Antonio Carlos Egypto
ZIMBA, dirigido por Joel Pizzini, é um
documentário nacional que resgata o trabalho importantíssimo para o teatro
brasileiro do polonês Zbigniew Ziembinski (1908-1978). Ele aportou por aqui nos anos 1940, adotou o
país e foi adotado pelo Brasil. Ficou
aqui até morrer e transformou o nosso teatro.
Na verdade, criou o teatro moderno brasileiro contando com sua bagagem
europeia, já então muito rica e variada, como ator e encenador.
Dirigiu peças que marcaram a história
teatral do país, montagens de tal modo inovadoras, em todos os aspectos, que
nunca deixarão de ser citadas e lembradas.
É o caso de “O Vestido de Noiva”, de Nelson Rodrigues, em 1943,
remontada por ele nos anos 1970. Foi
Ziembinski quem transformou Nelson Rodrigues em escritor teatral, a partir do
reconhecimento da importância do texto, da sintaxe e da representatividade
cultural do autor de “A Vida Como Ela É”, coluna jornalístico/literária famosa.
Zimba teve atuação fundamental em
grupos como “Os Comediantes”, no Teatro Brasileiro de Comédia, o TBC, na
companhia cinematográfica Vera Cruz, no teatro exibido pela TV, na formação de
atores e atrizes que se destacaram e se tornaram nomes de primeira grandeza do
teatro brasileiro.
O filme ZIMBA faz uma seleção e uma
colagem a partir de um vasto material sobre Ziembinski em uma montagem
sofisticada. Revela a figura e sua obra,
ao longo do tempo, indo e vindo, sem nunca perder o fio da meada nem o foco na
arte, que é o que importa. Não se
preocupa com didatismo, mas consegue explicar tudo muito bem para quem não
saiba de quem se trata. A personalidade
de Zimba e seus métodos de trabalho estão lá por inteiro. Os sentimentos que ele sempre despertou nos
outros, sua capacidade criativa e revolucionária, a importância cultural que
ele legou ao seu país de adoção. Tudo
isso num ritmo ágil e envolvente, contando com a narração de Nathalia Timberg,
Camilla Amado e Nicette Bruno. Um
registro indispensável para o teatro e a cultura brasileiros que o documentário
realiza com grande competência em apenas 78 minutos.
ALVORADA, dirigido por Anna Muylaert e Lô
Politi, 90 min, nos remete a um período traumático da história política
brasileira recente, o impeachment de
Dilma Rousseff.
A equipe de filmagem acompanhou o que
acontecia no Palácio da Alvorada, residência oficial da presidência, após a
admissibilidade do impedimento ter sido aprovada na Câmara dos Deputados. Acho que todos se lembram daquela sessão em
que os parlamentares votavam citando seus familiares, suas cidades de origem ou
destilando ódio, como aquele voto em homenagem ao torturador Brilhante
Ustra. Foi vergonhoso, repercutiu mal no
exterior, mas estava feito. Agora era
esperar a sessão do Senado, presidida pelo STF, em que Dilma voltaria a se
defender. A rigor, não existiam mais
esperanças. O governo tinha acabado. A
presidente estava afastada. Michel
Temer, o vice, assumira interinamente a presidência.
O que se vê no filme é o que se passa
nesse período de espera e preparo da defesa final. Dilma conversa calmamente com a equipe, fala
de suas ideias, leituras, comenta coisas cotidianas, com evidente equilíbrio,
num momento penoso para ela. Ao
contrário do que se chegou a aventar na imprensa, nenhum descontrole ou
desespero. Uma mulher no seu eixo. E botando limites à filmagem, preservando sua
intimidade e algumas discussões políticas que deveriam ser reservadas. E ainda recebendo apoios de organizações
populares.
Por que rever essa filmagem agora?
Para nos lembrar da democracia em risco, que se rompeu a partir daí? Talvez.
Mas o clima é nostálgico, triste, melancólico. Algo estava se perdendo ali. E não era pouca coisa.
www.etudoverdade.com.br
Nenhum comentário:
Postar um comentário