Antonio Carlos Egypto
É exasperante ver como nos dias de
hoje grupos de pessoas criam as notícias que desejam, numa realidade paralela,
e se utilizam dos recursos tecnológicos da Internet, das redes sociais, para
desinformar e passar goela abaixo suas crenças.
E tantas pessoas as aceitam como fatos, ou verdades. É um jogo de poder cruel, em que, via de
regra, o irracionalismo vence o equilíbrio racional, o negacionismo e a
ignorância se impõem à ciência, a barbárie sufoca o comportamento respeitoso e
civilizado, o retrocesso barra o avanço.
O pior é que não é só aqui, no Brasil, que isso está acontecendo. É em várias partes do mundo, como podemos constatar vendo dois documentários estadunidenses que estão sendo apresentados no festival É TUDO VERDADE 2021
Sob Total Controle |
SOB
TOTAL CONTROLE (Totally Under Control), dirigido por
Alex Gibney, Ophelia Harutyunyan e Suzanne Hillinger, 123 minutos, trata do
governo Donald Trump na pandemia. Focaliza, principalmente, os primeiros meses
do fracasso, ao que parece, calculado, intencional, mas também fruto de
incompetência de gestão, na abordagem do covid-19, nos Estados Unidos de Trump.
O título do filme é a expressão do
negacionismo do presidente: tudo sob total controle, quando a derrocada já
estava visível, para quem quisesse enxergar.
E tome fake news, mentiras a
rodo, não fazer nada bem feito e botar a culpa toda nos outros. Principalmente, na imprensa e no governo
chinês. E tomar decisões que visavam,
antes de mais nada, a tentar preparar o colchão para a reeleição que estava no
horizonte. Não é ridículo ver como, por
aqui, se copia o que há de pior, com os mesmos métodos?
Conhecemos no que deu tudo isso por
lá. 500 mil mortos, a invasão do
Capitólio, estimulada por Trump por uma suposta fraude eleitoral, jamais
comprovada, porque fantasiosa e pré-planejada.
Teve como consequência a derrota de Donald Trump e, felizmente, a
retomada da política, em termos sérios e dignos por Joe Biden. Teremos a mesma sorte?
Deixo essa pergunta no ar, porque
outro documentário norte-americano nos mostra o que pode ser ainda pior, por
incrível que pareça.
Mil Cortes |
MIL
CORTES (A
Thousand Cuts), dirigido por Ramone S. Diaz, 98 minutos, trata do governo
das Filipinas de Rodrigo Duterte e da jornalista mais conhecida do país, Maria
Ressa que, por combater o escandaloso uso das fake news, da manipulação de informações, acabou sentenciada e
condenada, por “difamação cibernética”.
Ela, nascida em Manilla, mas de família de origem estadunidense, tinha
um veículo independente e combativo, o rappler,
que foi perseguido e chegava a ser citado nominalmente pelo presidente. Antes, ela havia trabalhado na rede CNN. Quando viajava, por sua atuação jornalística,
frequentemente do aeroporto já ia para a prisão.
Jornalismo por lá é algo a ser eliminado,
em tempos de Duterte. A democracia já
está naufragando mais do que o Titanic, mas a única política é uma delirante
guerra às drogas. Delirante, mas
destruidora, e de um autoritarismo sem precedentes.
O filme mostra o presidente dizendo
repetidamente que quem usar drogas ilícitas vai ser morto. Não é só uma ameaça, está acontecendo e em
larga escala, com cadáveres abandonados nas ruas.
Ao
focalizar uma eleição legislativa em curso, o documentário mostra um candidato
a senador que confessa que já matou alguns e mataria, sem dúvida, pelo
presidente, drogados e traficantes. Foi o mais votado no pleito. Há quem
aplauda a “limpeza” que essa política supostamente produziria, trazendo
segurança às ruas. Aliás, esse tal
candidato pedia aplausos na campanha, apontando para os que não aplaudiram como
sendo aqueles que se drogam. Já chega,
não é?
Nenhum comentário:
Postar um comentário