojornalística e os tipos que com ela convivem caracterizam uma comédia que tem excessos e clichês, além de situações absurdas, em busca de fazer rir.  Funciona, até certo ponto.  Mas, mais do que as piadas ou a performance cômica do elenco, é o viés crítico de gozação o que o filme tem de melhor.


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