terça-feira, 4 de outubro de 2016

NO FIM DO TÚNEL


Antonio Carlos Egypto




NO FIM DO TÚNEL (Al Final del Túnel).  Argentina, 2015.  Direção e roteiro: Rodrigo Grande.  Com Leonardo Sbaraglia, Clara Lago, Pablo Echarri, Federico Luppi, Uma Salduende.  120 min.


O cinema argentino, já há algum tempo, mostra força e boa comunicação com o público brasileiro.  Tem uma produção diversificada, que vai do cinema de gênero a filmes-cabeça, com maiores pretensões artísticas e que visam a estimular a reflexão. Tem também comédias para consumo fácil.  Geralmente com tramas bem urdidas, reveladoras da qualidade dos roteiros, talvez o ponto forte do cinema dos hermanos.

“No Fim do Túnel” é um desses exemplos do bom cinema de gênero.  É um thriller que nos mantém em tensão permanente, nas suas duas horas de projeção. Mas não joga areia nos nossos olhos, não.  Mantém um clima de suspense constante, em função do que vai ou do que pode acontecer, mesmo nos instantes de calmaria aparente.  É um filme empolgante naquilo a que se propõe.

Os elementos que compõem a narrativa não chegam a ser originais.  Um quarto numa casa é alugado, enquanto um grupo de bandidos constrói um túnel para realizar um grande roubo no banco, passando por baixo da casa sem despertar suspeitas.  O morador e dono da casa é um cadeirante com uma vida solitária, porém, com talento especial para lidar com elementos tecnológicos, como aparelhos de som e equipamentos de escuta e gravação.  Condição necessária para que ele possa intervir no plano dos bandidos.




Sua condição de vida, porém, também é mexida pela personagem que aluga o tal quarto: uma mulher jovem, que trabalha como stripper, e sua filhinha, que aparentemente não consegue mais falar.  Os destinos que se cruzarão não serão apenas o do herói-cadeirante e o dos bandidos, mas o dele e o delas.  A trama se sofistica e produz um interesse extra.

A condição de herói-cadeirante que tem Joaquín (Leonardo Sbaraglia) mostra a ideia de que uma deficiência física não é capaz de limitar a ação inteligente, brilhante, de um personagem como ele.  E produz sequências de tirar o fôlego, visualmente requintadas, ao longo da trama.  Como é possível enfrentar as situações, movendo-se numa cadeira de rodas, até entrando, andando e saindo de um túnel em construção, por exemplo?  Com malfeitores ao lado e lutando contra o tempo.  Ufa!

Leonardo Sbaraglia, bastante conhecido por seu papel em “Relatos Selvagens”, está também em “O Silêncio do Céu”, em cartaz nos cinemas e objeto de postagem crítica recente no cinema com recheio.  A cada filme ele reafirma seu grande talento como ator.  Nesse, exigindo uma perícia em cenas com cadeira de rodas e sem poder movimentar as pernas, o que é notável.




Outro grande ator argentino, que é o veterano Federico Luppi, está em “No Fim do Túnel”, num papel menor, o de um policial que atua no mundo do crime (outra questão interessante de ser mostrada).  É sempre bom vê-lo em cena.

Clara Lago faz a stripper Berta, que convive com Joaquín na casa, e Pablo Echarri é o ladrão Galereto, que comanda a turma no túnel.  São muito bons seus trabalhos, assim como o da menina que faz Betty, Uma Salduende, com seu comportamento estranho e limitado em cena.


O jovem diretor Rodrigo Grande, que é também roteirista, faz um excelente trabalho, realizando um filme envolvente, tenso, instigante, e com uma trama recheada de elementos que acrescentam coisas importantes à história central e a tornam muito mais interessante, sem perder o foco.



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