sexta-feira, 9 de abril de 2021

DOCS. ESTADUNIDENSES

Antonio Carlos Egypto

 

É exasperante ver como nos dias de hoje grupos de pessoas criam as notícias que desejam, numa realidade paralela, e se utilizam dos recursos tecnológicos da Internet, das redes sociais, para desinformar e passar goela abaixo suas crenças.  E tantas pessoas as aceitam como fatos, ou verdades.  É um jogo de poder cruel, em que, via de regra, o irracionalismo vence o equilíbrio racional, o negacionismo e a ignorância se impõem à ciência, a barbárie sufoca o comportamento respeitoso e civilizado, o retrocesso barra o avanço.

O pior é que não é só aqui, no Brasil, que isso está acontecendo.  É em várias partes do mundo, como podemos constatar vendo dois documentários estadunidenses que estão sendo apresentados no festival É TUDO VERDADE 2021


Sob Total Controle
 

SOB TOTAL CONTROLE (Totally Under Control), dirigido por Alex Gibney, Ophelia Harutyunyan e Suzanne Hillinger, 123 minutos, trata do governo Donald Trump na pandemia.  Focaliza, principalmente, os primeiros meses do fracasso, ao que parece, calculado, intencional, mas também fruto de incompetência de gestão, na abordagem do covid-19, nos Estados Unidos de Trump.

 

O título do filme é a expressão do negacionismo do presidente: tudo sob total controle, quando a derrocada já estava visível, para quem quisesse enxergar.  E tome fake news, mentiras a rodo, não fazer nada bem feito e botar a culpa toda nos outros.  Principalmente, na imprensa e no governo chinês.  E tomar decisões que visavam, antes de mais nada, a tentar preparar o colchão para a reeleição que estava no horizonte.  Não é ridículo ver como, por aqui, se copia o que há de pior, com os mesmos métodos?

 

Conhecemos no que deu tudo isso por lá.  500 mil mortos, a invasão do Capitólio, estimulada por Trump por uma suposta fraude eleitoral, jamais comprovada, porque fantasiosa e pré-planejada.  Teve como consequência a derrota de Donald Trump e, felizmente, a retomada da política, em termos sérios e dignos por Joe Biden.  Teremos a mesma sorte?

 

Deixo essa pergunta no ar, porque outro documentário norte-americano nos mostra o que pode ser ainda pior, por incrível que pareça.


Mil Cortes
 

MIL CORTES  (A Thousand Cuts), dirigido por Ramone S. Diaz, 98 minutos, trata do governo das Filipinas de Rodrigo Duterte e da jornalista mais conhecida do país, Maria Ressa que, por combater o escandaloso uso das fake news, da manipulação de informações, acabou sentenciada e condenada, por “difamação cibernética”.  Ela, nascida em Manilla, mas de família de origem estadunidense, tinha um veículo independente e combativo, o rappler, que foi perseguido e chegava a ser citado nominalmente pelo presidente.  Antes, ela havia trabalhado na rede CNN.  Quando viajava, por sua atuação jornalística, frequentemente do aeroporto já ia para a prisão.

 

Jornalismo por lá é algo a ser eliminado, em tempos de Duterte.  A democracia já está naufragando mais do que o Titanic, mas a única política é uma delirante guerra às drogas.  Delirante, mas destruidora, e de um autoritarismo sem precedentes.

 

O filme mostra o presidente dizendo repetidamente que quem usar drogas ilícitas vai ser morto.  Não é só uma ameaça, está acontecendo e em larga escala, com cadáveres abandonados nas ruas.

 

Ao focalizar uma eleição legislativa em curso, o documentário mostra um candidato a senador que confessa que já matou alguns e mataria, sem dúvida, pelo presidente, drogados e traficantes. Foi o mais votado no pleito. Há quem aplauda a “limpeza” que essa política supostamente produziria, trazendo segurança às ruas.  Aliás, esse tal candidato pedia aplausos na campanha, apontando para os que não aplaudiram como sendo aqueles que se drogam.  Já chega, não é?

www.etudoverdade.com.br

 

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